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Estado de Minas PANDEMIA

COVID-19: Percentual de mortos sem fator de risco cresce no Amazonas

Superlotação de hospital seria uma das causas para aumento da mortalidade causada pelo novo coronavírus entre pessoas sem comorbidade


01/02/2021 13:00 - atualizado 01/02/2021 14:48

Colapso no sistema de saúde do Amazonas levou à elevação no número de mortes(foto: MARCIO JAMES/AFP)
Colapso no sistema de saúde do Amazonas levou à elevação no número de mortes (foto: MARCIO JAMES/AFP)
Com o colapso no sistema de saúde do Amazonas e a circulação de uma nova variante do novo coronavírus potencialmente mais transmissível na região, o porcentual de mortos por COVID-19 que não tinham nenhum fator de risco dobrou no estado em janeiro – já representa 20% de todas as vítimas da doença no mês.

Os números foram tabulados pelo Estadão a partir da base de dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) do Ministério da Saúde, cuja versão mais atualizada traz estatísticas até 25 de janeiro.

A análise, que considerou óbitos por COVID-19 por data de ocorrência, aponta que, dos 1.664 mortos pela doença no Amazonas em janeiro já inseridos no sistema, 331 deles tinham menos de 60 anos e não sofriam de doenças crônicas.

O número equivale a 19,9% do total de vítimas do mês e ao dobro do índice médio de 2020.

Em todo o ano passado, foram 5.303 vítimas da COVID-19 no Amazonas, das quais 491 (ou 9,2%) não eram idosas nem possuíam comorbidades.

Se comparado ao perfil das vítimas de todo o Brasil, o aumento do índice de mortos sem fatores de risco no Amazonas fica ainda mais evidente.

Do total de mortos no país desde o início da pandemia, somente 7,3% deles não eram idosos nem tinham doenças crônicas. Considerando só os dados de janeiro, a taxa de mortos com esse perfil foi de 7,4%.

Vítimas jovens e saudáveis

"A gente vem percebendo esse fenômeno desde meados de dezembro. Hoje, por exemplo, quase todos os meus 14 pacientes da sala de emergência têm entre 40 e 50 anos. Só tem um idoso e outro com hipertensão. Os demais não têm comorbidades", relatou na semana passada uma médica do Hospital Delphina Aziz, uma das unidades de referência para COVID-19 em Manaus. Ela não quis ter seu nome divulgado.

Para especialistas, a principal explicação para o aumento de vítimas mais jovens e saudáveis é o colapso do sistema de saúde amazonense.

Eles destacam, no entanto, que se deve considerar um possível impacto da nova variante que circula no estado. A cepa vem sendo estudada com o objetivo de avaliar se ela é mais transmissível e letal.

"O principal motivo é a superlotação dos hospitais. Quando você não tem capacidade para internar mais pessoas, acaba recebendo os pacientes só quando eles estão com um quadro mais grave, com o pulmão mais comprometido. Não dá para descartar também um eventual papel da variante P.1. Já estamos quase certos de que ela é mais transmissível, mas ainda precisamos de mais análises genômicas e epidemiológicas para saber se ela é mais letal", disse Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz Amazônia.

Os especialistas destacam o desabastecimento de oxigênio como um dos principais fatores que aumentaram o número de mortes entre pessoas mais jovens e saudáveis.

"A ventilação e o suporte com oxigênio servem para dar um tempo para o pulmão se recuperar. Ela te mantém vivo enquanto seu organismo combate a doença. Se tem algo que interrompe isso, a consequência é desastrosa. Pode até ter gente que morreu durante o colapso que estava muito grave e morreria de qualquer forma mais tarde. Mas certamente, nesse grupo de vítimas, havia pessoas que, se tivessem tido mais tempo no ventilador, iriam se recuperar. Essa situação ceifou delas essa chance", afirmou o intensivista Ederlon Rezende, integrante do conselho consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) e coordenador do projeto UTIs brasileiras.

Colapso

A rede de saúde do Amazonas sofre com a falta de leitos, pessoal e insumos. Em 14 de janeiro, o estoque de oxigênio acabou em vários hospitais de Manaus, provocando a morte de pacientes que estavam em ventilação mecânica.

Mesmo com o envio de remessas do produto pelo governo federal e doações de anônimos e famosos, a demanda ainda está acima da capacidade produtiva da empresa fornecedora e a fila de espera por leitos também é grande.

De acordo com o último boletim da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, divulgado ontem, 611 pessoas com COVID-19 aguardavam por um leito nos hospitais do Estado.

A Secretaria da Saúde do Amazonas já transferiu mais de 300 pacientes para outros estados. Ontem, o ministério afirmou que enviará mais 90 mil metros cúbicos de oxigênio para o Amazonas nesta semana.

O volume, porém, é suficiente somente para um dia de operação dos hospitais da capital.

Falta de comando

O Estadão entrevistou Jesem Orellana, epidemiologista Fiocruz Amazônia. Segundo ele, "o que falta no Brasil é um maestro". Confira a seguir:

Após o colapso da falta de oxigênio, qual é a situação atual dos hospitais do Amazonas?

Por mais que a questão do oxigênio tenha se estabilizado em alguns hospitais, a situação continua muito grave. Os hospitais estão lotados, as pessoas estão morrendo em casa. Talvez daqui a umas duas ou três semanas, a gente tenha uma queda de internações por causa da quarentena decretada na semana do colapso pelo governo do Estado, mas o que estamos vivendo agora é reflexo das infecções que ocorreram no período de Natal e ano-novo. Por isso, o cenário ainda é preocupante.

Qual é o impacto da nova variante sobre a recente onda de casos no Amazonas?

A gente está quase certo de que essa cepa é mais contagiosa, mas precisamos de estudos mais complexos para nos fornecer informações seguras sobre isso e sobre a letalidade. Isso deve ocorrer só em dois ou três meses.

Outros Estados deveriam decretar uma quarentena mais rígida agora, mesmo sem a confirmação da circulação da nova cepa em seus territórios?

Com certeza. A situação que temos agora já justifica um lockdown, mas é preciso coordenação nacional e medidas de auxílio a autônomos e pequenos empresários para que eles não morram de fome. Se não tiver isso, não adianta fazer lockdown porque a população não vai aderir. O Pará, por exemplo, decretou lockdown, mas Rondônia, vizinho do Amazonas e que está à beira do colapso, não fez o mesmo. O que falta no Brasil é um maestro. Não temos um Ministério da Saúde coordenando. É como ter um time de futebol sem técnico.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O que é o coronavírus

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.


transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.


A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia
  • Em casos graves, as vítimas apresentam:
  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
  • Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.


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