(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas NACIONAL

Amazônia: é possível salvar a floresta com dinheiro?

Alguns dos maiores investidores do mundo têm ligações com o desmatamento de habitats fundamentais, como a floresta amazônica. Será que eles podem usar seu poderio financeiro para impedir o desmatamento?


05/09/2021 22:18 - atualizado 05/09/2021 22:18

(foto: Getty Images)
Quando você pensa nas suas economias para a aposentadoria, ou seus investimentos, provavelmente você não os associa à derrubada de árvores nas florestas tropicais. Mesmo assim, bancos conhecidos, gestores de ativos e outras instituições financeiras possuem ações ou fornecem crédito para companhias ligadas ao desmatamento.

 

O fato de que os setores que desmatam dependem do setor financeiro levanta a pergunta: como as instituições financeiras podem virar a mesa e ajudar a proteger as florestas do planeta?

 

Entre 2001 e 2015, quase um terço do desmatamento global ocorreu devido à produção de commodities - incluindo gado, soja, óleo de palma e papel.

 

No Brasil, onde o desmatamento atingiu o maior nível em 12 anos, a principal razão é a pecuária. Dois terços das terras desmatadas na Amazônia e no Cerrado foram convertidos em pasto para o gado, segundo a conclusão dos autores de um estudo a respeito. Além de causar enorme perda para a biodiversidade, isso torna o setor pecuarista brasileiro responsável por um quinto de todas as emissões causadas pelo desmatamento para a produção de commodities em toda a zona tropical.

 

O desmatamento não poderia acontecer nessa escala sem amplo investimento financeiro. Empréstimos totalizando US$ 249 bilhões (R$ 1,3 trilhão) foram concedidos para companhias ligadas ao desmatamento entre 2013 e abril de 2020, enquanto os investimentos em ações dessas companhias somaram US$ 37 bilhões (R$ 192 bilhões) até abril de 2020, segundo o banco de dados Forests and Finance, desenvolvido por uma coalizão internacional de grupos de pesquisa e organizações da sociedade civil.

 

Enquanto isso, três dos maiores gestores de ativos do mundo - BlackRock, Vanguard e State Street - tinham US$ 12,1 bilhões (R$ 62,9 bilhões) investidos em produtores e comerciantes cujas atividades supostamente estão incentivando diretamente o desmatamento, segundo a análise do grupo ativista ambiental Amigos da Terra em setembro de 2020.

 

Interromper as fontes que financiam o desmatamento tornou-se o objetivo de muitas pessoas que trabalham para preservar os habitats dos quais o mundo, e o clima, dependem.

Carne brasileira

Queimada de floresta amazônica ao lado da BR 163 no Pará deixou grande número de árvores mortas (na imagem, sem folhas e esbranquiçadas)
Queimada de floresta amazônica ao lado da BR 163 no Pará deixou grande número de árvores mortas (na imagem, sem folhas e esbranquiçadas) (foto: Marizilda Cruppe/Rede Amazônia Sustentável)

 

A Amazônia é uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo e é fundamental para que o mundo tenha um clima saudável. O Brasil, que abriga a maior parte da Amazônia, é também o maior exportador de carne de boi, representando cerca de 20% das exportações globais do produto, e o maior produtor de soja do planeta. Cerca de 20% das exportações de soja e pelo menos 17% das exportações de carne da Amazônia e do Cerrado para a União Europeia podem estar "contaminadas com desmatamento ilegal", segundo pesquisas recentes.

 

Cerca de 450 mil km² - uma área maior que a do Marrocos, ou metade do Estado de Mato Grosso - de Amazônia desmatada no Brasil foram transformados em pasto para o gado, segundo o Atlas Florestal Global da Universidade de Yale.

 

A pecuária e o cultivo de soja são frequentemente relacionados, pois a soja é cultivada em antigos pastos para o gado, empurrando os produtores para dentro da Amazônia. O atlas sugere que a pecuária atualmente é responsável por 80% do desmatamento nos países amazônicos.

 

Segundo um estudo, três companhias processadoras de carne - JBS, Marfrig e Minerva - representaram 71,7% das exportações brasileiras de carne de 2015 a 2017. Durante esse período, as três companhias foram relacionadas a 756 km ²em risco de desmatamento na Amazônia e 1477 km² no Brasil como um todo, segundo os pesquisadores.

 

Todas as três companhias afirmam que a ligação apontada pelo estudo entre suas atividades e o desmatamento foi de correlação e não de causa, e que todas elas possuíam sistemas de monitoramento para evitar o desmatamento na sua cadeia de fornecimento direto. A Marfrig também afirma que começou a testar uma nova plataforma de rastreamento baseada em blockchain, Conecta, como parte de um conjunto de medidas sendo implementadas para aumentar o monitoramento dos seus fornecedores indiretos (os fornecedores dos seus fornecedores).

 

A Marfrig e a Minerva afirmam que já começaram a usar o Visipec, uma ferramenta de software que sintetiza informações de conjuntos de dados separados disponíveis ao público para destacar o risco de desmatamento entre os fornecedores indiretos. Enquanto isso, a JBS afirma que o seu sistema de monitoramento do risco de desmatamento é considerado um dos melhores e mais sofisticados do mundo e a companhia adota uma política rigorosa de compras sustentáveis para aquisição de matéria-prima desde 2009.

 

Uma investigação sobre a JBS conduzida em agosto de 2020 pelo think tank (centro de pesquisa e debates) norte-americano especializado em desmatamento Chain Reaction Research (CRR) concluiu que, entre 2008 e 2019, 983 fazendas fornecedoras diretas da JBS causaram o desmatamento de 203 km2, enquanto 1874 fornecedores indiretos causaram mais 508,5 km² de desmatamento. Um porta-voz da JBS afirma que a companhia monitora 60 mil fornecedores diariamente, utilizando imagens de satélite, e suspende da sua cadeia de fornecimento aqueles que considera insustentáveis - foram 12.600, até agora.

 

As fazendas investigadas pela CRR foram uma pequena amostra do total da cadeia de fornecimento da JBS. A consultoria calcula que a pegada de desmatamento total dos fornecedores ligados à JBS naquele período poderá ter sido de 2.000 km2 para seus fornecedores diretos e 15.000 km2 para os indiretos - uma área total aproximadamente igual ao tamanho do Kuwait, ou três vezes o Distrito Federal. A JBS, entretanto, contesta esses números e insiste que o relatório da CRR não considerou as medidas de redução de risco da companhia. Um porta-voz agregou que a abordagem da JBS é de "tolerância zero contra o desmatamento na sua cadeia de fornecimento" e investe na educação dos fornecedores, monitoramento e tomada de medidas para aprimorar os padrões da indústria.

 

O relatório da CRR observou, entretanto, que os fornecedores indiretos da companhia estão fora do alcance da sua política de desmatamento zero. Ao abordar o risco de desmatamento entre os seus fornecedores indiretos, um porta-voz da JBS afirmou: "Devido às dificuldades de disponibilidade de informações, não temos visibilidade dos fornecedores dos nossos fornecedores.

 

Estamos enfrentando essa questão com a nova blockchain da companhia, a Plataforma Pecuária Transparente, que ampliará essa capacidade para analisar os fornecedores dos nossos fornecedores e nos permitirá eliminar todo o desmatamento ao longo da nossa cadeia de fornecimento de carne até 2025."

Força para mudança

A limpeza do terreno para criação de gado é uma das principais causas do desmatamento da Amazônia
A limpeza do terreno para criação de gado é uma das principais causas do desmatamento da Amazônia (foto: Getty Images)

Mas de onde vem o financiamento? A análise da CRR demonstra que a JBS depende de companhias europeias para quase um terço do financiamento para ajudar a custear as suas atividades. Os gestores de ativos detêm ações - a Vanguard era dona de 1,2% da JBS e a BlackRock tinha 2,1% em outubro de 2020, segundo o Trase Finance (a BlackRock afirma que, em maio de 2021, os seus clientes eram donos de 1,33% da JBS). A participação acionária e o fornecimento de crédito colocam as companhias financeiras em uma posição poderosa para inspirar mudanças.

 

Existem sinais de que as companhias financeiras estão despertando para os riscos do desmatamento. Em setembro de 2019, 251 investidores, representando cerca de US$ 17,7 trilhões (R$ 92 trilhões) em ativos assinaram uma carta pressionando as companhias "a redobrar seus esforços e demonstrar compromisso claro com a eliminação do desmatamento nas suas operações e cadeias de fornecimento". Mas, em um relatório de outubro de 2020, o think tank Global Canopy concluiu que apenas 33 dos signatários adotavam políticas claras sobre o desmatamento. Doze deles implementaram políticas apenas para algumas commodities que representam risco para a floresta e não para outras. A Global Canopy argumenta que as políticas de desmatamento são importantes porque indicam que os investidores estão comprometidos com ações contra o desmatamento, incentivam uma abordagem sistemática para lidar com a questão em todo o seu portfólio e também fornecem clareza sobre o que esperam de cada companhia.

 

Para compreender quanto dos seus investimentos envolve riscos de desmatamento, os investidores podem utilizar uma ferramenta chamada Trase Finance. Parceria entre o Instituto Ambiental de Estocolmo, a Global Canopy e a Neura Alpha, a plataforma apresenta dados facilmente pesquisáveis sobre as dívidas e os investimentos em ações de cerca de 12 mil instituições financeiras em companhias que exportam óleo de palma da Indonésia e soja e carne do Brasil.

 

A Green Century Funds, empresa de investimentos com consciência ambiental com sede em Boston, vem enfrentando o desmatamento desde 2012. Utilizando apoio aos acionistas, ela teve sucesso ao convencer companhias de toda a cadeia de fornecimento de óleo de palma (uma das principais causas do desmatamento na Indonésia) a adotar compromissos de fornecer óleo de palma com desmatamento zero. Essas companhias incluíram compradores importantes, como a Starbucks, Kellogg's e Target, grandes comerciantes de óleo de palma (incluindo a Archer Daniels Midland e a Bunge) e produtores - como a Wilmar, a maior empresa de agronegócio da Ásia, que, seguindo o compromisso da Green Century, adotou uma política de desmatamento zero em 2015.

 

Segundo a análise da CRR, as refinarias de óleo de palma do sudeste asiático com políticas de Desmatamento Zero, Turfa Zero e Exploração Zero (NDPE, da sigla em inglês) atingiram 83% em abril de 2020 (embora a pouca implementação em alguns casos indique que a real cobertura dessas políticas é de cerca de 78%). Embora operadores desonestos continuem a derrubar florestas, as taxas gerais de desmatamento vêm caindo. Segundo o World Resources Institute, o desmatamento das florestas antigas da Indonésia foi 40% menor em 2018 em comparação com a média de 2002 a 2016.

 

"A nossa abordagem ideal é normalmente poder enfrentar nossas preocupações com as companhias por meio do diálogo", afirma a defensora dos acionistas da Green Century, Jessye Waxman. "Por isso, enviaremos uma carta inicial para elas descrevendo nossas preocupações. E o objetivo é sempre gerar um diálogo produtivo onde podemos desenvolver um relacionamento com a companhia para continuar a expressar preocupações com as práticas da companhia e os impactos sobre a cadeia de fornecimento ou a necessidade de maior transparência, para podermos compreender qual o desempenho da companhia em comparação com esses índices", ressalta ela.

 

Em 2019, a Green Century convenceu a Aramark (uma companhia multinacional de serviços de alimentação que fornece quase dois bilhões de refeições por ano) a adotar uma política sobre o desmatamento. A companhia comprometeu-se a erradicar o desmatamento nas suas cadeias de fornecimento até 2025. Erin Noss, diretora sênior de comunicações externas da Aramark, afirma: "em setembro de 2020, 100% da soja em óleos, margarinas e coberturas adquiridas pela Aramark foram de regiões livres de desmatamento. Todo o óleo de palma desses produtos foi também obtido de forma responsável. Também concluímos que pelo menos 80% da carne fornecida pela Aramark vinha de regiões sem risco de desmatamento."


(foto: Erika Berenguer/Divulgação)

"Fazer com que uma companhia assuma um compromisso [de desmatamento zero], a nosso ver, é realmente a primeira etapa - a implementação é onde as coisas acontecem", afirma Jessye Waxman, da Green Century. "Estamos fazendo com que as companhias compreendam as suas cadeias de fornecimento, o que significa que elas possuem cadeias de fornecimento rastreáveis para seus fornecedores diretos e indiretos. Elas necessitam compreender de onde estão comprando e se esses fornecedores estão ou não produzindo de acordo com a política da companhia. Para isso, você precisa ter rastreabilidade. Você precisa ser capaz de monitorar a sua cadeia de fornecimento e precisa de um processo que defina o que acontece se o seu fornecedor não puder ou não quiser obedecer", ressalta ela.

 

Se não houver progresso por meio do diálogo, outra opção é apresentar uma resolução de acionistas. "As resoluções não são compulsórias, mas são uma ferramenta muito importante para ajudar os acionistas a comunicar-se com a administração da companhia", afirma Waxman. Em outubro de 2020, 67% dos acionistas votaram a favor da resolução da Green Century convocando a Procter & Gamble "a eliminar o desmatamento e a degradação das florestas na sua cadeia de fornecimento" na assembleia anual da gigante de bens de consumo (a Procter & Gamble não respondeu ao pedido de comentários).

 

Entre os acionistas que votaram a favor, estava o gestor de ativos BlackRock, que apoiou pela primeira vez uma resolução sobre o desmatamento. Ao todo, entre julho de 2020 e junho de 2021, a BlackRock apoiou 46 propostas ambientais de acionistas relativas a uma série de companhias diferentes (nem todas referentes ao desmatamento) e votou contra 26.

 

O apoio a resoluções contra o desmatamento é apenas uma forma de pressão dos gestores de ativos como a BlackRock e outros sobre as companhias para reduzir o desmatamento.

 

Pesquisas do Amazon Watch, Profundo e Amigos da Terra demonstraram que, em 2018, 94% dos investimentos com risco de desmatamento da BlackRock estavam em fundos de índice - um tipo de fundo negociado em bolsa (ETF, da sigla em inglês) que acompanha o desempenho de um índice do mercado de ações, como o S&P500. Em julho de 2020, os investimentos em ETF foram avaliados cumulativamente em US$ 6,7 trilhões (R$ 34,8 trilhões) - ou cerca de 2,5 vezes o PIB do Reino Unido em 2020 - segundo uma pesquisa do think tank financeiro Planet Tracker.

 

Tanto os ETFs quanto a indústria de índices são "altamente concentrados", segundo o relatório da pesquisa. Cerca de sete instituições controlam juntas cerca de 70% dos mercados de índices e ETFs. Isso significa que esses sete operadores - iShares (administrado pela BlackRock), Vanguard e State Street Global Advisors, de um lado, e MSCI, FTSE Russell, S&P Dow Jones e Bloomberg - "possuem poder desproporcional para reduzir o risco de desmatamento", segundo a Planet Tracker.

 

Mas como as grandes instituições financeiras podem usar esse poder para salvar as florestas?

 

O relatório da Planet Tracker recomenda que elas "devem ter como objetivo uma redução rápida das companhias envolvidas com o desmatamento das suas ofertas universais de produtos" - por exemplo, emitindo seus próprios ETFs sem incluir ações ligadas ao desmatamento, pressionando ao mesmo tempo os fornecedores de índices a projetar índices que façam o mesmo. E, se os fornecedores de índices não estiverem dispostos a projetar novos índices, a Planet Tracker sugere que as companhias projetem os seus próprios (como fez a companhia de serviços financeiros Fidelity).

 

Uma porta-voz da S&P Dow Jones Indices afirma que eles oferecem uma série de índices ESG que excluem companhias que não atendam objetivos ambientais e de sustentabilidade. Um porta-voz da Vanguard afirma que eles conversam regularmente com empresas relevantes sobre o desmatamento e seus riscos para a sustentabilidade comercial a longo prazo. Já a BlackRock lançou versões alternativas dos seus principais índices para que sejam mais sustentáveis, incluindo três fundos na S&P, e trabalha com a FTSE Russell e a Markit para criar alternativas sustentáveis para as referências padrão. A State Street Global Advisors, FTSE Russell, MSCI e a Bloomberg não responderam aos pedidos de comentários.

 

A ameaça de remoção de um índice poderá fornecer incentivo para que as companhias comecem a tomar medidas significativas sobre o desmatamento - da mesma forma que a ameaça de retirada dos investidores individuais. Neste ponto, as empresas escandinavas estão tomando a liderança. A Nordea Asset Management retirou sua participação de US$ 45 milhões (R$ 234 milhões) na JBS devido às preocupações com o desmatamento em 2020. O Danske Bank excluiu a Cargill, Bunge e ADM, três grandes comerciantes de commodities, de dois dos seus fundos de investimento devido ao risco de desmatamento, segundo confirmou o banco por email. A Bunge e a ADM não responderam ao pedido de comentários. Uma porta-voz da Cargill afirma que "não temos relacionamento bancário significativo com o Danske [Bank] e eles não nos enviaram notificações referentes a nenhuma exclusão".

 

Em julho, a Grieg Seafood excluiu a Cargill Aqua Nutrition do acesso a financiamentos por meio do seu "título verde" de 1 bilhão de coroas norueguesas (US$ 120 milhões ou R$ 624 milhões) devido a preocupações de que a sua empresa controladora Cargill não estava fazendo o suficiente para reduzir seu risco de desmatamento com a soja no Brasil. Uma porta-voz da Cargill afirmou: "Grieg permanece sendo um cliente valioso e importante da Cargill. A Cargill mantém seu compromisso com a eliminação do desmatamento das nossas cadeias de fornecimento no menor prazo possível. Nós compartilhamos regularmente com a Grieg e com nossos outros clientes os progressos que estamos fazendo para eliminar o desmatamento das nossas operações globais de soja e atingir nossos objetivos coletivos de ter uma cadeia de fornecimento sustentável."

 

Uma pesquisa da Forests and Finance concluiu que os 50 maiores bancos e investidores do mundo ainda estão muito atrasados nas suas políticas de combate ao desmatamento.

 

"A BlackRock, que é o maior gestor de ativos do mundo, fornece uma enorme quantidade de capital para as companhias que estão causando o desmatamento e prejudicando os direitos dos indígenas, que chega a US$ 2 bilhões (R$ 10,4 bilhões)", afirmou Moira Birss, diretora financeira e de assuntos relacionados ao clima da Amazon Watch em junho, quando foi publicada a pesquisa da Forests and Finance. "É um aumento de 157% em comparação com abril [de 2020], em um período no qual as vidas dos defensores da Terra estão cada vez mais sob ataque e o desmatamento continua disparando", afirma ela.

 

Por fim, com relação a ações e dívidas, os investidores precisam fornecer "padrões claros, prazos definidos e consequências claras" para as companhias que recebem os investimentos, conclui Birss. "Quando as companhias demonstram que são intransigentes... é preciso haver disposição e ações para suspender o financiamento", destaca.


(foto: Greenpeace Photo/Daniel Beltra)

Um porta-voz da BlackRock afirma: "a equipe de administração de investimentos da BlackRock vem dialogando há muito tempo com as companhias sobre os riscos de sustentabilidade, incluindo os riscos de desmatamento, pois consideramos que o uso não sustentável da terra e das florestas apresenta riscos para as companhias que afetam sua capacidade de gerar valor para os acionistas a longo prazo. Esperamos que as companhias que dependem de capital natural estabeleçam processos para identificar, administrar e reduzir os riscos, além de apresentar esses riscos para os investidores."

O poder de fogo financeiro

Como os investidores individuais podem fazer a sua parte? "Escolha onde investir o seu dinheiro", afirma Jessye Waxman, da Green Century. "Os investidores podem escolher empresas que ofereçam fundos livres de desmatamento ou que priorizem a pressão sobre as companhias expostas ao desmatamento para que mudem suas práticas de compras. Existem ferramentas, como os Fundos Livres de Desmatamento (promovidos pela Amigos da Terra e As You Sow) que ajudam os investidores a identificar quais fundos atendem a esses critérios", ressalta ela.

 

Waxman também sugere conversar com o gestor dos seus investimentos. "Pessoas que detêm fundos de pensão ou [planos de aposentadoria] 401(k) podem perguntar aos seus gestores como seus procuradores estão votando, se eles retiraram investimentos de companhias que promovem o desmatamento e se o gestor dialoga com as companhias do seu portfólio em nome deles. Os investidores individuais podem também perguntar aos seus gestores como eles estão administrando a exposição a riscos relativos às florestas", destaca ela.

Quando o assunto é desmatamento, o setor financeiro pode realmente fazer a diferença? Se olharmos para o seu papel na promoção de mudanças em outras esferas, a resposta com certeza é "sim".

 

Um exemplo é o investidor ativista Engine n° 1, que acredita que a ExxonMobil deveria levar as mudanças climáticas mais a sério e incentivar o desenvolvimento de energias renováveis, e conseguiu votos suficientes na assembleia anual dos acionistas em maio para eleger três novos membros para o conselho da gigante energética, conquistando o apoio dos principais acionistas, como a BlackRock e a Vanguard - embora seja muito cedo para dizer o quanto isso irá mudar as diretrizes da Exxon Mobil.

 

E, quando o engajamento falhar, a retirada de investimentos tem um histórico poderoso. Em 1986, protestos dos estudantes levaram a direção da Universidade da Califórnia a retirar US$ 3,1 bilhões em investimentos (R$ 16,1 bilhões, pela cotação atual) de companhias com investimentos na África do Sul, em protesto contra o apartheid - o sistema de opressão racial da África do Sul. Mais de 150 outras universidades norte-americanas também retiraram seus investimentos.

 

O movimento inspirou os esforços da organização ativista 350.org para incentivar a retirada de investimentos em combustíveis fósseis. Até agora, o rastreador da ONG indica que o valor das promessas de retirada de investimentos em combustíveis fósseis por mais de 1300 instituições soma cerca de US$ 14,58 trilhões (R$ 75,8 trilhões).

 

Esse total inclui a Cidade de Nova Iorque, que anunciou a retirada de US$ 4 bilhões (R$ 20,8 bilhões) em investimentos em combustíveis fósseis em janeiro, e a República da Irlanda, que, em 2018, tornou-se o primeiro país do mundo a aprovar uma lei que compromete o país a retirar fundos públicos investidos em combustíveis fósseis.

 

Esses poderosos precedentes sugerem que, se houver um esforço concentrado dos investidores, as companhias serão forçadas a levar o desmatamento a sério.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)