Profissionais que atuam no front na área de saúde enfrentam uma situação desoladora. No domingo (14/3), um funcionário do Hospital Regional do Gama (HRG), no Distrito Federal, denunciou o cenário caótico da unidade, onde faltavam vagas, pontos de oxigênio, bombas de infusão e ventiladores mecânicos — itens essenciais para o tratamento de pacientes em estado grave. O relato dava conta de que havia pontos de oxigênio compartilhados por até três pessoas.
O desabafo do profissional somou-se a outros, de servidores do Hospital Regional de Planaltina (HRPl). Eles relatam que, na quinta-feira (18/3), em razão da quantidade de pacientes internados com covid-19, o suprimento de oxigênio que sai dos tubos da unidade de saúde foi cortado. Para evitar mortes de quem estava internado, as equipes tiveram de usar o estoque de cilindros das ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Servidores de hospital no DF registram em vídeo falta de oxigênio na UTIhttps://t.co/xh8mr0e0dX pic.twitter.com/ibYM9zrink
%u2014 Estado de Minas (@em_com) March 20, 2021
A região de Planaltina, que tem mais de 200 mil habitantes, não tem leitos fixos de UTI. No entanto, uma estrutura foi improvisada no centro cirúrgico do HRPl para receber pacientes que apresentam graves problemas respiratórios em razão da doença. Ainda assim, o avanço da segunda onda da pandemia pressionou um sistema de saúde que já era precário.
Pacientes se acumulam em leitos de UTI, nos corredores do hospital e, a todo tempo, chegam mais doentes em busca de atendimento. Segundo os servidores, o perfil dos pacientes é cada vez mais jovem. A queda no fornecimento de oxigênio piorou a situação, que, por pouco, não gerou uma tragédia ainda pior.
“O desespero maior é da equipe. Estamos trabalhando sabendo que fazemos acima do normal, algo muito além do que achávamos que daríamos conta. Quando o pessoal começou a perceber que a pressão do oxigênio estava caindo, houve angústia. Não chega a ser um desespero, mas uma ansiedade para resolver (o problema) sem causar danos ao paciente, que depende do oxigênio”, disse uma das servidoras que presenciaram a cena e preferiu não se identificar.
Ela acrescentou que o cenário no único hospital de Planaltina é desolador. “Quem está trabalhando com pacientes com covid-19 trabalha sob pressão. A capacidade está estourada. As pessoas não estão conseguindo atendimento. É preciso entender que elas devem ficar em casa, usar máscaras, lavar as mãos, usar o álcool em gel. Assim, em 15, 20 ou 30 dias vamos reduzir a hospitalização”, ressaltou.
A reportagem apurou que a demanda está tão elevada, que dois postos de saúde da cidade ficarão abertos no sábado para atender pacientes. Procurada pelo Correio, a direção do HRPl, por meio da SES-DF, informou que houve uma “queda momentânea na pressão dos tubos de oxigênio” e que a situação foi resolvida.
“A direção salienta que todas as providências foram tomadas, e a situação, normalizada, sem que tenha havido qualquer consequência grave para as pessoas em atendimento no hospital. Em uma ação conjunta de diversos profissionais da Secretaria de Saúde do DF, as duas empresas fornecedoras de oxigênio foram convocadas para solucionar rapidamente o problema da unidade, além do Samu, que disponibilizou mais cilindros de oxigênio”, informou a direção do hospital.