Em entrevista à "Globonews" em reportagem veiculada nesse domingo (11/4) pelo "Fantástico", ex-médicos da operadora de saúde Prevent Senior relataram que foram obrigados a trabalhar quando estavam contaminados com o coronavírus.
Além disso, eles relatam que viviam uma rotina de forte pressão e assédio para que prescreverem medicamentos do “kit Covid” – cloroquina, azitromicina, ivermectina e flutamida –, que não são comprovados no tratamento de COVID-19 e, inclusive, são capazes de agravar os quadros de infecção dos pacientes.
Além disso, eles relatam que viviam uma rotina de forte pressão e assédio para que prescreverem medicamentos do “kit Covid” – cloroquina, azitromicina, ivermectina e flutamida –, que não são comprovados no tratamento de COVID-19 e, inclusive, são capazes de agravar os quadros de infecção dos pacientes.
A fim de preservar a identidade e evitar casos de represália, os médicos, em sua maioria, não se identificaram. Ao todo, cinco ex-funcionários da Prevent Senior foram entrevistados.
Conversas em aplicativos de mensagens em grupos da operadora de saúde confirmaram o relato dos médicos. Em um diálogo, um diretor da empresa orientou que todos os pacientes com problemas respiratórios fossem medicados com hidroxicloroquina e azitromicina sem que eles fossem avisados da prescrição médica, mesmo que o fármaco não fosse, e não é, indicado para o tratamento da infecção causada pela COVID-19.
A "Globonews", ainda, teve acesso a prontuários e documentos que comprovaram a prática de outros métodos não aprovados, como a ozonioterapia.
No que tange à prescrição de medicamentos que compõem o chamado “kit Covid”, o Conselho Federal de Medicina (CFM) indica que os médicos podem optar pelo remédio que julgar adequado ao quadro do paciente. Porém, segundo relatos, não é o que ocorre na Prevent Senior.
“Eu deixei de prescrever por um único dia acreditando nisso e acabei sendo chamado à diretoria com orientações bem claras de que eu deveria prescrever a medicação e o que ficava implícito era que se não prescrevesse a medicação você estaria fora do hospital. Voltei a prescrever a medicação por ter sido obrigado a fazê-lo. A autonomia, na verdade, é zero, você não tem escolha de deixar de prescrever. Se você não prescreve, você vai ser demitido”, disse um dos ex-médicos da operadora.
Uma outra profissional da saúde declarou que o processo de prescrição dos medicamentos é tido como processo “padrão” da Prevent Senior, “ao menor sinal de síndrome gripal”. Essa médica, inclusive, disse que pediu demissão por não concordar com o procedimento.
“Todo plantão que eu ia lá sempre tinha alguém que dizia, ‘olha, eu tenho que prescrever, qualquer sintoma gripal eu tenho que passar para o paciente. Então, não tem escolha, não. É diário mesmo. Então se tinha um paciente internado, aí eu deixava uma prescrição, aí vinha alguém de cima e falava ‘não, faltou tal coisa’. Ia lá, mexia na minha prescrição e colocava outra. Então, isso chegou a acontecer. E aí eu acabo não exercendo aquilo que eu estudei.”
O monitoramento de entrega de kit é, também, de acordo com as informações, feito diariamente. Além disso, os médicos são obrigados a trabalhar mesmo estando positivados para COVID-19. Testes e escalas de dias trabalhados são apresentados como prova.
Além disso, o uso da flutamida, remédio destinado ao tratamento de câncer de próstata, é investigada pelo Ministério Público. Mensagens também são apontadas como prova: “Bom plantão a todos e enfatizo a importância da prescrição da Flutamida 250mg de 8 em 8 horas para todos os pacientes que internarem”, diz um dos diretores.
Ainda, a reportagem da "Globonews" teve acesso a prontuários médicos de pacientes que foram internados na Prevent Senior, receberam as medicações do “kit Covid” e foram a óbito. Um dos pacientes foi submetido a uma sessão de ozonioterapia, prática que é proibida pelo CFM.
A Prevent Senior, por meio de nota oficial, afirmou que “jamais coagiu médicos a trabalhar doentes” e que respeita a autonomia de seus profissionais.
“A Prevent Senior jamais coagiu médicos a trabalhar doentes, o que foi atestado recentemente por vistorias de conselhos de classe. Todos os profissionais prestadores de serviço afastados, aliás, continuaram a receber salários. Sobre os tratamentos, a empresa dá aos médicos a prerrogativa de adotar os procedimentos que julgarem necessários, com toda a segurança e eficiência e sempre de acordo com os marcos legais, notadamente seguindo as diretrizes do Conselho Federal de Medicina. Entretanto, como a Prevent Senior não teve acesso aos supostos documentos obtidos pela Globonews, não pode esclarecer detalhadamente os questionamentos", disse em nota.