Vocês conseguem entender a complexidade que é viver numa favela?
— Rene Silva %uD83C%uDF35%u2B50%uFE0F%uD83C%uDF0E (@eurenesilva) March 22, 2021
As crianças no corredor pra se proteger dos tiros. A professora preocupada com o distanciamento por causa da Covid... É isso, a realidade da desigualdade social!!! pic.twitter.com/6uIakxsqmc
Silva escreveu: "Vocês conseguem entender a complexidade que é viver numa favela? As crianças no corredor pra se proteger dos tiros. A professora preocupada com o distanciamento por causa da covid... É isso, a realidade da desigualdade social".
No início do vídeo, três das quatro crianças tapam os ouvidos diante do barulho de um intenso tiroteio que dura 11 segundos. Em seguida a professora, que não teve a identidade revelada, diz: "Não tem graça. É muito perigoso o que está acontecendo. Vamos chegar para cá. Por favor, não é pra ficar juntinho por causa do coronavírus e também não é para ficar em pé".
"Infelizmente a gente tem que ficar nessas condições, sentado no corredor da escola, tendo que manter a distância e ao mesmo tempo se proteger dos tiros que estão constantes, todas as tardes aqui na Rua Barão", lamenta a professora. Uma aluna então pergunta como saber de onde vêm os tiros. "A gente não sabe, o tiro está em todas as partes. Ora está aqui pertinho, ora está se distanciando" responde a professora, e o vídeo termina.
Embora a situação impressione, ela é comum naquela região, segundo narram funcionários de escolas municipais do entorno. "Todo dia tem tiroteio na região, isso é comum", contou à reportagem, por telefone, uma funcionária de outra escola municipal situada na Rua Barão. "A única coisa que varia é o horário. Às vezes acontece quando os alunos já estão na escola, outras quando eles ainda não vieram, e então acaba não tendo aula, porque ninguém vai sair de casa em meio aos tiros", conclui.
Há pelo menos três anos a região da Praça Seca é palco de disputa entre facções criminosas e milicianos. As polícias Civil e Militar fazem operações na área, mas o problema persiste, como registram os funcionários das escolas da região. "É comum ver grupos armados correndo pela rua. A gente não sabe se são traficantes ou milicianos", narra uma funcionária de outra escola municipal da Praça Seca.
O secretário de Educação do município do Rio republicou o vídeo e fez uma crítica à política de segurança pública adotada pelo governo estadual: ""Não adianta insistir numa política de segurança pública ineficiente, do confronto pelo confronto, que prejudica os mais pobres e não está integrada com outras áreas, especialmente a Educação". Ele lamentou: "Além dos grandes desafios educacionais, temos o problema crônico da violência no Rio".
A reportagem procurou as polícias Civil e Militar do Rio, que até a publicação deste texto não haviam se manifestado sobre os constantes tiroteios na região da Praça Seca.