O relato dela se une ao de outras mulheres de todo o Brasil, que denunciam abuso por parte de pais e injustiça por parte do próprio poder judiciário. Leia abaixo o relato completo:
"Sou mãe de um menino de 11 anos. Me separei em 2011, quando meu filho tinha um ano e meio. Apesar de eu insistir em dividir por igual a permanência e os cuidados entre ambos os pais, meu filho demonstrava grande resistência em permanecer com o pai. Cheguei a procurar a terapeuta do pai a fim de ajudar no estreitamento do vínculo entre pai e filho. Ele perguntava ansioso com quem ele voltaria, quando eu o levava à escola, e chorava quando ficava sabendo que iria para a casa do pai. Ele vomitava com frequência e tinha diarreia.
A tonalidade de suas fezes empalidecia, de forma que suspeitei de hepatite. Fizemos exames, mas nada foi constatado. Com o tempo, fui percebendo que esses sintomas aconteciam associados às visitas. Em novembro de 2012, ele chegou visivelmente transtornado, chorando e vomitando. Ao higienizá-lo, reparei que estava com o ânus dilatado e como um reflexo, perguntei se o pai estava mexendo no bumbum dele. Para meu espanto ele respondeu que sim, e que doía muito.
Logo em seguida, ficou assustado com a revelação. Perguntei com que ele mexia, mas ele apenas respondeu. "Não, para! É só brincadeirinha". Levei-o a um hospital em São Paulo especializado em violência doméstica, em São Paulo, especializado em violência doméstica e relatei o fato. Lá, me encaminharam para a delegacia, dizendo que só me atenderiam se eu lavrasse um boletim de ocorrência.
Eu pedi que antes tentassem conversar com meu filho para entender se era isso mesmo que estaria acontecendo, porém eles disseram que só nos atenderiam após lavrarmos o boletim de ocorrência. Eu não queria acusar sem saber, então tentei levar meu filho em médicos e hospitais particulares, mas nenhum quis fazer um exame sexológico no meu filho sem um boletim de ocorrência.
No dia seguinte, me ligaram do hospital dizendo que eu havia sido mal orientada e que eles nos atenderiam sem o boletim. Me dirigi novamente ao hospital, e lá disseram a mesma coisa que no dia anterior, que sem o B.O. não me atenderiam. Pedi então que me orientassem em como obter alguma prova, em caso de isso ter realmente acontecido. A recepcionista sugeriu que eu gravasse um vídeo. Então pedi uma sala. Lá perguntei ao meu filho como teria acontecido o "dodói" do bumbum dele, mas ele negava a existência de qualquer dodói.
Perguntei então se ele queria que eu o protegesse ou que o pai continuasse fazendo. Ele respondeu que queria que eu o protegesse. Então expliquei que para protegê-lo eu precisava que ele contasse o que estava acontecendo. Ele relatou que o pai o incomodava muito quando ele estava dormindo.
Perguntei como, ele fez gemidos sexuais e choramingou. Depois ele pediu papel e caneta e desenhou narrando a seguinte frase: "Doi assim, ó: Primeiro ele cresce, daí ele vai crescendo, crescendo, metendo, metendo...". Ao ouvir essa frase, fiquei em choque. Como poderia uma criança com então 3 anos estar dizendo isso em relação a um "dodói" que o pai teria feito nele?
Nesse momento, a assistente social do hospital aceitou me ouvir sem boletim de ocorrência. Após eu narrar-lhe toda a história, ela me orientou a voltar para casa e pensar mais um pouco... Não consegui dormir a noite inteira, e no dia seguinte, após levar meu filho ao pediatra, ao conselho tutelar e a outro hospital sem ter respostas, fui à delegacia e lavrei o boletim de ocorrência relatando todo o ocorrido.
Relatei na delegacia que o pai do meu filho havia me confidenciado ter sido vítima de abuso sexual na infância. Ele relatou o fato para justificar a compulsão que ele possui por inserir objetos no ânus. Embaixo de sua pia havia inúmeros objetos como garrafas de diversos formatos e diversos utensílios eróticos em formatos fálicos, inclusive uma réplica de um penis de proporções gigantescas, o que fez com que minhas suspeitas se agravassem. Relatei também esses indícios na delegacia.
De lá, fomos levados novamente ao primeiro hospital que procurei, onde foi feito o exame que nada mais era do que uma fotografia do ânus do meu filho. Quando saiu o resultado do exame, veio descrito como "prejudicado". Procurei atendimento psicossocial junto ao Instituto Sedes Sapientiae e enquanto eu e meu filho estávamos passando por triagem, fui notificada da ação de guarda que o pai do meu filho movera contra mim.
Essa notificação me surpreendeu, primeiro porque esse pai nunca demonstrara anteriormente interesse algum em possuir a guarda do filho, deixando-o sempre em último plano de suas prioridades, em segundo lugar por que a inicial era de um teor fantasioso do qual nem a pior das novelas seria capaz de reproduzir. Nunca pensei que iriam acreditar em uma só palavra do que estava escrito ali, pois as mentiras eram tão estapafúrdias que chegavam ao lirismo, como por exemplo dizer que eu haveria sido criada em uma comunidade nudista numa praia, no litoral paulista, onde teria sido abusada por todos durante minha infância.
Pensei que com essa inicial o pai do meu filho seria mandado direto para a cadeia, afinal eu nunca sequer morei na praia, e tal comunidade nudista jamais existiu. O boletim de ocorrência deu início a um inquérito que veio a ser arquivado por "falta de provas". A partir daí, praticamente 2 anos após o fato, iniciaram-se as perícias psicossociais no processo de guarda.
Meu filho havia passado todo esse tempo com visitas supervisionadas ao pai e em terapia, onde foi trabalhado o ódio que ele trazia pela figura paterna. Ao longo desse período, sua relação com o pai foi se ajustando e jamais ele foi sugestionado a lembrar ou repetir o relato, de forma que esqueceu, como crianças pequenas esquecem fatos que não querem lembrar. Durante as sessões, a terapeuta do meu filho percebeu fortes indícios de que ele haveria sofrido abuso sexual, porém ele jamais verbalizou o ocorrido com claras palavras. Era através das representações lúdicas que revelavam-se as evidências.
Meu filho demonstrava aversão à figura paterna através dos bonecos nomeados como pai nas brincadeiras. Jogava-os pela janela, enfiava espada no ânus dos bonecos, tinha horror aos bonecos sexuados e vontade de ser menina. Com o tempo, a terapeuta foi tratando todas essas manifestações, sempre através de brincadeiras.
Depois de quase 2 anos de sessões semanais de terapia, o perito forense encontrou uma criança praticamente regenerada e tratou de fazer um estrago. Desqualificou e deturpou todo o meu relato. Definiu, porque quis, que meu filho não tinha uma boa relação com a mãe, e que a melhor relação era com o pai.
E disse que o tipo de abuso ao qual eu queria "dar a entender" ao relatar o tom claro das fezes seria o mais violento de todos, pois eu estaria sugerindo que haveria esperma nas fezes do meu filho, coisa que eu sequer imaginaria, pois nada tinha a ver a cor pálida das fezes com sinais de presença de esperma.
O perito sugeriu a inversão da guarda com visitas supervisionadas para mim, o que foi sentenciado pela juíza, que aguardou o último dia do ano forense, para, em uma sexta-feira de um fim de semana em que meu filho passaria com o pai.
Neste dia, por "coincidência", o pai pegou meu filho mais cedo e logo em seguida a advogada dele nos enviou e recém-proferida sentença concedendo a liminar de reversão de guarda ao pai com visitas assistidas para mim. Meu filho pensava que iria passar só um final de semana, mas a partir daquele dia não mais voltou para casa. Nem à escola, natação, kung-fu, terapia, pediatra, dentista. Foi arrancado de sua cidade para morar em um apartamento de 14º andar sem telas de proteção sequer vistoriado para checar a segurança da criança.
À mãe, à família materna e aos amigos mais próximos restaram as visitas assistidas quinzenais. A pessoa da mãe foi desqualificada e passou a ser supervisionada por funcionárias do pai. Por mais traumática que tenha sido essa mudança, a criança não foi colocada em terapia. Depois de dois anos pedindo pra voltar pra casa, hoje meu filho não mais se queixa. Aceita a vontade do pai. Seus direitos humanos foram e estão sendo violados, mas ele não tem a quem recorrer.
Mudei-me para a cidade onde ele foi morar, a fim de estar próxima, acreditando que conseguiria, através do círculo social da escola e de amigos, retomar uma vida normal, mas venho sendo impedida pelo pai e pela família paterna a participar do grupo de amigos do meu filho. Contratei novos advogados que perderam o prazo para o preparo da apelação da sentença que me tirou a guarda e meu processo foi extinto. Depois de quase três anos tentando, por via amigável, retomar a vida normal sem sucesso, ficou evidente que esse pai é perverso e está se valendo do poder que lhe foi concedido para destruir nossas vidas.
Tentei mover nova ação, apresentando todas as provas e requerendo a desobrigação imediata das visitas assistidas com pedido de guarda compartilhada em caráter liminar a fim de evitar novos 5 anos ou mais de litígio, porém nada do que pedi foi apreciado, e assim desisti da ação pois já estamos sendo violentamente prejudicados por esse processo há mais de 5 anos. Minha vida e de meu filho foram destroçadas pelo próprio sistema judiciário brasileiro. Só me restou pedir apuração das irregularidades de meu processo para que me restituam meu filho e nossa dignidade humana."