Um casal de professores do Distrito Federal morreu por complicações da COVID-19, com poucas horas de diferença um do outro, no último domingo (4/4). Antônio Fávero Sobrinho, 71 anos - professor de história da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), e a esposa Anna Angélica Oliveira Paixão, 46 anos — professora da rede pública do DF, foram sepultados no próprio domingo, no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul.
Antônio ficou internado em UTI por 23 dias, chegou a ser intubado por dificuldades respiratórias. Já Anna também ficou internada e, após uma parada cardiorrespiratória e infecção generalizada, não resistiu e veio a óbito. Os dois deixam um filho de quatro anos. Antônio também deixa outros três filhos do primeiro casamento.
Amigos lamentam perda
A professora aposentada da rede pública, Regina Célia Melo, 63, conta muito emocionada a parceria que tinha com o professor Antônio. “Fui professora do filho dele, há muitos anos. Depois de um tempo, reencontrei-o quando decidi voltar a estudar na UnB. Queria fazer algo ligado à literatura e ele abriu uma turma a partir desse meu desejo. Fiz todos os meus projetos com ele, e em 2019, lançamos o livro ‘O Menino que Descobriu o Lago Paranoá’. Era uma relação intensa e uma troca de conhecimento muito grande”, relata Regina. “A dor é em dobro. A esposa dele morreu de manhã e ele a noite. Uma situação muito difícil”, afirma.
Defensor da educação, Antônio era conhecido como um incentivador dos estudos. Sempre propondo algo novo aos seus alunos. Docentes, estudantes, amigos prestaram homenagem ao professor nas redes sociais.
A doutoranda do curso de geografia, Roberta Porfírio Borges, 39 anos, lamentou a morte do docente. No Facebook ela relembra o trabalho do livro infantil O Menino que Descobriu o Lago Paranoá, no qual ela participou como ilustradora do mapa científico do espelho d’água da capital.
“Conheci Fávero bem antes do trabalho com o livro, por intermédio da professora Valéria. E ele era uma pessoa incrível, sempre disposto e disponível para ajudar e ensinar. Depois tive a oportunidade de trabalhar com ele foi uma convivência muito boa”, relata Roberta. “A morte dele é uma perda muito grande. Ele era um militante pela vacina contra a covid-19. Se tivesse tido acesso em fevereiro, essa situação provavelmente não teria acontecido. Isso mostra o quanto os professores estão vulneráveis a essa doença”, pontua.
A professora de geografia da Faculdade de Educação da UnB, Maria Lidia Bueno Fernandes ressaltou a paixão de Fávero pela luta educacional. “Ele acreditava muito na educação. Grande defensor da educação horizontal, com a participação dos alunos. Prezava por um ensino de qualidade. Esteve à frente de diversos projetos na causa”, ressalta a docente.
O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) se solidarizou com a morte da professora Anna Angélica Oliveira Paixão. “Ela foi alfabetizadora e pedagoga e estava fazendo mestrado. Atuou também no CESAS na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Mais uma vítima da COVID-19. Ela faleceu, neste domingo (4/4), às 10h47, aos 46 anos”, informou em nota.
“A diretoria colegiada do Sinpro-DF se solidariza com familiares, amigos, colegas e estudantes e informa que é importante, neste momento em que o país e o Distrito Federal vivem picos elevadíssimos de contaminação e óbitos por COVID-19, evitar aglomerações, incluindo aí a ida em velórios, ainda que seja de pessoas que amamos”, destacou o sindicato.