O número de brasileiros que estão com a segunda dose da vacina contra COVID-19 atrasada já chegou a 5 milhões de pessoas, devido à falta de imunizantes. São 4.519.973 pessoas sem a segunda dose da CoronaVac e outras 532.737 sem a da AstraZeneca/Oxford, segundo dados com base nos números de vacinados do Ministério da Saúde e disponíveis no site Open Datasus.
A Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Butantan, responsáveis pela fabricação dos dois principais imunizantes aplicados no Brasil, enfrentam dificuldades na produção de vacinas devido à falta do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) — cujas remessas estão travadas pela burocracia chinesa. Na última segunda-feira, a Fiocruz anunciou que será necessário interromper amanhã a produção até a chegada do novo lote de insumos. Já o Butantan suspendeu a fabricação na última sexta-feira também por causa dos insumos.
A dificuldade para trazer o IFA impacta no cumprimento do Plano Nacional de Imunização (PNI). Segundo o ministério, do total de doses contra a COVID-19 distribuídos no país, de janeiro até o momento, 70% foram da CoronaVac, 29,3% da Oxford/AstraZeneca e 0,7%, da Pfizer.
Jonas Brandt, epidemiologista e professor de Saúde Coletiva na Universidade de Brasília (UnB), explica que a desorganização tem sido um adversário mais implacável do que o próprio novo coronavírus.
“Outro problema seríssimo no país é a falta de uma organização para enfrentamento da pandemia. Então, os níveis de transmissão viral no Brasil permanecem muito altos. Eles se reduziram, nós já não estamos na fase crítica, como estivemos há mais de quatro mil mortes diárias. Mas ainda estamos com um número altíssimo de óbitos”, salientou.
Segundo o epidemiologista, as dificuldades de investimento em ciência no país piora a situação da pandemia. “No momento em que deveríamos estar com as universidades em funcionamento, plenamente operacionais, de modo a formar e fortalecer os recursos humanos para o sistema de saúde, ocorre um cenário no qual as instituições não conseguem dar conta em formar mais jovens na ciência”, destacou.
O Butantan espera receber, no próximo dia 26, uma nova remessa de IFA, que garantirá a produção de cerca de 7 milhões de doses da CoronaVac. A Fiocruz, responsável pela produção da Oxford/AstraZeneca, espera para o próximo sábado nova remessa do insumo, destinada à produção de mais de 12 milhões de vacinas.