Na próxima sexta-feira (26/2), o Brasil completa um ano desde seu primeiro caso confirmado de COVID-19: um empresário de 61 anos, que contraiu a doença em viagem à Itália, único epicentro da doença fora da China àquela época. Desde então, o país, que só foi atingido pelo vírus depois da Ásia e da Europa, se tornou ponto central da doença na América Latina. E protagonista no mundo, atrás apenas dos EUA em mortes.
Diante do início da vacinação, ainda que de maneira lenta, qual o futuro do Brasil no combate à crise? O que devemos fazer para não repetir os erros do passado?
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Minas registra quase 10 mil casos de COVID-19 e 152 mortes nas últimas 24hExército e Ministério da Saúde gastaram milhões para distribuir cloroquina Minas foi o estado do Sudeste que mais recebeu cloroquinaPressionado, Pazuello pede ajuda do Planalto para comprar vacinas''O vírus nos surpreende a cada três meses'', afirma imunologista Reação à vacina? Centenários falam o que sentem após serem imunizadosa negação do governo federal, na figura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), da gravidade da crise.
“A gente já tinha perdido o controle da pandemia quando fechamos a fronteira. Então, não teve efetividade. Depois, não tivemos, e permanecemos sem ter, instruções claras por parte do governo federal. A gente teve o ministro da saúde dizendo uma coisa e o presidente o desmentindo", explica Ethel.
O que vai acontecer nos próximos meses, para a professora da Ufes, depende da capacidade que o Brasil e o mundo terão de frear a transmissão acelerada do coronavírus. É a partir do contágio exponencial que o microrganismo patogênico pode sofrer mutações. E isso pode até mesmo anular a eficácia das vacinas aplicadas atualmente.
"O vírus sobrevive fazendo cópias dele mesmo. Quando isso ocorre, ele pode 'errar' e fazer mutações, que é natural desse tipo de vírus. O problema é o vírus fazer mudanças que dê a ele vantagens sobre nós", diz a especialista. De acordo com ela, foi o que aconteceu com os subtipos surgidos na África do Sul, no Reino Unido
e em Manaus, que são muito mais transmissíveis que os outros.
"A gente acompanhou, inclusive, que a África do Sul suspendeu a vacinação com a AstraZeneca (Oxford) por conta da diminuição da eficácia devido a essa mutação. Então, é algo muito preocupante", afirma Ethel.
Na prática, quanto mais demorarmos para frear a transmissão do vírus, por meio da imunização e das medidas de controle sanitário (uso da máscara e distanciamento social), mais chance o coronavírus tem de se alterar e “vencer” a batalha contra as vacinas.
Na prática, quanto mais demorarmos para frear a transmissão do vírus, por meio da imunização e das medidas de controle sanitário (uso da máscara e distanciamento social), mais chance o coronavírus tem de se alterar e “vencer” a batalha contra as vacinas.
Nesse sentido, a doutora da Ufes alerta para a necessidade de um plano nacional de imunização eficiente. “Se a gente conseguir vacinar, até julho, pelo menos esse grupo prioritário de 78 milhões de pessoas, acho que a gente pode terminar o ano melhor. Mas, se a campanha se arrastar, a pandemia vai se prolongar. Talvez, tenhamos que tomar outras doses da vacina", diz.
Discordância
Ethel chegou a participar do início dos estudos do governo federal para definir o público prioritário, mas deixou a mesa de discussões depois que a gestão Jair Bolsonaro (sem partido) excluiu a população carcerária desse grupo.
O principal ponto de discordância da especialista quanto à estratégia do governo passa pela obrigatoriedade da imunização. Apesar do presidente ser publicamente contra isso, Ethel Maciel defende que a proteção contra o vírus é um ato coletivo: a maioria da população precisa estar protegida para frear a proliferação.
“A vacina é uma estratégia coletiva, diferente daquele medicamento que você toma para combater a sua doença. É algo que a gente toma para prevenir a circulação do vírus de maneira acelerada. Sua liberdade termina quando o outro passa a ser prejudicado”, afirma.
“A vacina é uma estratégia coletiva, diferente daquele medicamento que você toma para combater a sua doença. É algo que a gente toma para prevenir a circulação do vírus de maneira acelerada. Sua liberdade termina quando o outro passa a ser prejudicado”, afirma.
Outro ponto abordado por ela é o critério geográfico. Ela defende que a Região Norte do país seja imunizada primeiramente. "A gente precisa vacinar ali mais rapidamente. Os pesquisadores já perceberam que o surgimento de variantes e a aceleração do vírus é maior ali. Não sabemos se por causa do clima ou por outro fator", defende.
E as escolas?
Logo após a confirmação do primeiro caso em fevereiro de 2020, não demorou muito para que as escolas fechassem suas portas para o ensino presencial. Em BH, a interrupção aconteceu menos de um mês depois, em 18 de março. Diante disso, quais alternativas o poder público deve tomar para que a educação, sobretudo a pública, retome suas atividades o quanto antes?
Para Ethel Maciel, a escola é uma extensão da sociedade. Portanto, elas só devem ser abertas quando a pandemia for controlada, o que ainda está longe de acontecer.
Outra alternativa, porém mais complexa, seria imunizar os estudantes, os profissionais de educação e os idosos que convivem com essas pessoas para evitar um aumento vertiginoso dos casos.
Novos cuidados
A nova variante de Manaus requer mais cuidados por parte da população com a COVID-19. Como ela é muito mais transmissível, o ideal é que cada cidadão compre uma máscara N95, exatamente aquelas usadas pelos profissionais de saúde. De acordo com a doutora da Ufes Ethel Maciel, esse item protege contra a maior parte das partículas de vírus e bactérias.
Por outro lado, os custos desse tipo de equipamento de proteção individual são mais elevados que os das máscaras de tecido. Ainda assim, uma alternativa pode ser adotada: estudos científicos comprovam que o uso de duas proteções de tecido simultaneamente já protege bem mais.
“Estudo agora do CDC americano (Centers for Disease Control and Prevention, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) também diz o seguinte: se você usar duas máscaras, você aumenta o poder de filtragem em 90%", explica a epidemiologista.
LINHA DO TEMPO
- 26 de fevereiro de 2020 – Ministério da Saúde registra primeiro caso de COVID-19 no Brasil. Empresário de 61 anos contraiu a doença em viagem à Itália, único epicentro fora da China até aquele momento.
- Março de 2020 – Minas também entra na rota da doença, no dia 8. Três dias depois, 11, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que a crise de saúde é uma pandemia. No dia seguinte, o Brasil registra a primeira morte de COVID-19. Tratava-se de uma mulher de 57 anos, moradora de São Paulo. Já no dia 24, em pronunciamento na TV, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chama a COVID-19 de “gripezinha” e “resfriadinho”.
- Abril de 2020 – Um dia depois do Congresso aprovar Projeto de Lei, Bolsonaro sanciona auxílio-emergencial de R$ 600 no primeiro dia do mês. O Fundo Monetário Internacional alerta que a economia global terá seu pior ano desde a Grande Depressão de 1929. Luiz Henrique Mandetta é demitido do Ministério da Saúde. Nelson Teich o substitui.
- Maio de 2020 – Brasil ultrapassa a China em número de mortos. Menos de um mês no cargo, Teich pede demissão do Ministério da Saúde no dia 15, e o general Eduardo Pazuello assume a pasta. Uma semana depois, o Brasil ultrapassa a Rússia e passa a ser o segundo país com mais doentes. Estudo da revista “Journal of the American Medical Association” não encontra evidências de que a cloroquina reduz mortalidade. EUA restringe a entrada de turistas brasileiros.
- Junho de 2020 – No dia 5, o Brasil recebe primeiro lote de vacinas da Universidade de Oxford para iniciar testes. União recebe críticas por falta de transparência, após retirar do ar painel que informa dados sobre a pandemia e alterar metodologia. Em três dias, país registra 100 mil novos casos, entre 9 e 11. No dia 19, chega a 1 milhão. Ainda em junho, Brasil se torna o vice-líder no consolidado de óbitos, ultrapassando o Reino Unido. Governo anuncia parceria com a AstraZeneca.
- Julho de 2020 – País ultrapassa 2 milhões de casos confirmados. Bolsonaro é infectado e se recupera sem sustos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 1% da população brasileira foi infectada pelo novo coronavírus. Uma em cada três mortes pela doença até aquele momento aconteceram em julho.
- Agosto de 2020 – Instituto Butantan planeja submeter vacina à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro. Em 11 de agosto, Rússia anuncia registro do imunizante Sputnik 5, o primeiro do mundo, mas especialistas questionam falta de testes.
- Setembro de 2020 – Mundo registra 1 milhão de mortes pela doença. Em discurso na ONU, Bolsonaro elogia sua gestão na pandemia e ataca imprensa por “disseminar” o pânico. No mesmo mês, Brasil chega a 4,5 milhões de casos.
- Outubro de 2020 – Segunda onda atinge em cheio a Europa, e países começam a restringir circulação de pessoas e atividades comerciais. Brasil supera 150 mil mortes por COVID-19. Donald Trump se infecta e se recupera sem sustos.
- Novembro de 2020 – Farmacêutica Moderna, sediada nos EUA, anuncia vacina com eficácia de 94,5%. No mesmo mês, União Europeia acorda com a Pfizer e a BioNTech para compra de doses para seus 27 países. Eleições municipais são realizadas no Brasil, enquanto estudo do Imperial College de Londres atesta que o país tem sua maior taxa de transmissão desde maio.
- Dezembro de 2020 – Reino Unido e EUA começam a vacinar sua população. Governo federal divulga plano de imunização. Pesquisadores que assinam o estudo afirmam que não participaram a fundo das discussões. Cresce preocupação de aumento de transmissibilidade com período de festas.
- Janeiro de 2021 – Brasil computa seu pior mês em termos de casos de COVID-19: um diagnóstico a cada dois segundos, em média. Em Minas, a cada 14 minutos, uma pessoa perdeu a vida para a virose. Instituto Lowy, em Sydney, na Austrália, dá ao Brasil o título de pior gestão da pandemia. Nova Zelândia ganha como melhor.
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
- Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
- Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.
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