Um remédio antiandrogênico, que inibe os efeitos de hormônios masculinos, como a testosterona, foi utilizado no Hospital da Brigada Militar (HBMPA) de Porto Alegre contra a COVID-19. É o que revelou nesta terça-feira (24/8) uma reportagem do site "Matinal Jornalismo". De acordo com a matéria, um estudo testou a proxalutamida contra o coronavírus em cerca de 50 pacientes, mesmo sem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A proxalutamida, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para pacientes com COVID-19, também é utilizada para tratar câncer de próstata e de mama. No entanto, não há eficácia comprovada contra o coronavírus. Mesmo assim, ela foi administrada em uma policial militar que não quis se identificar.
De acordo com a mulher, após se internar no hospital, em março, ela foi procurada por dois capitães-médicos que a convidaram a participar do suposto estudo com a proxalutamida, que estava sendo utilizado em pacientes graves com COVID-19 na unidade hospitalar em caráter de teste. A militar relatou à reportagem que estava "tonta" e que não "pensava claramente", por isso acabou aceitando participar do teste, assinando, na sequência, um termo de consentimento. Ela alegou que não recebeu uma cópia do documento.
A reportagem ouviu dois médicos que apontaram o major médico Christiano Perin como um dos responsáveis pelo "estudo". Perin foi chefe da UTI no hospital até 2016. No entanto, ele negou e disse que o endocrinologista Flávio Cadegiani e o infectologista Ricardo Zimerman são os verdadeiros tutores do experimento. Ainda segundo a matéria, além de a proxalutamida não ter tido autorização da Anvisa para ser importada para o Brasil, não houve inscrição da unidade hospitalar na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para conduzir os testes com humanos.
Ricardo Zimerman, inclusive, chegou a participar da CPI da COVID, no Senado Federal, a pedido do senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), um dos parlamentares que mais defendem o uso de remédios que não possuem comprovação científica contra a COVID-19.
A Brigada Militar não se manifestou oficiamente à reportagem do Matinal. O major-médico Perin afirmou que houve autorização para os experimentos no hospital, mas o responsável pelo Departamento de Saúde, coronel Igor Wolwacz disse que o Estado-Maior da Brigada Militar é que tinha que responder sobre os questionamentos, que não foram esclarecidos.
A Anvisa esclareceu ao Matinal que não autorizou a importação da proxalutamida no Brasil na época do experimento no hospital em Porto Alegre e que, em caso de uso humano para presquisa, precisa aprovar previamente. A primeira solicitação de importação, segundo o órgão, foi em agosto, mesmo assim, para dois projetos sem vínculo com o centro médico citado na matéria.
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