O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) divulgou nesta terça-feira (31/8) as quatro propostas qualificadas preliminarmente, no âmbito do chamamento público para a análise de projetos de ensaios clínicos de vacinas contra a COVID-19 desenvolvidas no Brasil. A vacina desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está entre as selecionadas.
Ao todo, R$105 milhões serão disponibilizados às pesquisas, oriundos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). O CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, vinculado ao MCTI, será o responsável por gerir o recurso.
Com o anúncio, os quatro proponentes qualificados terão, a partir de agora, de apresentar a documentação necessária que está prevista no edital. Ao anunciar os projetos selecionados, o ministro Marcos Pontes destacou a importância da ciência para o combate à COVID-19.
“A pandemia deixou clara a importância da ciência, que é a única arma que temos para vencer o vírus. Os resultados em um ano foram expressivos, com redução do número de óbitos. Isso mostra a importância da ciência e dos nossos cientistas. O Brasil tem cientistas de altíssimo gabarito no cenário internacional, mas para que a ciência funcione precisa de irrigação de recursos”, disse o ministro.
Pontes destacou que os investimentos em educação, ciência, tecnologia e inovação são os diferenciais característicos de um país desenvolvido.
“A chamada de hoje é simbólica para uma mudança. Nossos orçamentos foram reduzidos, mas estamos agora em ponto de inflexão. Paulo Guedes disse que no ano que vem o orçamento do ministério será aumentado”, acrescentou.
SpiNTec desenvolvida pela UFMG
Das quatro propostas qualificadas, anunciadas ao final da cerimônia, três foram desenvolvidas por universidades públicas e uma pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) - todas a partir de estudos clínicos que abrangeram as fases 1 e 2 das vacinas.
A primeira proposta é a da vacina desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e teve como pesquisador responsável Ricardo Tostes Gazzinelli.
A professora Santuza Teixeira, integrante do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, que participa diretamente das pesquisas, explica como aconteceu o desenvolvimento do imunizante, que recebeu o nome de SpiNTec.
Segundo ela, os pesquisadores usaram uma estratégia denominada “segunda geração por proteína recombinante”. “O que a gente faz, na verdade, é identificar dentro do genoma do novo coronavírus quais seriam as sequências que têm a informação para produzir essas proteínas, que vão ser de fato os agentes vacinais”, diz.
“Essas sequências, então, são reproduzidas em bactérias, que passam a produzir uma única proteína fusionada (com vários 'pedaços' de proteínas diferentes do Sars-Cov-2). A partir dela, a gente faz a formulação vacinal, ou seja, contém o antígeno vacinal", completa.
As primeiras aplicações da SpiNTec em seres humanos, nos chamados testes clínicos (fases 1 e 2) estão programadas para dezembro deste ano. No início de agosto, a universidade fez o pedido para realização dos testes na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Porém, a solicitação está em fase de "submissão formal", sem análise por parte da agência.
Nessa etapa do cronograma que devem ser investidos R$ 30 milhões em repasses da Prefeitura de Belo Horizonte, por intermédio do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
Emendas parlamentares de deputados estaduais e federais, que somam R$ 3 milhões, também vão compor esse estágio do cronograma. Na fase pré-clínica, na qual os pesquisadores conduziram estudos com animais, a universidade recebeu aportes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Esses testes clínicos serão feitos em pacientes que tomaram as duas doses da CoronaVac para que recebam uma terceira dose de reforço com a SpiN-Tec. A ideia é favorecer, ou mesmo aumentar, a resposta imune produzida pela CoronaVac.
Outras propostas
Desenvolvida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a segunda proposta, que teve à frente a pesquisadora Leda dos Reis Castilho, visa ao desenvolvimento da vacina UFRJVAC, tendo como base uma proteína recombinante de variantes de Sars-Cov-1.
A terceira proposta, desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP), por meio da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, é a da vacina Versamune MCTI, a partir de ensaios clínicos de fase 1 e 2, visando ao “tratamento profilático de infecção causada por Sars-Cov-2”. O trabalho tem à frente o pesquisador Célio Lopes Silva.
A quarta proposta é a da Vacina RNA MCTI Cimatec HDT, desenvolvida pelo Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia (Senai Cimatec) da Bahia. Ela foi formulada a partir de nanopartícula carreadora de RNA Replicon auto replicante e tem como pesquisadora Bruna Aparecida Souza Machado.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.