Nessa quarta-feira (24/3), o Hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã, no Rio Grande do Sul, confirmou o óbito de três pacientes internados com COVID-19 após serem nebulizados com uma solução de hidroxicloroquina. Responsável pelo procedimento, a médica Eliana Scherer foi afastada da unidade e denunciada pela própria instituição ao Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina (CRM).
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“Famílias que, face ao seu desligamento da escala do Pronto Socorro, contrataram a referida médica para acompanhar os pacientes, solicitando assim, que fosse administrado o tratamento experimental. Como se tratava de terapia experimental, alguns médicos se negaram a prescrever o tratamento aos pacientes sob seus cuidados, razão pela qual as famílias buscaram o poder Judiciário para permitir que fosse feito o tratamento com a inalação da solução de HCQ”, informa a nota.
Nesse cenário, houve a liberação, em liminar, para que o tratamento fosse administrado pela médica, desde que ela assumisse a integralidade da assistência de seus pacientes. A partir disso, a direção do hospital liberou um termo de acordo para que aqueles pacientes e familiares que quisessem receber o tratamento se responsabilizassem pelas consequências da inalação de hidroxicloroquina como tratamento para COVID-19.
Esses pacientes, segundo esclarecimento do Hospital Nossa Senhora Aparecida, eram informados de que o tratamento não tinha, e não tem, comprovação científica quanto a sua eficácia. Assim, quatro pacientes da instituição fizeram inalação do medicamento. Destes, três vieram a óbito nos últimos dias. Todos eles com quadros de taquicardia ou arritmia algumas horas após receberem a nebulização.
Dois deles já estavam em estado geral grave, com insuficiência respiratória em ventilação mecânica e um deles estava estável, recebendo oxigênio por máscara com boa evolução, afirma o hospital.
“Por se tratar de um tratamento sem comprovação cientifica, o hospital não pode afirmar que houve relação direta entre os óbitos e a inalação com HCQ, por sua vez, não verifica que a nebulização contribuiu para melhorar o desfecho dos pacientes. Os indícios sugerem que está contribuindo para a piora, porque todos os casos (de óbito) apresentaram reações adversas após o procedimento”, esclarece em nota.
O Hospital Nossa Senhora Aparecida afirma, por fim, que, por não ter experiência com tratamentos experimentais e não ter referências seguras para a aplicação, normalmente opta por não o fazer.
“Infelizmente, nesse cenário de desespero, polarização e politicagem, diante de muita pressão da sociedade, permitimos que, via judicial e, de maneira formalizada, os pacientes que desejavam receber essa terapia, assim o fizessem. Assim, o Hospital informa que continuará envidando todos os seus esforços para atender os seus pacientes, respeitando os protocolos aprovados pelos órgãos de saúde nacionais e internacionais.”
O governo defende...
Na última sexta-feira (19/3), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entrou ao vivo em um programa de rádio e defendeu a prática da “nebulização da hidroxicloroquina”. Bolsonaro chegou a citar o caso da médica Eliane. Segundo ele, o vereador e ex-prefeito de Dom Feliciano (RS) Dalvi Soares de Freitas teria sido curado por causa da prática alternativa.
“Nós temos uma doença que é desconhecida, com novas cepas, e pessoas estão morrendo. Os médicos têm o direito, ou o dever, no momento em que falta um medicamento específico para aquilo com comprovação científica,de usar o que se chama de off-label – fora da bula. Agora, aqui no Brasil, a pessoa é criminalizada quando tenta uma alternativa para salvar quem está em estado grave”, disse o presidente à Rádio Acústica.
A hidroxicloroquina não tem comprovação científica no que tange o tratamento para COVID-19, assim como a inalação do medicamento.