Em reunião na manhã desta sexta-feira (16), no último dia da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os participantes pediram "competência e lucidez" na condução do país e destacaram o direito constitucional à saúde, especialmente em tempos de pandemia, combateram atitudes negacionistas, exigiram mais atenção à ciência e defenderam o auxílio emergencial "para salvar vidas e dinamizar a economia".
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COVID-19: estudos indicam anticorpos em leite materno de mulheres vacinadasPandemia pode manter níveis críticos ao longo de abril, diz FiocruzMinistério recomenda que mulheres adiem gravidez durante pico da pandemiaNovos exames detectam câncer no fígado e nos ossos do prefeito Bruno CovasEm documento dirigido ao povo brasileiro, a instituição presidida pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, ressaltou que "na sociedade civil, os três poderes da República têm, cada um na sua especificidade, a missão de conduzir o Brasil nos ditames da Constituição Federal, que preconiza a saúde como 'direito de todos e dever do Estado', o que exige competência e lucidez."
Para os bispos, são inaceitáveis discursos e atitudes que negam a realidade da pandemia, desprezam as medidas sanitárias e ameaçam o estado democrático de direito. Realizada pela primeira vez em modo virtual, a assembleia geral, órgão máximo da CNBB, teve a participação de 400 pessoas, entre bispos, padres e assessores.
Diz ainda o documento: "É necessário atenção à ciência, incentivar o uso de máscara, o distanciamento social e garantir a vacinação para todos, o mais breve possível. O auxílio emergencial, digno e pelo tempo que for necessário, é imprescindível para salvar vidas e dinamizar a economia, com especial atenção aos pobres e desempregados. É preciso assegurar maiores investimentos em saúde pública e a devida assistência aos enfermos, preservando e fortalecendo o Sistema Único de Saúde (SUS). São inadmissíveis as tentativas sistemáticas de desmonte da estrutura de proteção social no país."
Na avaliação da CNBB, o Brasil experimenta o aprofundamento de uma grave crise sanitária, econômica, ética, social e política, intensificada pela pandemia, "que nos desafia, expondo a desigualdade estrutural enraizada na sociedade brasileira". E mais: "Embora todos sofram com a pandemia, suas consequências são mais devastadoras na vida dos pobres e fragilizados."
Educação e armas
Os bispos rejeitam energicamente qualquer iniciativa para desobrigar os governantes da aplicação do mínimo constitucional do orçamento na saúde e na educação. "A educação, fragilizada há anos pela ausência de um eficiente projeto educativo nacional, sofre ainda mais no contexto da pandemia, com sérias consequências para o futuro do país. Além de eficazes políticas públicas de Estado, é fundamental o engajamento no Pacto Educativo Global, proposto pelo papa Francisco."
Os bispos se mostraram preocupados com o grave problema das múltiplas formas de violência disseminada na sociedade, favorecida pelo fácil acesso às armas. "A desinformação e o discurso de ódio, principalmente nas redes sociais, geram uma agressividade sem limites. Constatamos, com pesar, o uso da religião como instrumento de disputa política, justificando a violência e gerando confusão entres os fiéis e na sociedade."
Desigualdade social
A CNBB destaca ser cada vez mais necessário superar a desigualdade social no país. "Para tanto, devemos promover a melhor política, que não se submete aos interesses econômicos, e seja pautada pela fraternidade e pela amizade social, que implica não só a aproximação entre grupos sociais distantes, mas também a busca de um renovado encontro com os setores mais pobres e vulneráveis".
Um ano após firmado o Pacto pela Vida e pelo Brasil, com a união de várias instituições, tendo à frente a CNBB, os bispos fazem um apelo para que seja mantido o compromisso entre sociedade civil, igrejas, entidades e movimentos sociais.
"Assumamos, com renovado compromisso, iniciativas concretas para a promoção da solidariedade e da partilha. A travessia rumo a um novo tempo é desafiadora, contudo, temos a oportunidade privilegiada de reconstrução da sociedade brasileira sobre os alicerces da justiça e da paz, trilhando o caminho da fraternidade e do diálogo. Como nos animou o papa Francisco: 'o anúncio Pascal é um anúncio que renova a esperança nos nossos corações: não podemos dar-nos por vencidos!'"
Além de dom Walmor, assinaram o documento divulgado nesta sexta-feira: dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) e primeiro vice-presidente, dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima (RR) e segundo vice-presidente, dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB.