Jornal Estado de Minas

POLÊMICA

Câmara Técnica não foi consultada sobre suspensão da vacina a adolescentes

Os participantes da Câmara Técnica Assessora de Imunizações do Ministério da Saúde afirmam que não foram consultados sobre a decisão da pasta de recomendar a suspensão da vacinação de adolescentes contra a COVID-19. Além disso, os técnicos que fazem parte do grupo disseram estar surpresos com a postura do ministro Marcelo Queiroga que pediu aos pais para não levarem os filhos para vacinarem. Fontes ouvidas pela reportagem, afirmam que os técnicos ameaçam deixar a Câmara Técnica caso o ministério não volte atrás na decisão. As considerações foram feitas em reunião realizada nesta sexta-feira (17/9).





"O mais grave e que mais surpreendeu os presentes foi a postura dos representantes do Ministério da Saúde durante a citada entrevista coletiva, inédita em 48 anos de existência do Programa Nacional de Imunizações, trazendo a público dúvidas sobre a vacinação. Chamou a atenção orientação do Sr. Ministro aos pais para não levar seus filhos aos postos de vacinação contra a COVID-19. Isso pode gerar um dano difícil de ser reparado não só nesta campanha, mas a todas as vacinas, especialmente em um grupo onde a adesão é mais difícil, como os adolescentes", diz a nota de resumo da reunião feita pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Participaram da reunião representantes do ministério, da Sociedade Brasileira de Imunizações, da Sociedade Brasileira de Infectologia, da Sociedade Brasileira de Pediatria, da Fiocruz, Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), UNIFESP, Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), do Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde (CONASEMS), dentre outros especialistas e pesquisadores.

De acordo com o resumo feito pelo Conass, a Secretária Extraordinária de Enfrentamento da COVID-19 (SECOVID) coordenou a reunião, trazendo como primeiro tema a decisão do Ministério da Saúde de suspender a vacinação em adolescentes, justificando que a decisão se deu como uma medida de cautela e de forma temporária, devido à comunicação de um óbito temporalmente associado à vacina e à identificação de eventos adversos e erros de vacinação, destacando ainda o papel de coordenação do Ministério da Saúde e que estados e municípios haviam iniciado a vacinação dos adolescentes sem a orientação nacional.





Para os representantes da Câmara Técnica, os motivos elencados não justificam a suspensão, pois um único caso de evento adverso grave não justificaria a interrupção de uma campanha de vacinação, considerando os 3,5 milhões de doses já aplicadas na faixa etária. " Os representantes do CONASS e CONASEMS, reforçaram as questões já colocadas, destacando que o Ministério da Saúde não só não levou em conta as orientações da CTAI, mas também tomou a decisão de forma unilateral, sem qualquer consulta ou pactuação com as demais instâncias de gestão do SUS.

As críticas relacionadas a supostos erros de vacinação, que na verdade representam 0,75% das 3,5 milhões de doses aplicadas nos adolescentes, desconsideraram o enorme esforço de milhares de trabalhadores do Sistema Único de Saúde, que a quase 9 meses vem trabalhando diariamente na vacinação contra a COVID-19", completa a nota.

Decisões

Foi consenso entre os participantes recomendar ao Ministério da Saúde a emissão de Nota Técnica que evidencie que a orientação de suspensão da vacinação para os adolescentes de 12 a 17 anos foi tomada de forma unilateral, sem consulta prévia aos participantes da Câmara Técnica e que há segurança e eficácia nas vacinas em uso no país.





Os técnicos também pedem que uma nova Nota Técnica evidencie a importância da vacinação dos adolescentes para sua proteção e para o controle da pandemia. Outros temas como a avaliação da dose de reforço para os trabalhadores de saúde serão objeto de discussão na próxima reunião da CTAI, sexta-feira 24 de setembro

Veja as considerações feitas pela Câmara Técnica:

* A decisão foi tomada sem qualquer consulta aos representantes da CTAI e na verdade em desacordo com as discussões e orientações já realizadas na Câmara Técnica. Algumas manifestações colocadas durante a entrevista coletiva realizada com o Ministro da Saúde, e Secretários de Vigilância em Saúde e SECOVID, bem como na Nota Informativa Nº 01/2021 da SECOVID, poderiam levar ao entendimento de que houve esta participação.

* Os motivos elencados para a interrupção da vacinação dos adolescentes tanto na coletiva como na Nota Informativa, não justificam tecnicamente esta medida:
Reações adversas graves, temporalmente associadas às vacinas, necessitam ser investigadas, porém, mesmo que confirmada sua relação causal (situação muito improvável com base nos dados já existentes, em relação ao óbito em investigação citado), um único caso não justificaria a interrupção de uma campanha de vacinação, considerando os 3,5 milhões de doses já aplicadas na faixa etária;

Dentre as intercorrências citadas, somente 1.545 (0,043%) se caracterizariam como eventos adversos, ainda sem divulgação quanto à gravidade. Pouco mais de 25.000 seriam erros de vacinação (uso de outras vacinas, ainda sem aprovação de uso para este grupo pela Anvisa: Coronavac, Astra Zeneca e Janssen), tendo provavelmente sido causadas na verdade, em sua maioria, por erro no registro nos sistemas de informação. Além disso estas vacinas, mesmo que tivessem sido aplicadas, não causariam maior risco. A Coronavac, por exemplo já vem sendo amplamente utilizada em outros países, como o Chile.

* O mais grave e que mais surpreendeu os presentes foi a postura dos representantes do Ministério da Saúde durante a citada entrevista coletiva, inédita em 48 anos de existência do Programa Nacional de Imunizações, trazendo a público dúvidas sobre a vacinação. Chamou a atenção orientação do Sr. Ministro aos pais para não levar seus filhos aos postos de vacinação contra a COVID-19. Isso pode gerar um dano difícil de ser reparado não só nesta campanha, mas a todas as vacinas, especialmente em um grupo onde a adesão é mais difícil, como os adolescentes.





* Os representantes do CONASS e CONASEMS, reforçaram as questões já colocadas, destacando que o Ministério da Saúde não só não levou em conta as orientações da CTAI, mas também tomou a decisão de forma unilateral, sem qualquer consulta ou pactuação com as demais instâncias de gestão do SUS. As críticas relacionadas a supostos erros de vacinação, que na verdade representam 0,75% das 3,5 milhões de doses aplicadas nos adolescentes, desconsideraram o enorme esforço de milhares de trabalhadores do Sistema Único de Saúde, que a quase 9 meses vem trabalhando diariamente na vacinação contra a COVID-19.

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