O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participou nesta quarta-feira (8/9), de audiência pública da Comissão Temporária da COVID-19 do Senado. O objetivo da reunião era debater o Plano Nacional de Imunização (PNI), o cumprimento de prazos e as medidas de combate à pandemia da COVID-19.
O ministro fez um balanço de seu período à frente da pasta e ressaltou que o avanço da vacinação no país é o principal fator para a queda nos números de mortes pela doença.
“Temos o desafio de conter o caráter pandêmico da COVID-19. Já tivemos mais de 570 mil óbitos. Nos solidarizamos com todas as famílias daqueles que perderam sua vida e com o sofrimento dos que foram afetados por esta doença tão grave.”
O ministro contou que estava em Roma, na Itália, onde participou de reunião dos ministros da saúde do G20, preparatória para a reunião de cúpula.
“Assumi o ministério a cerca de 180 dias, naquela época vivíamos um cenário epidemiológico muito complexo. Houve dias com mais de 4 mil óbitos, dada a segunda onda provocada pela variante Gama, que levou a uma pressão muito forte em nosso sistema de saúde.”
Segundo Queiroga, hoje a situação da pandemia está mais controlada.
“Temos um ambiente epidemiológico mais tranquilo. Nos últimos 60 dias tivemos redução de aproximadamente 60% no número de casos e de óbitos. E, nos últimos 15 dias, essa redução tem sido sustentada, mesmo com o advento da variante Delta.”
Para ele, a explicação para esse cenário ‘mais confortável’ da pandemia é a campanha de imunização.
“No início não existia quantidade de vacinas em doses suficientes, no mundo inteiro. Mas, graças à ação diversificada que o Ministério da Saúde adotou para obter vacinas, nós conseguimos a partir do segundo trimestre deste ano acelerar a nossa campanha de vacinação.”
O ministro destacou também a parceria entre a AstraZeneca e a Fiocruz, que possibilitou a transferência de tecnologia para a produção de imunizantes no país.
“O Brasil já pode produzir vacinas na Fundação Oswaldo Cruz com o IFA. A parceria com farmacêuticas multinacionais: Pfizer com 200 milhões de doses, Janssen com 38 milhões de doses, 100 milhões de doses do Instituto Butantan. Por fim, a participação do Brasil na iniciativa Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde, possibilitando cobertura vacinal para 10% da população brasileira.”
Queiroga lembrou que já são mais de 500 milhões de doses contratadas. “Isso faz garantir que a população brasileira vai estar integralmente vacinada até o final do ano. No mês de agosto, o PNI distribuiu mais de 60 milhões de doses de vacina.”
“Hoje já temos mais de 90% da população acima de 18 anos vacinada com uma dose e mais de 50% da população brasileira completamente imunizada, ou com dose única ou com duas doses”, completou.
O ministro destacou que o ritmo de vacinação tem aumentado. “Nos últimos 30 dias, temos uma média de mais de 1,8 milhão de brasileiros vacinados todos os dias. E, em vários dias superamos 2 milhões de doses de vacinação.”
Além disso, falou lembrou que a partir de 15 de setembro, idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos vão poder receber uma terceira dose, com a vacina da Pfizer.
“Os esquemas com vacinas diferentes geralmente usam a vacina da Pfizer e AstraZeneca como os imunizantes preferenciais e temos um quantitativo elevado dessa vacina, o que permite assegurar que não haverá interrupção na campanha de imunização.”
O ministro diz que a pasta já distribuiu doses suficientes para que, em 15 de setembro, todos os adultos brasileiros tenham recebido, pelo menos, uma dose de vacina. E, prevê que até o final de outubro todos os brasileiros acima de 18 anos tenham sido vacinados.
Queiroga explicou que em função da variante Delta, o ministério optou pela adoção da dose de reforço e a inclusão dos adolescentes na campanha de imunização.
Reunião do G20
O ministro disse que durante a reunião com ministros da saúde dos países que compõem o G20 teve encontros bilaterais, com ministros da saúde da Índia, Reino Unido e com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.
“Ontem me reuni com o ministro da saúde da Itália e já caminhamos para uma sinalização da Itália receber novamente os brasileiros. Assim como ocorre com Portugal, Espanha, Alemanha e outros países. Esperamos que haja uma flexibilização crescente.”
Doses de reforço
O relator da comissão, senador Wellington Fagundes (PL/MT), questionou o ministro sobre iniciar as doses de reforço, mesmo não sendo uma orientação da OMS. A entidade afirma que
é preciso vacinar toda a população mundial, antes de se pensar em uma terceira dose.
Queiroga disse que, em conversa com o diretor-geral da OMS, se colocou à disposição para colaborar com a distribuição de mais doses para a Covax Facility. Mas, a decisão do ministério de aplicar a dose de reforço foi apoiada em opiniões de especialistas.
"Observamos que aqueles com mais de 70 anos, especialmente os nonagenários, tem uma efetividade vacinal baixa. Essas pessoas não estão protegidas e precisam de uma terceira dose. E como havia quantidade de doses disponíveis, optamos em avançar com a terceira dose, em sintonia com outros países.”
Uso de máscaras
A Senadora Zenaide Maia (PROS/RN) questionou o ministro sobre não ser mais enfático quanto ao uso de máscaras.
“O que eu procuro aqui no ministério é sempre passar uma mensagem ponderada e avançar com políticas públicas que sejam eficientes. É dessa maneira que vamos vencer a pandemia.”
PNI
Com relação a aplicação da dose de reforço, o ministro pediu que os estados e municípios sigam o Plano Nacional de Imunização.
“Se cada um dos municípios do Brasil quiser fazer seu próprio esquema de vacinação, o ministério da Saúde não tem condição de entregar doses. Temos uma programação de entrega, tem que ser feita de maneira organizada. Se cada um quiser criar um esquema próprio não temos condição de entregar as doses.”
Segunda dose e CoronaVac
O ministro ressaltou que cerca de 8 milhões de brasileiros não tomaram a segunda dose da vacina contra a COVID-19. “O principal motivo de não retornar é ter tido algum evento adverso na primeira. A segunda dose tem muito menos reação do que a primeira.”
Queiroga pediu para as pessoas que estão com a segunda dose pendente que procurem os postos para tomá-la. “Seu esquema vacinal só estará completo após a segunda dose.”
O ministro falou também sobre a CoronaVac. “É uma vacina que teve grande utilidade para nós, sobretudo na primeira fase, mas ainda não temos todos os dados. Eles não foram apresentados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Por isso, ela não recebeu o aval definitivo da Anvisa.”
De acordo com Queiroga, quando o imunizante tiver o registro definitivo poderá ser incorporado ao PNI.
Sobre não utilizar a vacina produzida pelo Instituto Butantan como terceira dose, o ministro explicou que a recomendação é que a dose de reforço seja feita com uma vacina diferente da aplicada nas duas primeiras e a população mais idosa recebeu justamente a CoronaVac.
Vacinação de crianças
Em relação à vacinação de crianças menores de 12 anos, ele ressaltou que é necessário haver evidências científicas para a imunização dessa faixa etária.
“Quando houver evidência científica sólida e o aval da Anvisa, pode ser considerado, inclusive há uma lei federal aprovada no Congresso Nacional nesse sentido. Mas, aguardamos as evidências científicas.”
Tratamento precoce
Marcelo Queiroga foi questionado ainda sobre tratamento precoce para a COVID-19.
“Nós temos interesse em fomentar as pesquisas, não só em relação a reposicionamento de fármacos, mas em relação a fármacos inovadores. Vamos avançar e buscar tratamentos que sejam colocados no início dessa doença e que possam nos ajudar. A vacina sozinha não vai acabar com a doença. Precisamos ter opções de tratamentos em todas as fases”, concluiu.
*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria