Jornal Estado de Minas

VIOLÊNCIA

Apaixonado por matemática, estudante vítima de latrocínio sonhava alto

Apaixonado por matemática, Geoffrey Stony Oliveira do Nascimento, 16 anos, traçava planos para ingressar na Universidade de Brasília (UnB). Cursando o 1º ano do ensino médio, o estudante se dedicava para fazer a prova do Programa de Avaliação Seriada (PAS). A trajetória do adolescente foi interrompida no final da manhã dessa quarta-feira (22/9), quando ele saía de mais um dia de aula, no Centro Educacional 11 de Ceilândia, para esperar o pai na calçada de uma casa, na QNP 5 do Conjunto D. De uniforme e mochila nas costas, Geoffrey morreu ao ser baleado no peito durante um assalto. Até a última atualização deste texto, ninguém havia sido preso.





Discreto, meigo, esforçado e dedicado. Assim definem os familiares e vizinhos do adolescente. Ele e o irmão mais velho, de 17 anos, chegaram com os pais à Ceilândia ainda pequenos. "Todos o conheciam aqui na comunidade. Era um menino que nunca se envolveu com coisas erradas. Sempre ia de casa para a escola. No máximo, eu só o via sentado na calçada às vezes, mas sem contatos com ninguém estranho", disse uma vizinha, que preferiu manter anonimato.

Há poucos dias, a família do adolescente resolveu se mudar para outra casa na Guariroba, mas mantiveram a residência em Ceilândia. Geoffrey começou os estudos no CED 11 no 5º ano do ensino fundamental. Como de costume, após as aulas, o garoto esperava o pai todos os dias na rua do Conjunto D, da QNP 5. O genitor é servidor público da Secretaria de Educação (SEDF) e trabalha na área administrativa da mesma escola à tarde e à noite.

Nessa quarta-feira (22/9), o jovem saiu da escola por volta das 10h45 e caminhou por cerca de 200 metros até o local onde esperaria o pai buscá-lo. Enquanto estava em pé, dois homens armados em bicicletas abordaram Geoffrey, anunciaram o assalto e atiraram no peito do adolescente. O delegado-adjunto da 19ª Delegacia de Polícia (P Norte) levanta a hipótese de que o estudante provavelmente reagiu ao assalto. "Momentos antes de tirar a vida da vítima, os suspeitos cometeram um outro assalto na mesma região. Estamos em diligências para capturá-los o mais rápido possível", frisou.





Em entrevista, um dos tios de Geoffrey, que também preferiu não se identificar por medo, contou que a família está estarrecida e diz não acreditar no que aconteceu. "Minha irmã me ligou e disse que não tinha uma boa notícia para me dar. Não sabemos o que fazer, mas queremos Justiça. É difícil acreditar que um menino do bem sai da escola e morre nas mãos de marginais que ficam nesse horário procurando gente para assaltar", desabafou.

Destaque na escola


"Ele passava pelo mural dos alunos aprovados na UnB e sempre dizia que um dia a foto dele estaria estampada ali", disse, emocionado, o diretor do CED 11, Francisco Gadelha. O gestor suspendeu as aulas presenciais de hoje em razão do crime contra o estudante. Em um comunicado enviado aos pais, a instituição lamentou o falecimento de Geoffrey. "Desejamos pêsames aos familiares e amigos, inclusive ao pai que é funcionário da nossa secretaria. Que Deus conforte a dor de todos", diz a nota, que também ressalta a importância do reforço do policiamento na área.

Os professores reconhecem o potencial interrompido de Geoffrey, que possuía boas notas nas disciplinas. "Ele e o pai dele são parecidos, em termos de passar alegria para todo mundo e animar o ambiente. Nós, da comunidade acadêmica, estamos tristes e revoltados com toda essa situação", afirmou Francisco.





O diretor estava de licença-paternidade, pois a mulher ganhou bebê há 15 dias. O gestor tinha uma consulta marcada para quarta-feira (22/9), quando recebeu um áudio desesperador do pai de Geoffrey. Na mensagem de voz, o genitor chora absurdamente e diz: "Oi, gente, só estou passando aqui para dizer que não tenho condições de trabalhar. Nem sei quando vou conseguir trabalhar, porque o meu filho foi assassinado. Obrigada a todos", declarou. O áudio chocou a todos os docentes, que manifestaram pesar ao funcionário.

Imagens das câmeras do circuito de segurança da rua onde aconteceu o latrocínio mostram os dois suspeitos, cada um em uma bicicleta, pedalando após o crime. O vídeo foi registrado às 10h54 de quarta-feira (22/9), praticamente o mesmo horário do crime. Policiais estão nas ruas para localizar os criminosos, que seguem foragidos.

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