O Brasil recebeu as primeiras 1,5 milhão de doses da vacina da Janssen, que vem reforçar a campanha nacional de imunização contra a COVID-19.
O lote chegou de avião e foi recebido pelo médico Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
O ministro usou o termo "doses de esperança" para comemorar o desembarque do imunizante no país.
"Com esse 1,5 milhão de doses da Janssen, iniciamos uma trajetória que culminará, neste ano, no fornecimento de 38 milhões de doses [desta vacina]. Ela tem uma vantagem de ser dose única e, com isso, nós conseguimos avançar no nosso programa de imunização", afirmou Queiroga.
Inicialmente, o envio de 3 milhões de doses pela farmacêutica estava programado para acontecer na semana passada, mas uma série de atrasos e entraves burocráticos impediram que isso acontecesse.
Uma nova data foi anunciada pelo Ministério da Saúde na segunda-feira (22/06), que também confirmou que o quantitativo remetido ao país seria a metade do que havia sido previsto anteriormente.
Além de ter se mostrado segura e eficaz e ter a aprovação emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde o final de março, essa vacina traz uma vantagem importante: ao contrário dos outros imunizantes já em uso, ela precisa de apenas uma dose para surtir resultado.
Isso amplia o número de pessoas que pode ser protegida e facilita todo o processo, uma vez que não há necessidade de voltar ao posto de saúde após algumas semanas para completar o esquema vacinal.
Com as primeiras doses em território nacional, a pergunta agora é como elas serão distribuídas entre Estados e municípios.
Critérios e debates
Por ora, a distribuição das vacinas da Janssen pelo Brasil está cercado de incertezas.
No comunicado oficial, o Ministério da Saúde diz que "o lote da Janssen será entregue aos Estados e Distrito Federal nos próximos dias".
"A definição da distribuição é realizada semanalmente em reuniões com Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems)", completa a nota.
A BBC News Brasil entrou em contato com o Conass e Conasems para entender como estão essas discussões.
Por meio da assessoria de imprensa, o Conasems disse que desconhece a informação e que o órgão não tem autonomia para definir como será feita a distribuição dessas doses.
Segundo o conselho, isso é feito pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.
O departamento de comunicação do Conass confirmou a informação: os conselhos estaduais e municipais até fazem parte da câmara técnica que assessora o Governo Federal, mas a definição final é do PNI mesmo.
No âmbito estadual, algumas secretarias de saúde se anteciparam e já detalharam informações sobre o envio de doses para os municípios.
O governo do Ceará, por exemplo, soltou um informativo dizendo que irá levar a vacina da Janssen para 184 cidades, para que ela seja usada em indivíduos de 30 a 44 anos.
No início de junho, Pernambuco havia adiantado que focaria a aplicação desse imunizante em algumas cidades maiores, como Recife, Caruaru e Garanhuns.
Outros gestores estaduais esperam os trâmites burocráticos que vão se desenrolar nos próximos dias, como a análise das doses pela Anvisa e a confecção dos rótulos em português, para bater o martelo sobre essa questão.
Uma nota técnica assinada por Francieli Fantinato, coordenadora do PNI, no dia 6 de junho orientava que os Estados concentrassem a distribuição da vacina da Janssen nas capitais nesse primeiro momento.
Isso evitaria demoras no transporte e eventuais desperdícios, pois os lotes que serão entregues inicialmente ao Brasil têm um prazo de validade bem apertado: elas só poderão ser utilizadas até o início de agosto (e isso porque a Anvisa ampliou esse limite, que antes ia só até o dia 27 de junho).
Como aconteceu a liberação desta vacina?
A Anvisa aprovou o uso emergencial da vacina da Janssen no dia 31 de março.
O pedido de autorização foi feito pela empresa ao órgão sanitário brasileiro uma semana antes, em 24 de março.
De acordo com o Ministério da Saúde, já há 38 milhões de doses desta vacina contratadas — 16,9 milhões devem ser disponibilizadas entre julho e setembro, e outras 21,1 milhões entre outubro e dezembro de 2021.
O ministério conseguiu antecipar alguns lotes para junho, com a entrega de 1,5 milhão de doses nesta terça-feira.
A vacina já teve uso emergencial aprovado em outros lugares, como Estados Unidos, Canadá e países da Europa.
Há doses encomendadas pelo programa Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que busca reunir e distribuir vacinas de forma mais igualitária pelo mundo.
Por suas características de armazenamento e aplicação, o imunizante é visto como uma arma importante na luta global contra o coronavírus.
A empresa planeja fabricar neste ano 1 bilhão de doses da Janssen COVID-19 Vaccine (Ad26.COV2-S), o nome oficial da vacina.
Dose única: 'melhor opção em cenários de pandemia'
Diferente de outros imunizantes já usados pelo mundo, esta pode ser guardada em geladeira comum, dispensando armazenamento superfrio, e é aplicada em uma dose única de 0,5 ml.
"Uma vacina em dose única é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a melhor opção em cenários de pandemia", afirmou disse Paul Stoffels, diretor científico da Johnson & Johnson.
Dados apresentados pela empresa mostram 66,9% de eficácia para casos leves e moderados, e 76,7% contra casos graves, após 14 dias da aplicação.
Nos testes, não houve mortes ou internações hospitalares entre voluntários, indicando que a vacina é segura.
O imunizante usa um vírus do resfriado comum, manipulado em laboratório para que seja inofensivo.
Em seguida, ele carrega parte do código genético do coronavírus para o corpo, mas de maneira segura. Isso é suficiente para o corpo reconhecer a ameaça e, então, aprender a combater o coronavírus.
O processo é semelhante à abordagem usada na vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela empresa AstraZeneca.
Seis vacinas aprovadas no Brasil
O uso emergencial é previsto de forma a acelerar a liberação de um tratamento ou uma vacina contra a COVID-19, desde que a instituição responsável apresente dados de ensaios clínicos (testes envolvendo humanos) e continue informando a agência sanitária sobre novas descobertas ou eventos adversos graves — que devem ser notificados em até 24 horas.
Com a decisão sobre o imunizante da Janssen, o Brasil acumula seis vacinas aprovadas, segundo a Anvisa: CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan), AZD1222 (AstraZeneca/Universidade de Oxford), Comirnaty (Pfizer/BioNTech), Ad26.COV2-S (Janssen), Sputnik V (Instituto Gamaleya de Pesquisa) e Covaxin (Bharat Biotech).
Sputnik V e Covaxin, no entanto, foram liberadas com restrições e terão seu uso limitado a uma série de condições num primeiro momento.
Por ora, CoronaVac e Ad26.COV2-S receberam uma aprovação emergencial. AZD1222 e Comirnaty já tem registro definitivo no país.
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