"Quando você cresce sendo julgada, alvo de piadas e comentários cruéis, eventualmente pode se entristecer. É difícil crescer em meio a tanta maldade e ignorância. Mas eu tenho potenciais e limitações, eu sou diferente, mas não sou menos capaz que as outras pessoas. Até hoje, muita gente tenta me diminuir e afirmar que eu não mereço estar onde estou, mas sei que isso não é verdade."
Maria Júlia de Araújo, a Maju de Araújo, passou por muitos desafios ao longo de seus 19 anos. Descoberta em setembro de 2018 pelo grupo MGT, ela conta que houve muito estudo para conseguir o reconhecimento "Eu e minha família investimos intensamente, buscando sobretudo uma formação profissional e de qualidade na área", afirma. "Me descobrir, não pela beleza exterior, mas pelo poder de influência e exemplo que o cargo traz, impactou a minha vida. Me tornei uma pessoa mais autoconfiante. E mais importante que uma sociedade reconhecendo uma pessoa com síndrome de Down ocupando um cargo profissional, é o próprio autorreconhecimento", conta.
De lá para cá, a modelo já cruzou a passarela em três Fashion Weeks, incluindo a de Milão, na Itália, onde esteve no final do mês passado pelas marcas NCC e Libertees. "Tem coisas que é impossível de explicar. A sensação de pisar em uma passarela, na maior semana de moda do mundo, ser fotografada e observada e dividir espaço com outras grandes modelos poderia ser amedrontador. Mas nada se compara à sensação de gratidão, realização e felicidade que sinto fazendo o que amo. Basta dar o primeiro passo que a preocupação some. Me sinto gigante! É uma sensação de plenitude, é indescritível!"
Outro marco de sua carreira aconteceu em maio passado, quando Maju passou a fazer parte do time de embaixadoras da L’Oréal Paris, sendo a primeira brasileira com síndrome de Down a compor a equipe. "Sei que tenho limitações, mas elas não me impedem de viver uma vida plena. O que impede é o preconceito. E quando ele é presente na sua vida desde criança, há um risco de se crescer acreditando no que ele diz: ‘não existe lugar pra você aqui’. Mas desde que comecei a lutar pelo meu sonho percebi que existe um lugar sim pra mim, existe pra todo mundo", diz. "Nada pode me limitar ou definir."
Maju lembra que, quando era pequena, não havia a mesma representatividade. "Raramente encontrávamos pessoas como eu estampando matérias, revistas, cruzando passarelas. Pessoas comuns precisam saber que o mundo está cheio de lugares para elas, para nós. Eu sou uma pessoa comum."
O sonho de ser modelo, ela relata, começou aos 16 anos, quando foi internada com meningite bacteriana e ficou dez dias em coma. Os médicos chegaram a cogitar a amputação de membros para conter a infecção, mas deu tudo certo. Assim que acordou, ela revelou para a mãe: "Eu vou ser modelo".
"Eu já sentia esse desejo (de ser modelo), mas em alguns momentos foi difícil acreditar que iria realizá-lo. Depois que você recebe um diagnóstico como o que eu recebi - com risco de óbito ou de sequelas graves como perda da audição, da visão -, você tem algumas opções: ser tomada pelo medo ou lutar pela vida", ressalta. "Eu sentia que ainda tinha muito pela frente e que Deus estaria cuidando do meu destino. Mas também sabia que, se recebesse uma nova oportunidade, deveria agarrar essa chance. Foi isso que fiz."
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