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Estado de Minas

Fabricante de ivermectina mantém site de grupo médico que defende Kit COVID

A Associação Médicos pela Vida reúne apoiadores de remédios sem eficácia comprovada contra a doença, e é o principal grupo a levantar essa bandeira no Brasil


15/04/2021 12:59 - atualizado 15/04/2021 14:56

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Apesar de tanta polêmica, muitos médicos continuam apoiando o chamado tratamento precoce para o coronavírus, indicando remédios sem eficácia comprovada e com risco de eventos adversos graves. Agora, uma empresa que fabrica a ivermectina está bancando o endereço eletrônico de associação de médicos que preconizam o tratamento precoce, o que pode ferir os preceitos da ética médica.

A Associação Médicos pela Vida é o principal grupo de profissionais que defendem o uso de remédios como
hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina.

Agora, o complexo empresarial goiano Grupo José Alvez, que produz a ivermectina, está responsável por desenvolver e gerenciar a plataforma on-line disponibilizada no site da associação aos médicos interessados no tema do tratamento precoce. O site iMed foi desenvolvido e é mantido pelo grupo, proprietário da farmacêutica Vitamedic, umas das fabricantes da ivermectina no Brasil.

A ligação entre a entidade e a empresa, que pode configurar conflito de interesse segundo o Código de Ética Médica, foi exposta em uma das lives fechadas promovidas pela associação. O elo foi revelado pelo jornalista independente Victor Hugo Viegas Silva em sua página no site Medium e confirmado pelo Estadão.

Apesar do claro apoio do grupo empresarial fabricante da ivermectina aos médicos defensores do tratamento, a associação não deixa explicado nada sobre o que poderia ser conflito de interesse, o que é obrigatório pelo Código de Ética Médica que, no artigo 109, prevê que relações de médicos com a indústria farmacêutica não são proibidas, mas devem ser declaradas.

Foi iniciativa da entidade a publicação de informes publicitários favoráveis aos remédios em oito jornais de grande circulação no Brasil, em fevereiro, e a instalação de outdoors preconizando a terapia em diversas cidades pelo país. Integrantes da associação também já teriam se encontrado com Jair Bolsonaro, outro entusiasta das terapias inócuas.

Desde março, a associação passou a realizar no seu site lives exclusivas para médicos com orientações sobre os protocolos do tratamento. A entidade disponibilizou aos profissionais com CRM um canal em que, além de acesso às transmissões ao vivo, os médicos podem assinar os manifestos do grupo, se registrarem em um cadastro público de doutores que prescrevem os remédios e acessar materiais sobre o tema. 

Uma das formas de atuação com o site é que o grupo empresarial vai abastacer a plataforma com uma biblioteca na qual serão publicados artigos que "comprovam as evidências científicas" do tratamento precoce e notícias sobre o tema, registrando todas as notícias veiculadas na mídia sobre cidades, prefeituras e empresas que estão adotando o tratamento precoce, e quais são os impactos em adotá-lo.

O total de unidades vendidas de ivermectina no Brasil subiu 557% em 2020 no paralelo com 2019, conforme o Conselho Federal de Farmácia (CFF). Mas seu uso foi desaconselhado inclusive pela farmacêutica Merck (MSD no Brasil), fabricante orignal do fármaco, o que foi contestado pela Vitamedic, laboratório que produz a versão genérica da ivermectina no Brasil.

O uso indiscriminado desse medicamento e outros do chamado kit-COVID vem sendo associado a desequilíbrios graves de saúde, entre eles hepatite medicamentosa. Ao menos cinco pacientes foram parar na fila do transplante de fígado após ter sido detectado o problema.


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