Cirurgias para a retirada de tumores realizadas em menos de sete semanas após o diagnóstico de COVID-19 tiveram um risco de mortalidade aumentado em ao menos 140%, passados 30 dias após a operação. É o que revela um estudo multicêntrico, realizado em 116 países, entre eles o Brasil, que mensurou mais uma das consequências da pandemia do coronavírus.
O trabalho, publicado na revista científica Anaesthesia na semana passada, tinha como objetivo determinar por quanto tempo idealmente é possível atrasar uma cirurgia em pacientes com câncer que foram infectados pela COVID-19.
Os pesquisadores, ligados ao CovidSurg Collaborative, com financiamento do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde, do Reino Unido, avaliaram o que ocorreu com pouco mais de 140 mil pacientes de câncer que passaram por cirurgia em outubro do ano passado em várias partes do mundo. Do total, 3.127 pacientes (2,2%) tinham recebido o diagnóstico de COVID-19 algumas semanas antes do procedimento.
Nas pessoas que não tiveram covid-19, a mortalidade média foi de 1,5% no período de 30 dias após a cirurgia - dentro do considerado normal para esse tipo de procedimento. Entre os que tinham se infectado, porém, a mortalidade foi tanto maior quanto mais perto do diagnóstico de covid-19 foi feita a cirurgia, assim como também foram maiores os riscos de complicações pulmonares.
Em até duas semanas após o diagnóstico da infecção com o coronavírus, a taxa de mortalidade subiu para 4,1%; entre três e quatro semanas foi de 3,9%; e entre cinco e seis semanas, de 3,6%. Em comparação com a linha de base, o tempo da cirurgia representou, respectivamente, um aumento do risco de morte de 173%, 160% e 140%. Somente nas cirurgias realizadas após sete semanas ou mais do diagnóstico é que o risco de mortalidade voltou a se assemelhar ao de não infeccionados.
Decisão de esperar
"Com esse trabalho produzimos novos conhecimentos sobre o tempo de segurança do tratamento que vão mudar a forma de cuidar desses pacientes a partir de agora", disse ao Estadão o oncologista Felipe Coimbra. Diretor do Instituto Integra Saúde e médico da área de Tumores Gastrointestinais do A.C. Camargo Cancer Center, ele foi um dos 50 pesquisadores brasileiros a participar do levantamento.
O estudo traz uma base científica para orientar uma decisão que Coimbra e outros médicos já vinham tomando nos últimos meses. Foi o caso de Claudio Mira Galvão, de 64 anos, que tinha cirurgia marcada em novembro passado para a retirada de tumores no fígado e na pleura, mas foi diagnosticado com covid cerca de dez dias antes. Por razões médicas, a cirurgia foi adiada para dezembro, e ele contraiu a síndrome neurológica de Guillain-Barré. A cirurgia, por fim, só foi realizada em janeiro.
Tempo de segurança
Os autores do estudo recomendam que o ideal é adiar cirurgias programadas por pelo menos sete semanas após a infecção com COVID-19. O prazo precisa ser ainda maior para quem permanecer com sintomas por mais tempo.
Uma das regras de ouro na luta contra cânceres é operar o mais rápido possível para ter maior sucesso - mas a covid trouxe um risco a mais. "Agora temos de calcular esse balanço entre quanto tempo é possível esperar para fazer a cirurgia sem prejudicar a chance de cura do paciente", comenta Coimbra.
O trabalho, publicado na revista científica Anaesthesia na semana passada, tinha como objetivo determinar por quanto tempo idealmente é possível atrasar uma cirurgia em pacientes com câncer que foram infectados pela COVID-19.
Os pesquisadores, ligados ao CovidSurg Collaborative, com financiamento do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde, do Reino Unido, avaliaram o que ocorreu com pouco mais de 140 mil pacientes de câncer que passaram por cirurgia em outubro do ano passado em várias partes do mundo. Do total, 3.127 pacientes (2,2%) tinham recebido o diagnóstico de COVID-19 algumas semanas antes do procedimento.
Nas pessoas que não tiveram covid-19, a mortalidade média foi de 1,5% no período de 30 dias após a cirurgia - dentro do considerado normal para esse tipo de procedimento. Entre os que tinham se infectado, porém, a mortalidade foi tanto maior quanto mais perto do diagnóstico de covid-19 foi feita a cirurgia, assim como também foram maiores os riscos de complicações pulmonares.
Em até duas semanas após o diagnóstico da infecção com o coronavírus, a taxa de mortalidade subiu para 4,1%; entre três e quatro semanas foi de 3,9%; e entre cinco e seis semanas, de 3,6%. Em comparação com a linha de base, o tempo da cirurgia representou, respectivamente, um aumento do risco de morte de 173%, 160% e 140%. Somente nas cirurgias realizadas após sete semanas ou mais do diagnóstico é que o risco de mortalidade voltou a se assemelhar ao de não infeccionados.
Decisão de esperar
"Com esse trabalho produzimos novos conhecimentos sobre o tempo de segurança do tratamento que vão mudar a forma de cuidar desses pacientes a partir de agora", disse ao Estadão o oncologista Felipe Coimbra. Diretor do Instituto Integra Saúde e médico da área de Tumores Gastrointestinais do A.C. Camargo Cancer Center, ele foi um dos 50 pesquisadores brasileiros a participar do levantamento.
O estudo traz uma base científica para orientar uma decisão que Coimbra e outros médicos já vinham tomando nos últimos meses. Foi o caso de Claudio Mira Galvão, de 64 anos, que tinha cirurgia marcada em novembro passado para a retirada de tumores no fígado e na pleura, mas foi diagnosticado com covid cerca de dez dias antes. Por razões médicas, a cirurgia foi adiada para dezembro, e ele contraiu a síndrome neurológica de Guillain-Barré. A cirurgia, por fim, só foi realizada em janeiro.
Tempo de segurança
Os autores do estudo recomendam que o ideal é adiar cirurgias programadas por pelo menos sete semanas após a infecção com COVID-19. O prazo precisa ser ainda maior para quem permanecer com sintomas por mais tempo.
Uma das regras de ouro na luta contra cânceres é operar o mais rápido possível para ter maior sucesso - mas a covid trouxe um risco a mais. "Agora temos de calcular esse balanço entre quanto tempo é possível esperar para fazer a cirurgia sem prejudicar a chance de cura do paciente", comenta Coimbra.