Moradores de Edilândia vivem em clima de tensão desde que Lázaro Barbosa de Sousa foi visto no distrito de Cocalzinho (GO), nessa terça-feira (15/6). Após matar quatro integrantes de uma família no Incra 9, em Ceilândia Norte, o acusado tem cometido roubos e invadido chácaras na região, onde fez novos reféns.
Darlan faz visitas frequentes à região nos fins de semana, onde passou parte da infância. “Sempre foi um local muito tranquilo. É uma cidade pacata, com moradores receptivos. Temos diversas festividades, folias, cavalgadas, tudo em clima calmo. Por isso, a chegada desse maníaco assusta tanto”, relata.
Morador de Ceilândia, o servidor público Darlan de Oliveira, 42 anos, esteve no distrito para buscar os avós. “Os dois estão com muito medo de ficar aqui (em Edilândia), assim como toda a população. Eles só voltam para cá quando o criminoso for preso”, destaca. Darlan conta que alguns moradores deixaram as fazendas e, agora, reúnem-se em grupos de até 10 pessoas para dar comida aos animais de criação. “Eles precisam voltar às chácaras para alimentar os porcos, as galinhas e demais bichos. Como está com medo, a comunidade se reuniu e, em grupos, visita as propriedades. Assim, eles (os moradores) se sentem um pouco mais seguros", comenta.
Estado de alerta
A situação também assusta Expedita Pereira de Freitas, 80. A filha dela, Margarida Maria Pereira, 60, mora há mais de 30 anos no distrito e afirma que os moradores estão preocupados. “Minha mãe é hipertensa. Qualquer barulho que ela ouve faz com que fique assustada. Nestes dias, ela está à base de remédios para se acalmar e conseguir controlar a pressão (arterial)”, conta.
Além do medo da violência, a chuva na madrugada de terça-feira (15/6) tornou a noite dos habitantes menos tranquila. “O barulho do vento fazia a gente ficar em estado de alerta o tempo todo. Até pensamos em mandar minha mãe para a casa de meu irmão, em Goiânia, mas também tememos a COVID-19”, relata Margarida.
O único motivo para a família se sentir um pouco mais segura, segundo ela, é o fato de morar perto do posto de gasolina que ficou definido como base para as equipes da força-tarefa. Também morador de Edilândia, o produtor rural José Saraiva Matos, 62, acrescenta que todos os fazendeiros da área têm mudado a rotina. “Fechamos as porteiras cedo e ficamos atentos. Qualquer movimentação estranha faz com que acionemos a polícia. E ninguém mais sai à noite”, ressalta.
Solidariedade
Durante as buscas por Lázaro, moradores e comerciantes de Edilândia (GO) e do Incra 9 se juntaram para ajudar os cerca de 200 policiais e bombeiros que atuam na região. Um grupo de aproximadamente 25 voluntários tem fornecido refeições para as forças de segurança e pretende manter a iniciativa até que termine a caçada pelo suspeito.
O produtor digital Lucas Mendonça, 26, surgiu com a ideia. Morador do município — um dos principais em que atuam as equipes (leia Locais das buscas) —, ele diz acompanhar a "dedicação dos policiais" dentro da mata e no cerco montado nas rodovias. Alguns não voltaram para casa desde o começo da caçada, segundo o jovem. "Lancei a ideia (das refeições) no Instagram, e diversas pessoas se mobilizaram e passaram a fazer doações. O padre Cleiton Torres cedeu o espaço da igreja (do distrito) e começamos a servir os lanches lá. É uma forma de agradecer por tudo o que eles estão fazendo", afirma.
O grupo prepara os alimentos na capela Nossa Senhora de Fátima, onde fazem café da manhã, almoço e jantar para os policiais. A ação começou na noite de segunda-feira (14/6). A estudante Lanna Gabrielly, 16, é uma das voluntárias. "Aqui, todo mundo faz um pouco de tudo. Eu arrumo mesa, ajudo a cortar os legumes, organizo e entrego os lanches. Sabemos que isso é o mínimo, porque alguns passam o dia e a noite na mata. Essa é uma forma de mostrar gratidão por eles se arriscarem em nome de nossa segurança", avalia a moradora de Edilândia.
O trabalho voluntário da equipe ajuda a população a se distrair do medo, de acordo com a cobradora de ônibus Analice Teixeira, 26. Ela mora no município há quatro anos. "O clima na cidade é de muita tensão, e temos visto o esforço das equipes de buscas. A região aqui é enorme, e fazer o trabalho que estão fazendo é muito difícil", opina a jovem.
Além de usar recursos próprios, a comunidade de Edilândia recebeu doações de moradores de Ceilândia. Uma das pessoas a organizar os repasses é Robson Pereira da Silva, 50, morador do Incra 9 e produtor rural. Ele era vizinho da família Vidal, assassinada na quarta-feira (9/6). "Eu era amigo desde moleque do Cláudio (Vidal, empresário e pai dos dois meninos mortos). Jogávamos bola na rua na infância. Por isso, estamos nos mobilizando", destaca.
Robson acrescenta que auxiliou nas buscas por Cleonice Vidal, quando a empresária era considerada desaparecida. “Hoje (terça-feira), quando ficamos sabendo do projeto da igreja, decidimos coletar doações dos moradores de Ceilândia e trazer para cá. Estamos voltando (para o Incra 9) para pegar botijões de gás e, à noite, retornamos para Edilândia. É o que podemos fazer para ajudar a pôr fim a esse pesadelo”, completa.
Colaborou Samara Schwingel