Relaxamento seguido de controle rígido, avanço da vacinação ou até redução no número de testes. Por motivos diferentes, de acordo com especialistas, em diversas nações, os números médios de novos casos de COVID-19 adicionados às estatísticas estão cada vez menores. Gráficos de países como Estados Unidos, Espanha, Itália, Portugal, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, Rússia, Argentina, Colômbia, Índia e Israel apontam queda no ritmo de infecções confirmadas.
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A queda drástica no número de casos de COVID-19 na Índia, por exemplo, chegou a espantar especialistas nos últimos dias. Quando a pandemia começou a se espalhar, houve temores de que o frágil sistema de saúde do segundo país mais populoso do mundo afundasse. As infecções aumentaram durante meses até o ponto no qual a Índia parecia prestes a ultrapassar os Estados Unidos, país com maior número de casos da doença. Mas o número começou a despencar em setembro, e agora a Índia, que registrou pico de quase 100 mil casos diários, reporta cerca de 11 mil infecções a cada 24 horas.
Outro ponto marcante, é a queda dos registros de COVID-19 nos Estados Unidos, que chegou a declinar 19%. A média móvel de sete dias de novos casos é agora de 77,6 mil – abaixo do pico de cerca de 250 mil por dia no início de janeiro, de acordo com a Universidade Johns Hopkins. No domingo (14/2), 67.023 pessoas foram hospitalizadas com COVID-19 – cerca de metade do recorde de 132.447 estabelecido em 6 de janeiro, de acordo com o Projeto de Rastreamento COVID-19.
Segundo a médica infectologista e mestre em saúde pública Luana Araújo, a queda dos números em todo o planeta tem razões diferentes. Ela explica que não é possível comparar os países, já que cada um apresenta estágios diferentes da doença. “Não podemos falar de todos os países utilizando o mesmo critério. Eles têm reações epidemiológicas muito distintas que podem justificar a redução de casos”, explica. A queda nos Estados Unidos, por exemplo, está ligada à diminuição de testagem durante o ano de 2021. Já em Portugal, a redução tem a ver com as medidas de isolamento social introduzidas no país, depois de enfrentar um cenário de descontrole da pandemia em janeiro.
O país europeu ficou no topo do ranking mundial de novos casos e mortes por um milhão de habitantes. Com cerca de 10 milhões de habitantes, o país, que chegou a um recorde de 16.432 novas infecções em 28 daquele mês, viu o número cair para pouco mais de 2,5 mil 12 dias depois, em 9 de fevereiro. A média semanal de infecções recuou mais de 50% em comparação ao fim de janeiro. Apesar disso, segundo o governo, o resultado ainda é considerado frágil, e o confinamento deve durar até meados de março.
Luana explica, que no caso de Portugal, a redução de casos está ligada diretamente ao isolamento. “O país enfrentou uma situação desesperadora, que exigia medidas drásticas para conter a contaminação. Nesse caso, a gente pode observar que essa queda deve estar ligada a essa rigidez”, explica.
A vacinação também mostra seus efeitos. Durante as últimas semanas, Israel se tornou um exemplo para o mundo pela rápida vacinação contra o coronavírus no país. A população local é a com maior índice de imunização por habitante. O país já conseguiu imunizar 80% dos grupos de risco e 71,19% da população total. “Nesse caso, a queda pode, sim, estar ligada à questão da vacinação. Com alta cobertura, diminuição viral e da pressão no sistema de saúde, houve queda em Israel tanto no número de casos quanto na mortalidade”, diz Luana.
E O BRASIL?
Mas por que os gráficos não mostram diminuição no Brasil? De acordo com Luana Araújo, entre os motivos está o relaxamento das medidas de isolamento social, o que gera uma circulação viral permanente. “Tivemos uma queda, mas com os encontros de fim de ano, foi possível ver uma explosão de casos e óbitos na metade de janeiro. E ainda há a circulação da cepa de Manaus, que é mais transmissível, já detectada em outros 13 países. Não temos no Brasil uma vigilância tão presente do sequenciamento desse vírus, por isso, não conseguimos saber onde já temos a presença dele. A vigilância é sofisticada e cara e não é feita em âmbito normal apenas em laboratório”, explica .
Exames já confirmaram a presença autóctone da variante em São Paulo. Na capital do Amazonas, a proporção de diagnósticos positivos para a nova variante saltou de 52% em dezembro para 85% em janeiro. Segundo a médica, já é esperado que a cepa seja mais transmissível, o que pode influenciar o aumento de casos no país.
Outro problema é a vacinação, que segue a passos lentos. Na quarta-feira (17/02), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, se comprometeu com um cronograma para entregar 230,7 milhões de doses de vacinas contra COVID-19, para 115,3 milhões de pessoas até julho. Segundo o ministro, as próximas entregas aos estados ocorrerão ainda este mês: serão 2 milhões de doses da AstraZeneca/Fiocruz, importadas da Índia, e 9,3 milhões da Sinovac/Butantan, produzidas no Brasil.
MORTES
Segundo os dados divulgados por cada nação e reunidos em plataforma do Google, o maior número de mortes por COVID-19 até a tarde desta quinta-feira (18/2) foi registrado nos Estados Unidos (490.326), seguido pelo Brasil Brasil (242.090), Índia (156.014), e Reino Unido (118. 933). No caso do Brasil, o Ministério da Saúde informou, à noite, que as mortes pela doença somam 243.457 e os casos, 10.030.626. E o país tem a pior média diária de óbitos do mundo, segundo comparativo do Consórcio da Imprensa divulgados no domingo (14/2): nos sete dias anteriores, a média foi de 1.105 óbitos.
Até sábado, a maior média para o período era de 1.097, registrada em 25 de julho de 2020. Segundo a comunidade científica, é melhor utilizar a média móvel dos óbitos para observar a tendência das estatísticas, por equilibrar as variações abruptas dos números ao longo da semana. Ontem, esse número estava em 1.030, um recuo de 2% em relação aos 14 dias anteriores, o que aponta estabilidade.
SEM CASOS
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 15 países não registraram nenhum caso de COVID-19 até agora. A maioria tem seu território em ilhas remotas, mais destacadamente na região do Pacífico. Entre eles, estão Tonga, Kiribati, Samoa, Micronésia, Tuvalu, Nauru, Niue e Ilhas Cook.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho