O Amazonas não registrou nenhuma morte por covid-19 nesta terça-feira, 6, segundo dados divulgados pelo governo do Estado. Mesmo após essa marca simbólica, especialistas alertam que os registros diários de casos da doença estacionaram em patamares elevados, o que exige cautela e prevenção diante de possíveis mutações do vírus.
Enquanto o trágico auge de 14 de janeiro apontava 176 óbitos e 258 hospitalizações em 24 horas, além dos mais de 5 mil casos só no dia 17 daquele mês, as mortes diárias pelo novo coronavírus no Amazonas se mantiveram abaixo de dez por dia desde o fim de março e inferiores a cinco desde junho, com oscilações de internações pela doença entre 14 e 36 por dia a partir de meados de abril. Os dados são do boletim epidemiológico da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS).
No Serviço de Pronto Atendimento (SPA) do bairro Alvorada, zona oeste de Manaus, o número de pacientes internados voltou ao patamar pré-pandemia, de acordo com um trabalhador do local. Durante o caos da segunda onda, a unidade chegou a registrar 12 mortes em uma só noite. Já o atendimento de alta complexidade ficou restrito a somente dois hospitais. São 339 UTIs exclusivamente para covid disponíveis nas redes pública (265) e privada (74), no qual 62% dos leitos estavam ocupados até terça-feira.
O que sugere uma sensação de alívio, contudo, rememora a experiência do segundo semestre de 2020, quando a região apresentava números reduzidos de casos e mortes pelo vírus. A falsa impressão de que a pandemia estava superada reduziu cuidados, naturalizou aglomerações e a cidade se viu diante da variante P1 (gama), mais transmissível e, por consequência, mais letal.
"Foi exatamente o que aconteceu em julho e agosto de 2020, momentos que marcaram o comportamento dessa curva de hospitalizações", comparou o epidemiologista da Fiocruz-Amazônia, Jesem Orellana. "Esse freio que estamos vendo é modesto e totalmente diferente da curva observada para o número de casos novos, porque nós estamos com praticamente todas as medidas de distanciamento físico em logradouros comerciais e públicos relaxados", observou.
Atualmente, Manaus está na fase laranja de cuidados na pandemia, que é considerada de risco moderado. Há restrição de circulação entre meia-noite e 6h da manhã. Estabelecimentos comerciais em geral estão liberados para receber clientes, com restrições, e as escolas públicas já recebem alunos em regime híbrido, com revezamento.
Enquanto as mortes e hospitalizações dão sinais de queda gradual e motivam o retorno de atividades econômicas, o número de casos se mantém alto, com oscilações entre 200 e 800 por dia, desde abril. "Os contágios estão em um padrão ascendente. Se você olha o número de casos de RT-PCR confirmados nas últimas semanas, você vê que são bem altos. (Nos testes) por antígeno, estamos numa crescente de positividade desses exames. Você tem uma curva ascendente para adoecimentos e infecções e outras que aparentam uma estabilidade. Uma falsa sensação de que as coisas estão bem."
Estado tem 20% da população vacinada com as duas doses
Até 6 de julho, foram aplicadas 2.142.505 doses de vacina contra a covid-19 no Amazonas, o que corresponde ao início do ciclo vacinal para 57% da população adulta do Estado e 20% desse grupo atendido com as duas doses. De acordo com a FVS, 15 municípios já imunizam a partir dos 18 anos e o restante a partir dos 30 anos. Na capital Manaus, a campanha chegou ao grupo de pessoas a partir de 24 anos.
A médica infectologista Ana Galdina observa que a imunização tem sido uma importante aliada para conter novos colapsos no sistema de saúde. "A gente continua tendo novos casos, mas a parcela da população que está precisando de internação caiu drasticamente. Se a pessoa adoecer de forma grave, ela tem assistência à saúde. No ápice do caos, as pessoas morriam sem conseguir atendimento. Esse cenário mudou e parte disso é por conta da vacinação."
Ana perdeu colegas de trabalho semanalmente no início do ano. Com a imunização dos trabalhadores da saúde na primeira etapa da campanha, a internação desses profissionais se tornou rara. "Os mais idosos, que estavam fazendo forma grave da doença, eram acima de 60 anos e, hoje, mudou o perfil do internado, que é em torno de 40 anos", revelou.
A esperança da vacina, no entanto, não é motivo para afrouxar as medidas de prevenção ao vírus, conforme ressalta a infectologista. "A gente ainda tem uma circulação viral importante", destacou. "Apesar de estar vacinado, é preciso se proteger do vírus com o uso da máscara, higienização das mãos e distanciamento social. O risco de uma variante é real e é alto."
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