Jornal Estado de Minas

Saúde ocular

Trânsito: 29% dos motoristas no Sudeste apresentam algum distúrbio de visão


Conforme balanço inédito realizado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), na Região Sudeste do país são 10,8 milhões de motoristas e motociclistas com algum problema de visão registrado na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).



O índice representa 29% dos condutores habilitados na região, que é a primeira no Brasil em números absolutos de condutores com tais restrições na carteira de motorista. Casos de pessoas que precisam de usar lentes de contato ou óculos, por exemplo, cresceram 42% entre 2014 e 2020, e o grupo com distúrbios de visão descritos na CNH responde por quase um terço da população habilitada no Sudeste.

A pesquisa foi coordenada por oftalmologistas com base em dados oficiais do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), e dá conta de que a região lidera o ranking em números de motoristas com restrições. São Paulo reúne mais de 6,7 milhões de motoristas com problemas visuais, o maior contingente nesse recorte.

Nas segunda e terceira colocações estão, nessa ordem, Minas Gerais, com 1,9 milhão de condutores, e Rio de Janeiro, com 1,8 milhão. Espírito Santo tem o menor número de condutores com restrições - pouco mais de 343 mil pessoas.



Proporcionalmente, o número de CNHs assinaladas com restrições em relação ao total de motoristas ou motociclista é mais expressivo no Rio de Janeiro, onde 31% dos habilitados têm algum problema de visão. Em São Paulo, as anotações de restrição visual atingem 29% dos condutores do estado e, em Minas Gerais, 26%. Mais uma vez, com 23%, o estado com menor proporção de condutores com problemas na vista é o Espírito Santo.

Os estados que aferem o maior aumento proporcional no número de condutores com dificuldades para enxergar, entre 2014 e 2020, são Minas Gerais e Espírito Santo, ambos com 44%, São Paulo, com 41%, e Rio de Janeiro, com 40%.

Restrições

O balanço indica ainda quais tipos de anotações aparecem com maior frequência na CNH dos motoristas no Sudeste. No topo da lista está a necessidade do uso de lentes corretivas, com mais de 10,6 milhões de condutores que não podem dirigir ou pilotar se não estiverem usando óculos ou lentes de contato.

Em seguida, com mais de 172 mil casos, constam as restrições associadas à visão monocular - quando um dos olhos é diagnosticado com acuidade zero.

Em terceiro lugar, com aproximadamente 58 mil casos, estão os motoristas impedidos de dirigir após o pôr-do-sol, logo depois outros quase 16 mil motociclistas que precisam do uso de capacete de segurança com viseira protetora, sem limitação de campo visual.



Avaliação

De acordo com o presidente do CBO, José Beniz Neto, quadros como miopia, astigmatismo e hipermetropia estão no topo da lista de distúrbios mais prevalentes entre os motoristas. A inclusão dessas anotações na CNH é feita no momento do exame para fazer o documento pela primeira vez ou em sua renovação, e é importante para avaliar as condições do motorista de conduzir o veículo sem oferecer perigo para outros motoristas, passageiros e pedestres.

Nesta análise, a importância dos cuidados regulares com a saúde dos olhos e do acompanhamento oftalmológico. "O condutor precisa ter o hábito de passar por consultas regulares com o médico oftalmologista, mesmo após ter conquistado sua CNH. Distorções podem surgir ao longo desse período e, se não forem diagnosticas e tratadas, podem inserir um elemento de risco no trânsito", alerta José Beniz Neto. Doenças como catarata, glaucoma e retinopatia diabética também podem acusar um déficit visual no momento do exame, sendo posteriormente diagnosticadas nas consultas.

A saúde ocular do motorista é fundamental para a segurança do trânsito, como orienta o conselho. Dados divulgados pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) indicam que cerca de 250 mil acidentes, ocorridos entre janeiro de 2014 e junho de 2019, resultaram de problemas na saúde dos condutores. Segundo a entidade, as dificuldades de visão estão entre essas causas mais comuns de acidentes, ao lado do sono ao volante e percepção alterada pelo consumo de álcool.



Números oficiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF), apontam ainda que o comprometimento da saúde dos olhos foi responsável por 1.659 sinistros de trânsito em rodovias federais, em apenas três anos (2016-2019). Se levados em conta acidentes em pistas, ruas e avenidas dos centros urbanos, o número é maior.

"É um contexto amplo. A expectativa de vida aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Nesse sentido, é natural que o envelhecimento dos olhos seja acompanhado do surgimento de problemas de vista. Há ainda outras causas externas, como a popularização das mídias digitais. Hoje, a sociedade está imersa em novos hábitos, que sobrecarregam a visão, como a exposição diária dos olhos e por longos períodos a telas", pondera o vice-presidente do CBO, Cristiano Caixeta Umbelino.

No Brasil

O levantamento abarca ainda as demais regiões brasileiras. No Nordeste, 30% dos condutores habilitados têm distúrbios oftalmológicos registrado na CNH. Proporcionalmente, a região é a primeira no país em número de condutores com essas restrições na carteira de motorista.



No Norte, 23% dos condutores habilitados possui algum problema de visão registrado na CNH, contingente que mais cresceu no país. No Centro-Oeste, um quarto dos condutores habilitados apresenta algum problema de visão anotado no documento, o segundo índice que mais cresceu no país. No Sul, terceira região no Brasil nesta lista, também são um quarto dos motoristas e motociclistas com as restrições oculares aferidas na carteira de habilitação.

Infração

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece que não seguir as anotações previstas na CNH, como não portar as lentes corretivas indicadas, é infração gravíssima, que rende multa e acúmulo de sete pontos na carteira.

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