Desde o começo do mês de março, o Brasil é o campeão mundial de mortes provocadas pelo novo coronavírus, segundo informações compiladas pelo site Our World in Data, da Universidade de Oxford. Mesmo assim, ainda há pelo menos 88 países que permitem a entrada de pessoas saídas do Brasil sem uma justificativa específica - como trabalho, estudo ou reunião familiar. Por outro lado, 108 nações impedem a entrada livre de brasileiros ou turistas que tenham passado por aeroportos no país.
O levantamento foi realizado pelo Estadão, com base em dados da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA, na sigla em inglês), de sites de agências de viagens e de contatos com as embaixadas dos países no Brasil. A reportagem considerou uma lista de 196 países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
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Brasil é 'um alerta' de que covid-19 'requer atenção contínua' das autoridades (OPAS)Washington Post: Desastre da COVID-19 no Brasil ameaça o mundoRecorde de infecções por coronavírus no Brasil: 90.303 em 24 horasA maioria dos 88 países que permitem a entrada de brasileiros está concentrada em três regiões: a África subsaariana, o Leste Europeu e o Caribe -- no último caso, vários dos países da região têm o turismo como uma das principais fontes de renda. Na África, permitem a entrada países como a África do Sul, o Egito, a Nigéria e a República da Guiné-Bissau. Outros países lusófonos, como Moçambique e Angola, não permitem a entrada no momento. No leste da Europa, a entrada é permitida em países como a Croácia e Montenegro, na costa do Mar Adriático, além da Albânia. No Caribe, é possível visitar alguns países, como Cuba, Bahamas, as Ilhas Seychelles e Dominica.
O grau de restrição e as regras impostas pelos países variam desde aqueles que não fazem nenhuma exigência específica de testes e quarentena, como a Macedônia do Norte, até lugares onde a entrada está totalmente proibida, como Tuvalu, Iêmen e a Coreia do Norte. Mesmo que alguns países ainda permitam a entrada de visitantes, é desaconselhável realizar viagens não essenciais neste momento, dada a gravidade da situação, diz o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
"É uma verdadeira catástrofe que se permitam viagens não essenciais para estes países", diz ele. "Nós estamos numa situação muito complexa, deveríamos nos concentrar em combater a pandemia nas nossas próprias cidades. Fazer aglomeração em aeroporto, pegar voo, não é seguro neste momento. O avião é uma das formas mais fáceis que existem de transmitir o vírus de cá pra lá e de lá pra cá", diz o especialista. Mesmo viagens nacionais não essenciais devem ser evitadas, diz ele.
Procurado pela reportagem, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou que não mantém uma lista atualizada dos países que permitem ou não a entrada de brasileiros. O Itamaraty destacou que as medidas de proibição de entrada de pessoas vindas do Brasil não são "discriminatórias" contra brasileiros, e se devem à disseminação das novas variantes do coronavírus no país.
"O principal critério para as medidas mais drásticas, como proibição de voos ou de entrada de passageiros, tem sido a detecção de novas variantes do coronavírus, o que atinge não apenas o Brasil, mas também países como Reino Unido, Irlanda, África do Sul, Dinamarca e Japão. Esse é o mesmo critério que justifica a proibição, ora vigente, de ingresso no Brasil de voos oriundos do Reino Unido e da África do Sul, embora a fronteira aérea esteja aberta a voos e viajantes provenientes dos demais países, desde que cumpridos certos requisitos sanitários", disse a pasta.
O MRE também afirmou que a maioria dos países que proíbem a entrada de pessoas vindas do Brasil criou exceções, "tais como voos exclusivamente de carga, tripulação aérea e voos extraordinários de natureza humanitária e os que visam a repatriar cidadãos e residentes permanentes retidos no exterior", declarou o MRE, em nota. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.