Na segunda-feira (22/3), vai completar um ano da primeira morte de um médico brasileiro pelo novo coronavírus. A vítima foi o cardiologista e professor Pedro di Marco da Cruz, que atuava na Reabilitação Cardíaca do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE-UERJ). Os números do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), atualizados diariamente, mostram que de lá para cá mais de 1.200 médicos e enfermeiros foram vítimas da pandemia de COVID-19.
Preocupada com a situação, a Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem) vem fazendo uma campanha contínua pela melhoria nas condições de trabalho dos profissionais da área da saúde.
Em outubro de 2020, a entidade defendeu a redução da carga horária de trabalho dos enfermeiros para 30 horas. No mesmo mês, quando o Brasil estava prestes a atingir a marca de 500 mil médicos aptos a atuar, a Anadem defendeu a distribuição mais equilibrada da população médica pelo país, além da melhoria na infraestrutura de atendimento.
A entidade ainda acompanhou as ações adotadas por socorristas em Manaus, entre elas a chamada mistanásia – modalidade de término de vida em que o paciente vulnerável sofre uma morte precoce e evitável em razão da violação de seu direito à saúde.
A Anadem também alertou sobre a possibilidade desses profissionais ficarem à mercê de condutas atípicas do ponto de vista médico, mas praticamente tipificadas no âmbito penal.
Além disso, propôs punição a quem fura a fila de vacinação e monitora o processo relacionado à compra de vacina pelo setor privado.
Além disso, propôs punição a quem fura a fila de vacinação e monitora o processo relacionado à compra de vacina pelo setor privado.
“Já chegamos à marca de um ano em que os profissionais da saúde estão nesta verdadeira guerra diária para tentar salvar vidas, com carga horária excessiva, muitos sem tirar férias, tendo que conviver com o estresse e o desgaste acima do que eles enfrentam em momentos não pandêmicos. Toda essa junção de fatores os expõem ao vírus, favorece o adoecimento e, consequentemente, os leva a uma conduta mais passível de erros”, alerta Raul Canal, presidente da Anadem e especialista em Direito Médico e Bioética.
Prova do desgaste e da exaustão de quem atua na linha de frente é o estudo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que entrevistou 710 profissionais de saúde de 21 estados brasileiros e do Distrito Federal.
Dois terços dos entrevistados tinham queixas relacionadas ao sono. Metade deles parou de praticar exercícios físicos e 78,5% reportaram alguma mudança alimentar - pouco mais de 30% afirmaram comer compulsivamente.
Mas o dado mais preocupante, talvez, seja o de que quase 30% desses profissionais aumentaram o consumo de bebidas alcóolicas.
Dois terços dos entrevistados tinham queixas relacionadas ao sono. Metade deles parou de praticar exercícios físicos e 78,5% reportaram alguma mudança alimentar - pouco mais de 30% afirmaram comer compulsivamente.
Mas o dado mais preocupante, talvez, seja o de que quase 30% desses profissionais aumentaram o consumo de bebidas alcóolicas.
Indenização
Outro ponto defendido pela Anadem é a sanção do projeto de lei que garante a concessão de auxílio indenizatório e pensão especial aos profissionais de saúde vítimas da COVID-19.
Mesmo tendo sido vetada pelo presidente da República, a proposta não saiu da pauta da entidade.
Mesmo tendo sido vetada pelo presidente da República, a proposta não saiu da pauta da entidade.
“Esse projeto é de suma importância para a categoria. Assegurar o auxílio é uma questão de humanidade e justiça para com aqueles que se arriscam pela nossa saúde”, afirma.
Para ele, caso não haja mudanças com urgência, o número de profissionais vitimados pode aumentar exponencialmente, principalmente com o surgimento das novas variantes da doença.
Para ele, caso não haja mudanças com urgência, o número de profissionais vitimados pode aumentar exponencialmente, principalmente com o surgimento das novas variantes da doença.
“É preciso dar a estes profissionais suporte estrutural necessário em seus locais de trabalho; acompanhamento psicológico para afastá-los da depressão, ansiedade e estresse pós-traumático; indenizações no caso de serem vítimas por atender pessoas contaminadas; enfim, ações concretas que preservem a integridade física e psíquica desses profissionais que precisam enfrentar uma doença que a humanidade não conhecia. Doença esta que está sofrendo mutações com novas variantes e que a maioria não se sente preparada para lidar, mesmo com anos de estudo, prática e experiência”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina