Depois de pesquisas com aplicações em cavalos, o Instituto Butantan pretende começar os testes clínicos para a produção de um soro anti-COVID, que poderia ser administrado nos momentos iniciais da infecção pelo novo coronavírus, impedindo o avanço da doença.
O instituto acaba de enviar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a documentação para a aprovação de testes em humanos. A entrega da papelada foi na noite desta terça-feira (23/3) e o assunto já está entre as principais buscas na internet, com inúmeros acessos.
O produto vem sendo desenvolvido desde 2020 a partir do plasma de cavalos. A aprovação pela agência reguladora é esperada até a próxima sexta-feira (26/3). Já estão prontos 3 mil frascos para começar os ensaios clínicos.
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Infectologista: 'Kit Covid faz parte das mentiras da política da morte'Após uso de kit covid, pacientes vão para fila de transplante; ao menos 3 morremAnvisa recebe pedido para importação da Covaxin, mas diz que faltam documentosO primeiro pedido junto à Anvisa aconteceu no início do mês, logo a agência solicitou mais informações, e agora, segundo o diretor do Butantan, Dimas Covas, os documentos estão completos, sem pendências.
Esper Kallás e José Medina, da Universidade de São Paulo (USP), são os médicos que estão na coordenação da pesquisa. A ideia é que o soro minimize sintomas - não consegue curar ou prevenir a COVID-19.
Um conjunto de anticorpos, até então produzido em cavalos, funcionaria como uma vacina instantânea. O aval da Anvisa permitiria que o produto, agora incorporado na rotina de fabricação do Butantan, seja introduzido na linha de produção.
O PROCESSO
Com a aplicação em cavalos, foi observado que o vírus não acarreta problemas nem consegue se multiplicar, e ainda fortalece o sistema imunológico na geração de anticorpos. O mecanismo parte da retirada do plasma do animal, uma parte do sangue. Na etapa seguinte, os agentes imunológicos são isolados e dão origem ao soro.
A intenção, após a liberação da Anvisa, é que os testes prossigam, no primeiro momento, em pacientes que foram submetidos a transplante de rim, no Hospital do Rim, além de pessoas com doenças prévias (comorbidades), atendidas no Hospital das Clínicas.
Sobre as primeiras conclusões em relação ao estudo, os testes em animais, como assegura o Butantan, mostraram a segurança e eficácia do soro. Animais que receberam o soro tiveram o pulmão protegido, demonstrando perspectivas promissoras. Os cavalos não evoluíram para a manifestação letal do Sars-CoV-2.
O pontapé do estudo aconteceu em uma fazenda do Butantan, o soro é totalmente fabricado pelo instituto, que mantém no local 800 cavalos, em uma área de 650 hectares.
A etapa final dos testes nos equinos foi no fim de janeiro, e ficou constatado que animais expostos ao vírus ativo logo produziram anticorpos. O vírus, depois, foi isolado e inativado e aplicado para imunizar os cavalos.
A propriedade do soro anticoronavírus é similar ao que foi feito no caso de outros soros, como o usado para picadas de cobra, chamado antiofídico.