Em entrevista exclusiva ao jornal Correio Braziliense, três cientistas laureados com o Prêmio Nobel de Medicina advertiram que o uso de máscaras, o distanciamento social e a frequente higiene das mãos, combinados com a vacinação, são as únicas medidas capazes de deter a pandemia da COVID-19. O australiano Peter C. Doherty, 80 anos, professor do Departamento de Imunologia e Microbiologia da Universidade de Melbourne, ganhou o renomado prêmio em 1996, por ter provado, 23 anos antes, como o sistema imunológico reconhece as células infectadas por vírus.
Os norte-americanos Charles M. Rice, 68, da Universidade Rockefeller (Nova York), e Harvey Alter, 85, foram agraciados com o Nobel de Medicina em 2020 por terem ajudado na descoberta do vírus da hepatite C. Rice foi enfático ao citar diretamente o governo do Brasil como o responsável por milhares de mortes evitáveis durante a pandemia da COVID-19.
Como o senhor vê o padrão da pandemia da COVID-19? Alguns países, especialmente o Brasil e a Índia, assistem a um aumento no número de infecções e de mortes...
Peter C. Doherty: A expectativa tem sido a de que a "imunidade de rebanho", devido a uma infecção anterior e/ou à vacinação, ocorrerá quando cerca de 70% da população tiver algum tipo de anticorpo contra o Sars-CoV-2. As boas vacinas podem dar melhor proteção do que uma infecção anterior, mas algumas das vacinas que estão por aí podem não ser muito úteis. E isso sem levar em conta a eficácia da vacina em face das cepas mutantes que estão emergindo. Do jeito que as coisas estão, a maioria dos países onde o vírus circula ainda tem um grande número de pessoas vulneráveis. Nesse caso, a prevenção permanece sendo o distanciamento social e as máscaras.
Charles M. Rice: A maior parte dos países, em maior ou menor grau, vê ondas alternativas de picos pandêmicos pontuadas por medidas sanitárias para interromper a disseminação do vírus. Essas medidas (cobertura facial e distanciamento social) funcionam, mas as pessoas, incluindo os governantes, falham em abraçar esse comportamentos simples. Quando uma ampla fração de uma população não está imunizada o vírus continua a circular. Este é um vírus respiratório muito contagioso.
Harvey Alter: É minha opinião que a negação precoce e contínua da gravidade da COVID-19, o não uso de máscaras, o desrespeito ao distanciamento social e a não aceitação de vacinas resultaram em centenas de milhares de mortes evitáveis de outra forma. Isolamento, proteção facial e vacinas, combinados, são muito eficazes e o único caminho para acabar com esta pandemia
O que é necessário para combater a pandemia e como o senhor vê o comportamento de países como o Brasil, cujo governo nega a doença, rejeita o distanciamento social e não vê a vacina como prioridade?
Peter C. Doherty: O Brasil tem feito um tipo de "experimento" em saúde pública, e não vejo ninguém que gostaria de imitar seu exemplo. Sabemos que o que funciona para limitar a disseminação da COVID-19 inclui distanciamento social, lockdown e máscaras. Eu esperava que algumas regiões do Brasil se aproximassem dos 70% de infectados e que veríamos alguma evidência da imunidade de rebanho, mas não sei se isso está ocorrendo.
Para acabar com a pandemia, ainda há um enorme número de pessoas em todo o planeta que não foram infectadas, além de pouco ou nenhum acesso a boas vacinas. Não há evidências de que o Sars-CoV-2 repita o que ocorre com o vírus da influenza (gripe) e se torne menos virulento com as mutações. Estamos nisso há um longo período e precisamos agir corretamente.
Para acabar com a pandemia, ainda há um enorme número de pessoas em todo o planeta que não foram infectadas, além de pouco ou nenhum acesso a boas vacinas. Não há evidências de que o Sars-CoV-2 repita o que ocorre com o vírus da influenza (gripe) e se torne menos virulento com as mutações. Estamos nisso há um longo período e precisamos agir corretamente.
Charles M. Rice: Acho que a crença na ciência e a implementação de políticas inteligentes são fundamentais. É óbvio que harmonizar tais respostas por estado, país e globalmente seria mais eficiente. Na minha visão, e na de muitos outros especialistas, as resposta politizadas e não entusiasmadas do governo do Brasil e da gestão anterior nos Estados Unidos (Donald Trump) são diretamente responsáveis por centenas de milhares de mortes desnecessárias.
O que é um lockdown?
Saiba como funciona essa medida extrema, as diferenças entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas no Brasil não podem ser chamadas de lockdown.
Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil
- Oxford/Astrazeneca
Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
- CoronaVac/Butantan
Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.
- Janssen
A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.
- Pfizer
A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.
Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades
Como funciona o 'passaporte de vacinação'?
Os chamados passaportes de vacinação contra COVID-19 já estão em funcionamento em algumas regiões do mundo e em estudo em vários países. Sistema de controel tem como objetivo garantir trânsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacinação impõem desafios éticos e científicos.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.
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