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Estado de Minas CRÍTICA

Outdoor com ataques a Bolsonaro em Palmas (TO) é investigado pela PF

'Cabra à toa, não vale um pequi roído. Palmas quer impeachment já', dizia a placa


17/03/2021 15:19 - atualizado 17/03/2021 15:33

Outdoor contra Bolsonaro(foto: Edy Passos/Álbum de família)
Outdoor contra Bolsonaro (foto: Edy Passos/Álbum de família)
A Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar um sociólogo e um microempresário de Palmas (TO) por duas placas de outdoor com  críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nas quais uma das mensagens diz que o mandatário “vale menos que um 'pequi roído'”, que, naquele estado, significa algo sem valor ou importância. De acordo com reportagem do Portal UOL, a ordem para a investigação partiu do ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça. 
 
Segundo a publicação, o inquérito foi determinado pelo ministro em dezembro e aberto em 6 de janeiro por um dos setores mais influentes da direção-geral da Polícia Federal em Brasília, a DIP (Diretoria de Inteligência Policial), por meio de sua Divisão de Contrainteligência Policial. A investigação tem 56 páginas. 
 
“Diante  dos fatos narrados, requisito ao diretor-geral da Polícia Federal que adote as providências para a abertura de inquérito policial com vistas à imediata apuração de crime contra a honra do presidente da República", escreveu o ministro André Mendonça em 8 de dezembro.

O despacho foi encaminhado ao chefe de gabinete da direção-geral da PF, que o enviou para análise da Corregedoria. O corregedor-geral da PF, João Vianey Xavier Filho, concluiu que "está manifestada a opção de se conduzir eventual investigação do fato pela DIP/PF”.
 
Segundo a reportagem do portal, por meio de videoconferência, a  DIP já ouviu os depoimentos dos dois investigados,  o sociólogo Tiago Costa Rodrigues, de  36 anos, que é secretário de formação do PC do B em Tocantins e mestrando na Universidade Federal do Tocantins (UFT), e Roberval Ferreira de Jesus, 58, dono de uma microempresa de outdoors que disse só ter sido contratado para a locação do espaço e não participado da elaboração da peça. O perfil de Rodrigues na rede social Twitter foi monitorado pela DIP, que copiou 12 postagens e as incluiu na investigação.

A abertura do inquérito determinada por Mendonça é a retomada de um procedimento, que começou em agosto do ano passado, a partir da iniciativa de um bolsonarista, o empresário do ramo imobiliário  e produtor rural Celso Montoia Nogueira, que, em 2020, foi candidato aca vereador de Palmas (TO) pelo PRTB com o nome de "Montoya Bolsonaro" - ele não se elegeu. Nas redes sociais, Nogueira se diz "um grande patriota, conservador e guerreiro" e "coordenador estadual da Marcha Nacional Cristãos Pelo Brasil".
 
 “A expressão popular 'não vale um pequi roído' é bastante utilizada pelo povo tocantinense e significa pessoa sem vergonha, que não vale nada, alguém que não presta", escreveu o advogado do empresário na petição.  
 
Após análise da manifestação, a PF opinou pelo arquivamento. O delegado corregedor regional da PF em Palmas, Hugo Haas de Oliveira, considerou que as mensagens não  configuravam crimes previstos na Lei de Segurança Nacional e que as expressões utilizadas nos outdoors "não apontam quaisquer fatos que teriam sido praticados pelo presidente da República, mas sim, injúrias, xingamentos e frases ofensivas. 
 
O procurador da República Higor Rezende Pessoa concordou com o arquivamento "por inexistência de condição de procedibilidade, pois ausente a requisição do ministro da Justiça". Porém, determinou que André Mendonça fosse cientificado para que, "querendo, proceda com a representação". Foi o que o ministro da Justiça fez, em dezembro passado..

O sociólogo Tiago Rodrigues alega que  a ideia dos outdoors surgiu porque militantes bolsonaristas espalharam placas em municípios de Tocantins com mensagens de apoio a Bolsonaro. Segundo ele, a ideia era fazer um contraponto. Rodrigues disse ainda que as placas custaram RR 2,3 mil, arrecadados por meio de uma “vaquinha virtual”. 
 
Uma placa dizia: "Cabra à toa, não vale um pequi roído. Palmas quer impeachment já". O pequi é um fruto típico do cerrado. "Roído" é o fruto sem polpa, apenas com o caroço, que é cheio de espinhos. A outra placa pontuava: "Aí mente! Vaza Bolsonaro, o Tocantins quer paz"...
 
“A ideia foi dizer que é um governo que não age no combate à pandemia. Isso do pequi é uma expressão regional. Algo que é ineficaz, não está valendo para nada, não está surtindo efeito. Minha opinião sobre o que o Bolsonaro está fazendo na pandemia é a de vários brasileiros. Estamos vendo as consequências disso. É um governo que não está atuando de maneira eficaz, isso que o outdoor dizia", afirmou Rodrigues.
 
O advogado do sociólogo, Edy César Passos, disse que a investigação da PF em Brasília "deverá ser arquivada, ao final, pela própria PF, é o que esperamos".
 
Tiago Rodrigues disse que a abertura do inquérito em Brasília "é um problema grave de cerceamento de liberdade de expressão, de impedir que a pessoa manifeste sua insatisfação contra o governo, qualquer que seja". "Hoje são vários casos -como o dele-, até onde eu sei. Sei de uma professora em Pernambuco que também fez um outdoor. Vejo como tentativa de cercear qualquer crítica de oposição ao governo", disse o sociólogo. 
 
Procurado, o Ministério da Justiça não havia se manifestado até o fechamento desta matéria.


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