Dirigentes de laboratórios que produzem vacinas contra a COVID-19 manifestaram entraves para o cronograma de entregas no ritmo anunciado pelo Ministério da Saúde. Representantes dessas empresas foram ouvidos em uma sessão do Senado, nesta terça-feira (23/3). A vacinação é apontada por especialistas como única forma de conter o avanço da COVID-19 no País e reduzir a necessidade de isolamento social.
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A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade Lima, apresentou um cronograma que prevê a entrega de 100,4 milhões de doses do imunizante Oxford/AstraZeneca até julho, com R$ 3,961 milhões neste mês de março. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), questionou a dirigente da instituição afirmando que o prazo apresentado pelo Ministério da Saúde apresentava quantidades diferentes mês a mês.
O governo federal, por exemplo, divulgou uma entrega de 30 milhões de doses da Fiocruz para abril, enquanto a presidente da fundação apresentou uma programação de 18,8 milhões de imunizantes no mesmo mês. "É importante esclarecer isso, a bem da verdade e da transparência. O que aconteceu é que foi uma projeção, um cálculo de entrega de 1 milhão de doses por dia, só que chegar a esse patamar esbarrou em algumas questões", respondeu Nísia Lima.
De acordo com a presidente da Fiocruz, fatores relacionados a processos técnicos e de testes e a falta de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), ou seja, o princípio ativo das vacinas, dificulta a entrega. A fundação espera produzir esse insumo no segundo semestre e entregar mais 100 milhões de doses depois de julho. "A despeito de a gente estar sempre tentando fazer o cronograma de entregas no menor tempo possível, muitas vezes esbarramos em questões tecnológicas e regulatórias para garantir a segurança e eficácia da vacina e não conseguimos ultrapassar", afirmou o diretor de Bio-Manguinhos da Fiocruz, Mauricio Zuma.
A diretora técnica da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, reforçou o cronograma para a entrega de 20 milhões de doses da vacina Covaxin até o início de abril. O laboratório é o representante da farmacêutica indiana Bharat Biotech, produtora do imunizante, no Brasil. Ela reforçou, porém, a necessidade de um diálogo do Brasil com a Índia para autorização de importação por parte do governo daquele país. "Eles já declararam que o segundo país que mais vai receber a Covaxin no mundo será o Brasil", afirmou.
Para as 38 milhões de doses únicas da vacina da Janssen anunciadas pelo governo federal, o diretor de Assuntos Governamentais da empresa no Brasil, Ronaldo Pires, citou essa projeção de entregas até o final do ano, mas sem estimativa de data precisa. "Não há uma data precisa no contrato. Há uma previsão de entrega para o final do ano", declarou, pontuando na sequência que não era possível "assumir compromissos" mais objetivos.
O diretor médico da União Química, Miguel Giudicissi, por sua vez, anunciou que a empresa entrará com um novo pedido de uso emergencial da vacina russa Sputnik V na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anisa), após ter pedidos anteriores negados. "Ao longo do tempo, o que aparece é que nós não estamos entregando documentos, o que não é verdade. Na verdade, nós entregamos os documentos e, a cada vez que entregamos, existem novas exigências. E nós cumprimos essa novas exigências."
A falta de garantias no cronograma frustrou a expectativa de senadores. "Eu vim para assistir a este encontro muito animado, para ver alguma luz no fim do túnel. Infelizmente, estou saindo muito mais preocupado do que entrei nessa discussão", afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), citando a estimativa total de 18 milhões de novas doses para abril. "É uma perspectiva catastrófica para o nosso País."
O Brasil registrou 3.158 novas mortes pela COVID-19 nesta terça-feira (23/3), segundo dados do consórcio de veículos de imprensa formado por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL em parceria com 27 secretarias estaduais de Saúde. A média semanal de vítimas, que elimina distorções entre dias úteis e fim de semana, bateu recorde pelo 25º dia consecutivo e ficou em 2.349.
Pela primeira vez o País superou a marca de 3 mil mortes por coronavírus registradas em um único dia. "Nós não teremos vacinas suficientes e a tempo para acabar com essa carnificina", discursou a senadora Simone Tebet (MDB-MS).