Na contramão, o Brasil segue com os números praticamente iguais de novos casos por dia, encara uma nova variante do coronavírus e ainda não dispõe de doses de vacina nem sequer para cobrir os grupos de maior risco para a doença. Nesta quinta-feira (18/02), o país ultrapassou a marca dos 10 milhões de casos.
A queda drástica no número de casos de COVID-19 na Índia, por exemplo, chegou a espantar especialistas nos últimos dias. Quando a pandemia começou a se espalhar, houve temores de que o frágil sistema de saúde do segundo país mais populoso do mundo afundasse. As infecções aumentaram durante meses até o ponto no qual a Índia parecia prestes a ultrapassar os Estados Unidos, país com maior número de casos da doença. Mas o número começou a despencar em setembro, e agora a Índia, que registrou pico de quase 100 mil casos diários, reporta cerca de 11 mil infecções a cada 24 horas.
Outro ponto marcante, é a queda dos registros de COVID-19 nos Estados Unidos, que chegou a declinar 19%. A média móvel de sete dias de novos casos é agora de 77,6 mil – abaixo do pico de cerca de 250 mil por dia no início de janeiro, de acordo com a Universidade Johns Hopkins. No domingo (14/2), 67.023 pessoas foram hospitalizadas com COVID-19 – cerca de metade do recorde de 132.447 estabelecido em 6 de janeiro, de acordo com o Projeto de Rastreamento COVID-19.
Segundo a médica infectologista e mestre em saúde pública Luana Araújo, a queda dos números em todo o planeta tem razões diferentes. Ela explica que não é possível comparar os países, já que cada um apresenta estágios diferentes da doença. “Não podemos falar de todos os países utilizando o mesmo critério. Eles têm reações epidemiológicas muito distintas que podem justificar a redução de casos”, explica. A queda nos Estados Unidos, por exemplo, está ligada à diminuição de testagem durante o ano de 2021. Já em Portugal, a redução tem a ver com as medidas de isolamento social introduzidas no país, depois de enfrentar um cenário de descontrole da pandemia em janeiro.
O país europeu ficou no topo do ranking mundial de novos casos e mortes por um milhão de habitantes. Com cerca de 10 milhões de habitantes, o país, que chegou a um recorde de 16.432 novas infecções em 28 daquele mês, viu o número cair para pouco mais de 2,5 mil 12 dias depois, em 9 de fevereiro. A média semanal de infecções recuou mais de 50% em comparação ao fim de janeiro. Apesar disso, segundo o governo, o resultado ainda é considerado frágil, e o confinamento deve durar até meados de março.
Luana explica, que no caso de Portugal, a redução de casos está ligada diretamente ao isolamento. “O país enfrentou uma situação desesperadora, que exigia medidas drásticas para conter a contaminação. Nesse caso, a gente pode observar que essa queda deve estar ligada a essa rigidez”, explica.
A vacinação também mostra seus efeitos. Durante as últimas semanas, Israel se tornou um exemplo para o mundo pela rápida vacinação contra o coronavírus no país. A população local é a com maior índice de imunização por habitante. O país já conseguiu imunizar 80% dos grupos de risco e 71,19% da população total. “Nesse caso, a queda pode, sim, estar ligada à questão da vacinação. Com alta cobertura, diminuição viral e da pressão no sistema de saúde, houve queda em Israel tanto no número de casos quanto na mortalidade”, diz Luana.
E O BRASIL?
Mas por que os gráficos não mostram diminuição no Brasil? De acordo com Luana Araújo, entre os motivos está o relaxamento das medidas de isolamento social, o que gera uma circulação viral permanente. “Tivemos uma queda, mas com os encontros de fim de ano, foi possível ver uma explosão de casos e óbitos na metade de janeiro. E ainda há a circulação da cepa de Manaus, que é mais transmissível, já detectada em outros 13 países. Não temos no Brasil uma vigilância tão presente do sequenciamento desse vírus, por isso, não conseguimos saber onde já temos a presença dele. A vigilância é sofisticada e cara e não é feita em âmbito normal apenas em laboratório”, explica .
Exames já confirmaram a presença autóctone da variante em São Paulo. Na capital do Amazonas, a proporção de diagnósticos positivos para a nova variante saltou de 52% em dezembro para 85% em janeiro. Segundo a médica, já é esperado que a cepa seja mais transmissível, o que pode influenciar o aumento de casos no país.
Outro problema é a vacinação, que segue a passos lentos. Na quarta-feira (17/02), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, se comprometeu com um cronograma para entregar 230,7 milhões de doses de vacinas contra COVID-19, para 115,3 milhões de pessoas até julho. Segundo o ministro, as próximas entregas aos estados ocorrerão ainda este mês: serão 2 milhões de doses da AstraZeneca/Fiocruz, importadas da Índia, e 9,3 milhões da Sinovac/Butantan, produzidas no Brasil.
MORTES
Segundo os dados divulgados por cada nação e reunidos em plataforma do Google, o maior número de mortes por COVID-19 até a tarde desta quinta-feira (18/2) foi registrado nos Estados Unidos (490.326), seguido pelo Brasil Brasil (242.090), Índia (156.014), e Reino Unido (118. 933). No caso do Brasil, o Ministério da Saúde informou, à noite, que as mortes pela doença somam 243.457 e os casos, 10.030.626. E o país tem a pior média diária de óbitos do mundo, segundo comparativo do Consórcio da Imprensa divulgados no domingo (14/2): nos sete dias anteriores, a média foi de 1.105 óbitos.
Até sábado, a maior média para o período era de 1.097, registrada em 25 de julho de 2020. Segundo a comunidade científica, é melhor utilizar a média móvel dos óbitos para observar a tendência das estatísticas, por equilibrar as variações abruptas dos números ao longo da semana. Ontem, esse número estava em 1.030, um recuo de 2% em relação aos 14 dias anteriores, o que aponta estabilidade.
SEM CASOS
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 15 países não registraram nenhum caso de COVID-19 até agora. A maioria tem seu território em ilhas remotas, mais destacadamente na região do Pacífico. Entre eles, estão Tonga, Kiribati, Samoa, Micronésia, Tuvalu, Nauru, Niue e Ilhas Cook.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho