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Estado de Minas ASSÉDIO

MP acusa colégio tradicional de omissão em denúncias de assédio sexual

Colégio Santo Inácio, um dos mais tradicionais do Rio, teria sido omisso após denúncias de alunas envolvendo assédio praticado por professores


17/06/2021 10:21 - atualizado 17/06/2021 11:36

(foto: Divulgação)
O Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) ajuizou na segunda-feira (14/6), uma ação civil pública contra o Colégio Santo Inácio, uma das escolas mais tradicionais do Rio de Janeiro, situada em Botafogo, na zona sul da capital. A direção do colégio é acusada de não ter tomado providências ao receber denúncias de assédio sexual supostamente praticado por professores contra alunas.

Segundo o MP-RJ, as práticas ocorriam "de forma reiterada, há anos, envolvendo turmas que se formaram antes mesmo de 2016". O colégio diz ter tomado providências nos últimos anos e criado documento com condutas aceitáveis no ambiente escolar.

Na ação, proposta pela 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Infância e da Juventude e pela 3ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Proteção à Educação do Rio, o MP-RJ requer à Justiça o afastamento da diretora acadêmica Ana Maria Bastos Loureiro e do coordenador de Ensino Médio, Marcos Vinicius Borges da Silva Machado, a adoção de medidas administrativas e pedagógicas e a condenação ao pagamento de indenização pelos danos materiais e morais individuais, além da aplicação de multas.

A ação teve origem em dois inquéritos civis instaurados a partir do recebimento de denúncias, por meio da Ouvidoria do MP. Segundo a Promotoria, alunas narraram casos de assédio sexual que ocorreram várias vezes, por palavras, conversas indesejáveis, piadas de cunho sexual, contato físico sem consentimento e convites impertinentes. Constatou-se que as práticas relatadas ocorriam de forma reiterada, há anos, envolvendo turmas que se formaram antes mesmo de 2016. Também houve, conforme a denúncia, assédio moral a funcionárias.

Para o MP-RJ, a escola não acolheu nem tomou providências após receber as denúncias. Esses fatos ficavam envolvidos numa atmosfera de silêncio e as vítimas, adolescentes, não recebiam o acolhimento e a credibilidade devidos, diz o Ministério Público. "A postura (do colégio) foi não dar encaminhamento tempestivo às violações relatadas, para adoção de medidas protetivas às adolescentes (acolhimento, escuta ativa e empática, validação de sentimentos e tratamento multidisciplinar) e sancionatória para os agressores".

Antes de impetrar a ação, o MP-RJ tentou firmar com o colégio um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), mas, segundo a instituição, o colégio se recusou, o que levou à propositura da ação.

O MP-RJ pede à Justiça que, em decisão liminar (imediata e provisória), obrigue o Santo Inácio a afastar a diretora acadêmica e o coordenador do Ensino Médio no prazo de um mês, sob pena de multa diária de R$ 3 mil, a ser revertida aos fundos Municipal e Estadual de Apoio aos Direitos da Criança e Adolescente (FMDCA e FEDCA).

Requer ainda que a Justiça condene o colégio a, no mesmo prazo máximo de 30 dias, sob pena de multa diária de R$ 500, adotar protocolo de recebimento e registro de demandas de qualquer natureza por parte dos alunos e implementar fluxo de atendimento e encaminhamento à rede do sistema de garantia de direitos e articular com os conselhos representativos para ações de fomento a espaços de defesa de direitos humanos, equidade de gênero e combate à violência.

A Promotoria pede ainda que a Justiça determine à escola contratar empresa ou profissional com comprovada experiência na abordagem e escuta de vítimas de violência, para capacitar todos os profissionais para a escuta de crianças e adolescentes, enfatizando que eles devem identificar, atender e dar encaminhamento correto a situações de violência ocorridas ou reveladas no âmbito escolar; contratar psicóloga; providenciar local adequado de apoio e suporte para recebimento de denúncias; e construir e acompanhar projeto junto aos pais e colaboradores que inclua palestras e campanhas para profissionais, famílias e alunos.

Completam a ação civil outros pedidos, como a inclusão, na grade escolar, a partir deste ano, da disciplina de Direitos Humanos e a elaboração de cartilha sobre formas de identificação e prevenção de violência e/ou assédio sexual, entre outros.

O MP-RJ pede também que os réus sejam condenados a pagar três tipos de indenização: pela violação aos direitos individuais homogêneos das adolescentes vítimas de assédios sexuais e/ou morais por parte de professores ao longo dos anos, a título de danos morais coletivos; pela violação aos direitos individuais homogêneos dos alunos pela omissão quanto às providências a serem adotadas; e a título de reparação de danos materiais em razão dos gastos efetuados com tratamento psicológico e medicamentos pelas adolescentes vítimas.

Também pede que os réus sejam obrigados a pagar multa por infração administrativa prevista no art. 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente pela violação ao art. 312, tendo em vista a ausência de comunicação à autoridade competente sobre os casos de violação de direitos dos alunos.

Defesa

Em nota, o Colégio Santo Inácio afirmou que "os relatos referentes a episódios ocorridos em 2018 geraram melhorias e avanços". A instituição afirma que várias iniciativas foram adotadas para fortalecer e aprimorar a cultura institucional do cuidado, além do lançamento da Política de Proteção às Crianças e Adolescentes, um documento que define as condutas aceitáveis e recomendadas no espaço escolar para garantir a segurança de todos e as relações saudáveis e adequadas.

Segundo a nota, o colégio investe em medidas institucionais que ampliem e assegurem processos seguros e confiáveis para toda a comunidade educativa. "Paralelamente, estamos respondendo todas as questões que envolvem a esfera legal. Assim continuaremos enquanto persistirem as demandas", conclui o texto.


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