Em entrevista a um telejornal local, a infectologista Marisa Reis, integrante do Comitê Científico do Rio Grande do Norte, recriminou a recomendação do uso de ivermectina feita pelo prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB). Segundo a médica, ''mais de 90% dos doentes que estão internados nas nossas UTIs (no RN) fizeram uso de ivermectina. Então significa que ela não é capaz de fazer o que se promete'', comenta.
“É um acinte ao conhecimento médico, ao conhecimento científico. É inaceitável que médicos e o prefeito da cidade de Natal, que é médico, venham dizer que vão distribuir ivermectina nos postos. Isso é uma vergonha. Não adianta as pessoas se esconderem por trás de um comprimido de ivermectina achando que ele vai protegê-las. Não vai! Não há evidências de que esse medicamento protege contra a COVID”, advertiu Marisa.
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“Até que a vacinação em Natal esteja concluída, o prefeito Álvaro Dias pretende reforçar as políticas de prevenção à doença e as voltadas para o tratamento precoce. O uso da Ivermectina, como medicamento profilático, por exemplo, é apontado pelo prefeito como extremamente necessário e benéfico, por evitar a disseminação da doença e ajudar a reduzir a carga viral e, assim, diminuir frontalmente os efeitos da COVID-19 nas pessoas”, diz comunicado da prefeitura de Natal divulgado em 15 de fevereiro.
A ivermectina é usada no tratamento de vários tipos de infestações por parasitas, entre elas as causadas por piolhos e sarna. O remédio entrou na pauta das discussões sobre a COVID-19 e possíveis indicações para terapia, e já foi recomendado como eficaz para tratar o coronavírus pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e pelo presidente Jair Bolsonaro.
O medicamento, entretanto, não tem eficácia comprovada, e o próprio fabricante, a farmacêutica Merck, comunicou que não há evidência de efeitos positivos do antiparasitários na terapêutica da COVID.
Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Norte, a taxa de ocupação de leitos de UTI para a COVID na rede pública é de 88%. Apenas 33 dos 275 leitos críticos do SUS para o tratamento de casos graves da doença estão disponíveis.
Segundo o boletim epidemiológico do RN, até o dia 22/2 havia 160.752 casos confirmados de COVID-19 no estado e 3.498 mortes decorrentes da doença.
O que é o coronavírus
Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
- Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
- Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus
Mitos e verdades sobre o vírus
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O que é a ivermectina?
A ivermectina é aprovada nos Estados Unidos sob a marca Stromectol. O medicamento, que não é comercializado no Brasil, é indicado para o tratamento da estrongiloidíase intestinal (não disseminada), infecção causada pelo parasita Strongyloides stercoralis e para o tratamento da oncocercose, infecção causada pelo parasita Onchocerca volvulus, mas não tem atividade contra esse último microrganismo em fase adulta. O fármaco é contraindicado em pacientes com hipersensibilidade a qualquer um de seus componentes. Pessoas tratadas com o remédio para oncocercose podem apresentar reações cutâneas e/ou sistêmicas de gravidade variável, e reações oftalmológicas.%u2028%u2028
Segundo a Merck Sharp & Dohme, para a estrongiloidíase, em quatro estudos clínicos envolvendo um total de 109 pacientes que receberam uma ou duas doses de uma certa quantidade de ivermectina, as seguintes reações adversas foram relatadas como possivelmente, provavelmente ou definitivamente relacionadas ao remédio: astenia (perda ou diminuição da força física)/fadiga (0,9%), dor abdominal (0,9%), anorexia (0,9%), constipação (0,9%), diarreia (1,8%), náuseas (1,8%), vômitos (0,9%), tontura (2,8%), sonolência (0,9%), vertigem (0,9%), tremor (0,9%), coceira (2,8%), erupção cutânea (0,9%) e urticária (0,9%).%u2028%u2028
Para a oncocercose, ensaios clínicos envolvendo 963 pacientes adultos tratados com ivermectina, foi relatada piora das seguintes reações de Mazzotti (reações de hipersensibilidade resultantes da morte das microfilárias - larvas - após o tratamento com ivermectina) durante os primeiros quatro dias pós-tratamento: artralgia/sinovite (inflamação do tecido que reveste a parte interna de algumas articulações, com 9,3% das ocorrências), aumento dos linfonodos axilares e sensibilidade (11,0 % e 4,4%), aumento de linfonodos cervicais e sensibilidade (5,3% e 1,2%), aumento de linfonodos inguinais e sensibilidade (12,6% e 13,9%), aumento de outros linfonodos e sensibilidade (3,0% e 1,9%), coceira (27,5%), envolvimento da pele incluindo edema, erupção papular e pustular ou urticariforme (22,7%), e febre (22,6%).
A ivermectina não deve ser usada durante a gravidez, e a segurança e eficácia em pacientes pediátricos com peso inferior a 15 quilos também não foram estabelecidas.
*estagiário sob supervisão de