O ano de 2021 está sendo marcado no Brasil pelo recrudescimento da COVID-19, com sistemas de saúde lutando contra o colapso, novas variantes do coronavírus em circulação, vacinação lenta e número diário de mortes que ultrapassou a barreira das 4 mil vítimas em 24 horas. Além da tragédia interna e dos números estrondosos, o país lida com outra consequência, que ultrapassa fronteiras: o mundo fechou as portas aos brasileiros, afetando o universo dos negócios e do esporte e até da educação. O país ainda virou alvo de piada na França por causa da hidroxicloroquina, que teve o uso defendido no tratamento da doença inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e é adotada por uma corrente de médicos.
De acordo com a plataforma Skyscanner, atualmente apenas sete países mantêm restrições mínimas ou não colocam exigências para a entrada de brasileiros: Bolívia, Costa Rica, México, República Dominicana, Afeganistão, República Centro-Africana e Albânia. Alguns exigem, por exemplo, apenas um certificado com resultado negativo para COVID-19 obtido por meio de um teste PCR, feito dias antes do desembarque. Em alguns casos, o passageiro precisa preencher um formulário.
No entanto, outros países tomaram medidas mais enérgicas em relação ao Brasil, sobretudo no continente europeu. A França, por exemplo, suspendeu todos os voos de origem brasileira por tempo indeterminado. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro Jean Castex. No mesmo dia, deputados franceses riram ao saber que o Brasil ainda indica o uso de hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19, medida considerada ineficaz por especialistas.
“Você (dirigindo-se a um deputado) escreveu ao presidente da República em 2020 para aconselhar a prescrição de hidroxicloroquina (risos ao fundo). Gostaria de avisar que o Brasil é o país onde ela é mais prescrita, senhor deputado. Toda pessoa que sai do Brasil para a França tem que apresentar um teste negativo no embarque, outro na chegada e permanecer 10 dias em isolamento”, disse Castex.
Por outro lado, no dia 16 Portugal decidiu retomar voos com o Brasil e o Reino Unido apenas para viagens essenciais. Até aquela data, o país registrava menos de 10 mortes por COVID-19 por dia em abril. Para manter o rigor, passageiros dos voos dos dois países que enfrentavam restrição, além de outros locais que tenham taxa de incidência igual ou superior a 500 casos por 100 mil habitantes, precisam cumprir uma quarentena de 14 dias antes de circular pelo país.
Até vizinhos do Brasil fecharam as portas aos brasileiros. Voos para a Argentina, por exemplo, estão suspensos desde 27 de março. A entrada só é autorizada caso o visitante seja parente de um argentino e tenha um teste negativo para a COVID-19 em mãos. O Chile também endureceu as regras para aceitar passageiros do Brasil ou que tenham passado pelo território brasileiro nos últimos 14 dias. É obrigatória uma quarentena de 72 horas em um hotel, mesmo com teste PCR negativo.
A plataforma Skyscanner mostra que um total de 116 países mantém restrições fortes para brasileiros e outros 102, moderadas. O principal temor dos estrangeiros é com a variante P1, conhecida como a “variante de Manaus”, cuja transmissibilidade ocorre com facilidade maior.
ESPORTES O temor dos países em receber brasileiros também afetou o mundo do esporte. A Seleção Brasileira Feminina de Basquete é um exemplo claro. O grupo disputaria o Torneio Sul-Americano que acontecerá na Colômbia, entre os dias 10 e 16 de maio. No entanto, as jogadoras foram vetadas da competição pela Confederação Sul-Americana de Basquetebol (Consubasquet).
Em fevereiro, a Seleção Brasileira Masculina de Basquete já havia sido proibida de entrar na Colômbia pelo Ministério da Saúde local. Devido ao veto, o grupo de atletas não pôde participar das duas últimas rodadas das eliminatórias da AmeriCup.
Na segunda-feira (19/4), as delegações do São Paulo e do Palmeiras receberam o veto do Instituto Peruano do Esporte (IPD, na sigla em espanhol) para treinar no Peru, visando aos jogos no país pela Copa Libertadores da América. A entidade negou um pedido da Federação Peruana de Futebol (FPF) para que as equipes desempenhem atividades antes das partidas oficiais.
Um protocolo foi feito especialmente para times brasileiros no Peru. Ao chegar no país, as delegações devem ir direto do aeroporto para o hotel, saindo do local apenas para o estádio no dia das partidas, retornando ao hotel em seguida e depois ao aeroporto de volta ao Brasil.
NEGÓCIOS Em março, um navio que saiu do Brasil aportou na Islândia com mais da metade dos tripulantes infectados com a variante P1 da COVID-19. Eles eram chineses, mas o navio Taurus Confidence saiu de São Luís do Maranhão levando alumina calcinada para a cidade islandesa de Reyðarfjörður.
A Islândia foi o primeiro país da Europa a controlar a COVID-19 e não registrou presença da variante brasileira. Para manter bom desempenho no combate à pandemia, os tripulantes do navio foram mantidos em isolamento e os não-infectados separados na embaração, sob vigilância policial.
No ano passado, devido à pandemia, as Filipinas chegaram a suspender importações de carne de frango do Brasil, depois que uma cidade na China alegou ter encontrado vestígios da COVID-19 em um carregamento de asas de frango. O embargo foi feito em outubro e suspenso apenas em dezembro.
EDUCAÇÃO Em sua edição de sábado (24/4), o Estado de Minas mostrou a dificuldade de estudantes brasileiros que conseguiram bolsas para universidades norte-americanas – seja de graduação, mestrado ou doutorado – mas não conseguem tirar o visto para entrar nos Estados Unidos, já que o processo de emissões foi suspenso como efeito colateral da pandemia. Jovens viajam até mesmo para outros países com objetivo de tentar autorização para embarcar rumo aos seus sonhos. Mais de 1 mil estudantes brasileiros se uniram para enviar uma carta pedindo intervenção do Ministério das Relações Exteriores. O Itamaraty informou que vem fazendo o possível para alcançar “solução satisfatória que atenda ao pleito dos estudantes”.
O TAMANHO DA TRAGÉDIA
O Brasil atingiu ontem o total de 14.340.787casos confirmados e 390.747 mortes por COVID-19 acumulados desde o início da pandemia, segundo dados do Ministério da Saúde. A incidência é de 6.825,2 por 100 mil habitantes, com mortalidade de 186 por 100 mil. Em Minas Gerais, foram registrados novos 331 óbitos, que chegaram a 32.318 ontem, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde. O total acumulado de casos é de 1.323.153. A doença provocada pelo coronavírus continua a provocar tragédias e revelar a deterioração dos sistemas de saúde também em outras partes do mundo: a Índia atingiu ontem níveis recordes de infecções – novas 350 mil– e mortes – mais 2.729, enquanto no Iraque 82 pessoas morreram no incêndio de um hospital para pacientes com COVID-19. Os óbitos passam de 190 mil no gigante asiático, de 1,3 milhão de habitantes. O mundo soma 3,1 milhões de mortes e mais de 146 milhões de infectados.