Uma estratégia da defesa do Dr. Jairinho (sem partido) chamou a atenção de integrantes do Conselho de Ética da Câmara do Rio de Janeiro, responsável por aprovar nesta segunda-feira (28/6), por unanimidade, a cassação do parlamentar. O político anexou nas alegações fotos com um dos filhos do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), no que foi lido como uma espécie de intimidação.
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Fotos com filho de Bolsonaro
Entre as imagens anexadas na defesa enviada ao Conselho de Ética, Jairinho escolheu uma na qual aparece ao lado de Henry e da mãe do menino, Monique Medeiros. O documento – ao qual o Estado de Minas teve acesso – apresenta um total de oito fotos, das quais três são repetidas em dois pontos do arquivo.
Em outra imagem, o parlamentar acusado de assassinato posa ao lado de Carlos Bolsonaro (Republicanos) e do presidente da Câmara do Rio, Carlo Caiado (DEM). Vereadores viram as fotos como uma espécie de intimidação.
"Ele se defende gastando sete das 28 páginas da defesa com fotos com outros vereadores, com família... Uma espécie de síntese biográfica. Não é isso que está em questão", diz à reportagem o vereador Chico Alencar (PSOL), integrante da comissão.
"Temos notícias de que há pressão contra o presidente da Câmara, relator... pressão sutil, do tipo: 'deixa isso quieto'".
Na primeira defesa apresentada, Dr. Jairinho enviou um documento com duas páginas. O Estado de Minas procurou na noite desta segunda-feira (28/6) a defesa do parlamentar, representada pelo advogado Berilo Martins da Silva Netto, mas não teve as ligações atendidas. Tão logo o defensor se manifeste, esta reportagem será atualizada.
'Pai carinhoso'
A defesa apresentada ao conselho diz, logo no início do documento, que Jairinho "sempre foi um pai carinhoso, presente, amado pelos filhos e por todos os membros da família, quiçá por 'Henry'". "Ademais pessoa caridosa e carismática formou uma legião de amigos e admiradores dentro da Câmara dos Vereadores".
Os defensores também alegam cerceamento no direito de defesa ao falar em "opinião pública contaminada pela mídia sensacionalista". "Feita açodadamente por conta da campanha midiática do caso do menor 'Henry' que forjou a opinião pública em desfavor do representado, e conduzida por seus pares, de forma a talhar brilhante carreira política".
O argumento é rebatido pelo conselho. "Tanto não houve que ele próprio pode vir ao plenário na quarta-feira (30/6), se a Justiça permitir, já que está preso. Se ele não puder, o advogado dele pode vir e falar por até duas horas para apresentar a defesa", afirma o vereador Chico Alencar.
O vereador Alexandre Isquierdo (DEM), presidente do Conselho de Ética, reforçou o espaço. “Quero enfatizar que a defesa do vereador Jairinho teve amplo espaço tanto na representação quanto nas alegações finais. E dizer que estará aberto na quarta-feira, quando será votado o PL da cassação de mandato do vereador Jairinho, o próprio advogado da defesa terá um espaço de duas horas para assim concluir essa defesa”, informou o parlamentar.
Relator do processo contra o Dr. Jairinho no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o vereador Luiz Ramos Filho (PMN) elencou alguns dos principais pontos que nortearam o relatório final que foi aprovado nesta segunda.
“Elaboramos um relatório orientador embasado em um inquérito policial, embasado nos depoimentos das testemunhas, na quebra de sigilo telefônico da senhora Monique Medeiros com a babá Tainá, no relatório final, nas diligências que esse conselho deliberou sobre a questão da ligação do vereador Dr. Jairinho para o senhor Pablo, membro do conselho do Instituto D’or.”
Homicídio triplamente qualificado
Jairinho e a namorada, Monique Medeiros, mãe de Henry, estão presos desde abril acusados da morte do menino. Eles se tornaram réus pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, tortura de incapaz, coação de testemunhas e fraude processual. Ambos negam as acusações.