Três em cada quatro brasileiros concordam com a exigência de comprovante de vacinação contra a COVID-19 em empresas privadas, segundo o último relatório da pesquisa Saúde Brasil, que entrevistou 1.006 pessoas entre os dias 29 de setembro e 8 de outubro. O apoio à medida também é alto (76%) entre os funcionários públicos.
Wladimir Gramacho, professor da Universidade de Brasília e coordenador do Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública (CPS) observa que, em serviços considerados como "essenciais" e mandatórios, como universidades e trabalho em empresas privadas, os entrevistados tiveram opiniões semelhantes. Nesses contextos, eles consideram o passaporte essencial, diferentemente de lugares mais privados, como condomínios.
"Em lugares como condomínios, por exemplo, as pessoas veem aquele lugar como sua casa, e, assim, podem escolher o que fazer nela. Me parece que as pessoas, em geral, apoiam a exigência do comprovante da vacina para aqueles lugares que nós temos que conviver obrigatoriamente com outras. Mas nas suas casas, o que os dados sugerem é que cada pessoa deve ser livre", comenta o pesquisador.
Gramacho observa que o estudo revelou como a exigência de um documento de comprovação da vacina é considerado um fator de segurança para a maioria dos brasileiros. "[O passaporte da vacina] é muito importante neste momento para aumentar o nível de segurança interpessoal - a confiança de que, de fato, estamos vacinados e seguros", ressalta. "Isso permitirá o quanto antes que a gente possa voltar a ter uma atividade econômica mais forte e com a maior segurança possível, mantendo todos os cuidados, como máscaras", acrescenta.
O coordenador do CPS chama a atenção para o efeito das preferências políticas sobre o apoio à exigência do comprovante. "Entre quem avalia o governo federal como ótimo ou bom, a aprovação ao 'passaporte da vacina' é muito inferior quando comparada com os que consideram o governo ruim ou péssimo", relata.
Diversos municípios exigem comprovante de vacinação para acesso a espaços públicos. Entre eles, estão as duas maiores metrópoles brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. A medida serve para estimular a imunização de pessoas que não querem se vacinar, embora já possam fazê-lo. Em outros estados, porém, o tema ainda sofre resistência. No Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha já deixou claro que não adotará a exigência.
O coordenador da CPS considera a falta de consenso entre as unidades federativas como um dos problemas centrais no enfrentamento da COVID-19 no país. "Essa é uma nota triste da pandemia brasileira. Infelizmente, a elite política do Brasil decidiu partidarizar a pandemia, como se o vírus escolhesse sua vítima a partir de uma ideologia política", pontua. "Governos estaduais e prefeituras continuam respondendo à pandemia a partir de suas preferências políticas", finaliza.
*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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