Após o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretar lockdown (fechamento) para conter o avanço da COVID-19, o Conselho Regional de Medicina (CRM-DF), enviou, nesta segunda-feira 1º, nota contrária às medidas sanitárias implementadas pelo governo. O conteúdo também está no site oficial da entidade. O Estadão apurou ainda que o conselho também enviará o mesmo posicionamento às assessorias dos deputados federais.
Na nota, o CRM diz que "tal medida já se mostrou ineficaz, condenada até mesmo pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS) nas palavras do Dr. David Nabarro: 'O lockdown não salva vidas e faz os pobres muito mais pobres'". Como o Estadão mostrou em outubro do ano passado, por meio do projeto Comprova, a frase do enviado da OMS foi retirada de contexto em publicações na internet para sugerir que a entidade condena o lockdown.
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COVID-19: secretários de Saúde pedem lockdown nacionalDoria assina decreto que classifica as igrejas como atividades essenciais em SPPadre chama Bolsonaro de 'irresponsável' e 'genocida' durante missaMãe é investigada por torturar filho de 14 anosO Conselho do DF cita o Amazonas como exemplo negativo da medida. "Estado com maior índice de isolamento social do Brasil, apresentou o maior número de internações e mortes por COVID-19, cerca de 30-45 dias após o primeiro lockdown, sendo ainda mais imediato, após o segundo, configurando mais uma evidência do fracasso dessas medidas extremas de restrição", diz o texto. Especialistas em saúde têm defendido o lockdown como forma de conter o avanço do vírus, em fases mais descontroladas da pandemia.
Para o CRM, ações preventivas eficazes estão relacionadas a campanhas de educação sobre medidas individuais de higiene, uso de máscaras, distanciamento social, vacinação populacional e ostensiva fiscalização por parte do governo, mas "nunca pela decretação de lockdown".
OMS
A Organização Mundial de Saúde (OMS) desde o início da pandemia considera que o lockdown é uma das formas conhecidas de combate ao coronavírus. Em 1º de abril de 2020, Michael Ryan, diretor-executivo do Programa de Emergências da entidade, afirmou: "Além das medidas de lockdown, precisamos de estratégias abrangentes baseadas em vigilância, em intervenção de saúde pública, detecção de casos, testagem, isolamento, quarentena, e fortalecer nossos sistemas de saúde para absorver o golpe".
O Distrito Federal é uma das unidades da Federação que, nos últimos dias, elevaram as medidas de restrição para o comércio. O movimento é uma reação ao aumento da ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em várias regiões, em um momento em que a vacinação ainda não deslanchou. Dados do Ministério da Saúde mostram que no Distrito Federal 295.615 pessoas já se contaminaram com a COVID-19, ou 9,8% da população. Deste total, 4.831 pessoas morreram (1,6% dos contaminados).
Na última quinta-feira, o governador já havia decidido restringir o funcionamento dos estabelecimentos comerciais das 20 horas às 5 horas. Na sexta-feira, porém, com os leitos de UTIs específicos para pacientes de covid-19 com 98% de ocupação, Ibaneis decidiu intensificar as restrições.