Há um ano, o caso de um estudante de medicina veterinária picado por uma cobra resultou na descoberta de um esquema de tráfico de animais silvestres e exóticos em Brasília. Em 9 de julho de 2020, Pedro Henrique Krambeck Lehmkuhl, 23 anos, acordava do coma em um hospital no Gama, depois de ser atacado dois dias antes por uma naja kaouthia que ele mesmo criava dentro de sua casa.
desfecho do caso levou à denúncia de quatro pessoas, que aguardam os trâmites judiciais. Atualmente, o processo se encontra em fase de instrução — quando as partes envolvidas prestam depoimento — e terá oitiva de 57 testemunhas da defesa e duas da acusação.
O A reportagem teve acesso em primeira mão à integra do processo. O documento, com mais de 1,8 mil páginas, inclui fotos, vídeos, depoimentos e gravações do caso que gerou repercussão nacional. As peças contam com materiais que, para a Polícia Civil do Distrito Federal, comprovam a existência de um esquema de tráfico de animais.
Em 15 de junho, ocorreu a primeira audiência de instrução. Entre as testemunhas de acusação, prestaram depoimento o delegado William Andrade Ricardo — à frente das investigações —; o agente de polícia Helder de Oliveira Sousa; além dos amigos de Pedro: Luiz Gabriel Felix, Silvia Queiroz, Julia Vieira e Radynner Leyf. À época, os colegas do réu foram indiciados por posse ilegal de animal silvestre, fraude processual, associação criminosa, corrupção de menores e favorecimento real — por ajudarem alguém na prática de um crime —, mas foram beneficiados com acordo de não persecução penal — quando há negociação entre os acusados e o Ministério Público.
Duas testemunhas da acusação consideradas essenciais no processo não compareceram às audiências. Uma delas era Roberto Cabral, servidor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que estava em operação na Amazônia. A outra foi Aloizio dos Reis Borba, morador de Luziânia (GO) que comprou, em 20 de março de 2020, uma cobra nigritus de Pedro por R$ 550. Em depoimento, Aloizio contou que os dois fecharam negócio pelo WhatsApp e combinaram a entrega da serpente na frente de um fast-food, no Gama. A reportagem entrou em contato com Aloizio, mas ele disse não ter interesse em se manifestar sobre o caso.