Jornal Estado de Minas

AFIRMAÇÕES FALSAS

'Ministério não faz protocolo para medicamento', diz Pazuello. É mentira

“O Ministério da Saúde não faz protocolo para uso de medicamentos”. Foi assim que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, respondeu após ser cobrado pelo “tratamento precoce” contra a COVID-19, durante audiência no Senado Federal nesta quinta-feira (11/02). No entanto, a afirmação de Pazuello é falsa, uma vez que a pasta orientou o uso de medicamentos sem comprovação científica contra o coronavírus.





Eduardo Pazuello passou a liderar o Ministério da Saúde após as saídas de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, antecessores que foram contra a pressão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para recomendar medicamentos sem comprovação científica para todo o tipo de paciente com COVID-19. Logo nos primeiros dias como interino na pasta, Pazuello, em maio do ano passado, liberou o protocolo que autorizava o uso da cloroquina para casos leves de coronavírus.

Antes do protocolo liberado por Pazuello, o uso da cloroquina, por exemplo, era autorizado apenas para pacientes com casos graves de COVID-19. O medicamento era fornecido apenas como complemento a outros métodos utilizados no tratamento de pessoas com coronavírus, como assistência ventilatória, que nada mais é que o uso dos respiradores.

Com o novo protocolo, casos leves de coronavírus passaram a poder ser enfrentados com a cloroquina, mediante assinatura de um termo de consentimento por parte do paciente. O documento, no entanto, ressaltou que não havia garantia de resultados positivos e que não existia estudos que comprovassem a eficácia do medicamento.





O documento, intitulado como "orientações do Ministério da Saúde para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da COVID-19" passou por algumas alterações de maio para cá, como a troca do título de “tratamento” para “manuseio”, mudança na recomendação da forma de cloroquina e em qual quantidade ela poderia ser administrada, entre outros. 

Crise em Manaus por falta de “tratamento precoce”


Já em 14 de janeiro deste ano, Pazuello, ao lado de Bolsonaro numa transmissão ao vivo que o presidente organizou na internet, admitiu que havia um colapso na saúde de Manaus, uma vez que a cidade sofria com a falta de oxigênio. Entre as causas para o aumento da procura a unidades de saúde e de demanda pelo gás, de acordo com o ministro, estava a “falta de atenção da capital ao tratamento precoce”, com medicamentos sem comprovação científica, como a hidroxicloroquina.

“Manaus não teve a efetiva ação no tratamento precoce durante o diagnóstico clínico no atendimento básico. Isso impacta a gravidade da doença. Por outro lado, a infraestrutura hospitalar de atendimento especializado é bastante reduzida em Manaus em termos de percentual, é um dos menores percentuais do país. Se você juntar esses dois fatores e colocar o clima, você vai ter uma grande procura por estrutura e por tratamento especializado”, disse Pazuello.





Postagem “enganosa” do Ministério da Saúde


Em 12 de janeiro, o Ministério da Saúde publicou uma arte na qual orientava a população a procurar um centro médico de forma imediata ao sentir os sintomas da COVID-19, procedimento chamado de “atendimento precoce”. No entanto, a mensagem acompanhada da imagem já dava outro tipo de “conselho” aos pacientes: solicitar o “tratamento precoce”.

“Para combater a COVID-19, a orientação é não esperar. Quanto mais cedo começar o tratamento, maiores as chances de recuperação. Então, fique atento! Ao apresentar sintomas da Covid-19, #NãoEspere, procure uma Unidade de Saúde e solicite o tratamento precoce”, publicou.

O Twitter classificou a publicação do Ministério da Saúde como “informação enganosa e potencialmente prejudicial relacionada à COVID-19”. Apesar do alerta, a postagem continuou visível ao público.





Na audiência no Senado nesta quinta-feira, Eduardo Pazuello disse que o Ministério da Saúde orienta apenas o atendimento precoce. A medicação, segundo o ministro, fica por conta dos especialistas.

“O Ministério da Saúde não faz protocolo para uso de medicamentos. Não faz. O Ministério da Saúde quando orienta, nós orientamos o atendimento imediato ou atendimento precoce. É atendimento. É o médico que faz o diagnóstico e ele, sim, prescreve os medicamentos e define o tratamento”, destacou.

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