O ex-policial militar fluminense Ronnie Lessa, que está preso desde 12 de março de 2019 acusado de ser um dos executores da morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, teve uma nova ordem de prisão preventiva decretada nesta quinta-feira, 14, desta vez pelo crime de lavagem de dinheiro. Segundo a investigação, de 2014 a 2019 ele teve renda média mensal declarada de R$ 7.095,05, mas movimentou R$ 5.729.013,40 em contas bancárias suas e de "laranjas". Lessa está preso na penitenciária federal de Campo Grande-MS.
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Caso Marielle: desdobramentos avançam sem conclusão sobre mandante do crime Polícia investiga assassinato de autor de livro sobre Marielle Franco Homem é condenado depois de roubar fotos e ameaçar vazar nudes de jovemGrupo tenta depositar cheques falsos no valor de R$ 19 milhões no DFCriança de 2 anos morre depois de cair de carroO inquérito policial que deu origem à denúncia do MP-RJ foi instaurado pela Delegacia de Homicídios da Capital e enviado ao Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD), a partir de indícios colhidos durante a investigação que apurou o envolvimento de Lessa e Élcio Queiroz nas mortes de Marielle e Anderson.
Durante a investigação dos homicídios, surgiram indícios da incompatibilidade entre a renda declarada por Lessa e o padrão de vida ostentado por ele e sua família, o que justificou a instauração de inquérito para investigar lavagem de dinheiro, suspeita confirmada durante as investigações, que indicaram a ocultação de valores e bens por meio de "laranjas". Colaboravam com o esquema, e por isso também foram denunciados, Denis Lessa, Souza (usado como "laranja" na compra de uma lancha e na realização de movimentações bancárias) e Elaine ('laranja' na documentação de um veículo Jeep Renegade).
A Justiça autorizou a quebra do sigilo bancário e fiscal de Lessa, que permitiu constatar a renda média mensal de R$ 7.095,05 entre 2014 e 2019, e a movimentação de R$ 5.729.013,40, embora a renda declarada do ex-PM no período tenha sido de R$ 416.226,17. Segundo o MP-RJ, o ex-PM não movimentava recursos apenas em suas contas, mas também em contas abertas em nome de 'laranjas', incluindo os três denunciados.
Segundo o MP-RJ, dezenas de bens foram adquiridos pelo denunciado, incluindo imóvel de luxo na Barra da Tijuca, imóvel em Angra dos Reis, imóvel em Mangaratiba, uma lancha de 33 pés e veículos de luxo, sendo que parte destes bens foi ocultada em nome de "laranjas". Além disso, diz o MP-RJ, houve dissimulação em transações imobiliárias, com a declaração de valores menores na compra de um imóvel na Barra da Tijuca, para ocultar a origem suspeita de seus recursos e não despertar a atenção dos órgãos de fiscalização.
O MP-RJ concluiu que a movimentação financeira de Lessa e sua evolução patrimonial não encontram mínimo lastro nos rendimentos lícitos e decorrem de valores não declarados ao Estado brasileiro, cuja origem está ligada à prática de crimes, tais como homicídios encomendados por terceiros, comércio ilegal de armas de fogo de uso restrito e participação em organizações criminosas voltadas à exploração de jogos de azar.
"A imputação dos delitos de ‘lavagem’ de dinheiro tem como crimes antecedentes aqueles supostamente praticados pelo denunciado Ronnie Lessa e outros, onde destaca-se a possível prática de crimes dolosos contra a vida, sob encomenda de terceiros e mediante pagamento. No que diz respeito à denunciada Elaine Lessa, há indicativos de sua periculosidade e do alto grau de envolvimento nas ações criminosas lideradas por seu marido, tendo sido condenada (...) pela prática do crime de obstrução de investigações quando, ao lado de outros comparsas, providenciou a retirada de fuzis de Lessa, que estavam escondidos em um imóvel, jogando-os em seguida ao mar", diz um trecho da decisão.
Denis Lessa e Souza passaram a ser obrigados a comparecer bimestralmente em juízo para informar e justificar atividades, comparecer a todos os atos do processo, quando intimados, devendo informar ao Juízo eventual mudança de endereço, além da proibição de ausentar-se da comarca sem prévia autorização judicial e de manter contato com os demais acusados, bem como de acesso a endereços vinculados aos demais acusados.
O Estadão não conseguiu falar com a defesa de Lessa.