Por volta das 9 horas do dia 14 de setembro, Nemo e Caramelo desembarcaram em um pátio aberto do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci), localizado na zona oeste da capital paulista. Pouco depois, seis crianças saíram de seus leitos e foram ao encontro dos pôneis. Tratava-se de uma sessão de pôneiterapia, a primeira conduzida no local pela Sociedade Hípica Paulista (SHP). Feito por meio da interação com equinos, esse é um tipo de cuidado integrativo que pode afetar positivamente o tratamento do câncer.
"As crianças deram comida (aos pôneis), pentearam, passearam... Deu super certo, elas ficaram encantadas", relata a coordenadora administrativa do Itaci, Kátia Regina de Oliveira. A enfermeira foi uma das profissionais que estiveram à frente da parceria firmada entre a Hípica Paulista e a entidade, braço hemato-oncológico do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
"Os pais também adoraram. Teve pai que até ligou por vídeo para a família para mostrar a criança no pônei", conta Kátia, explicando que, uma vez que a parceria foi inaugurada, a intenção agora é receber os pôneis mensalmente e selecionar novas crianças. Segundo a enfermeira, os pacientes atendidos no Itaci, que hoje tem 38 leitos, ficaram mais isolados durante a pandemia. Eles foram afetados não só pela interrupção da visita presencial de familiares como de voluntários de projetos recreativos.
Com isso, a iniciativa de pôneiterapia, que é conduzida ao ar livre, pode ser especialmente útil neste momento. Após serem selecionadas pela equipe médica, as crianças descem até o pátio e ficam cerca de 30 minutos interagindo com os animais.
A designer de moda Junia Teixeira diz que a filha "ficou em êxtase de alegria" com a visita dos equinos. Internada no Itaci para realizar um transplante de medula óssea, Ester Liz, de 8 anos, foi uma das seis crianças presentes na sessão de pôneiterapia. "Sair do quarto e passear lhe trouxe uma experiência única e com memórias afetivas", relata Junia. "Para mim, foi um momento de relaxar, afinal, acompanhar o tratamento nos deixa tensos."
A mãe conta ainda que ficou marcada por uma fala, em especial, dita pela filha após a experiência com os animais. "A frase da Esterzinha foi: Mamãe, quem ia imaginar que eu andaria de pônei aqui em São Paulo e no hospital internada?", relembra Junia.
Iniciativa
Coordenadora da Escola de Equitação da Sociedade Hípica Paulista, Lilian Chateau explica que a ideia de fazer a equoterapia itinerante em São Paulo surgiu há um ano, como parte das atividades sociais da hípica. "É uma proposta que já tem há bastante tempo na Europa, que é a de levar cavalos para dentro de hospitais. Aqui, a gente decidiu começar o projeto com os pôneis", destaca Lilian.
Por meio da interação, a pôneiterapia é um cuidado que pode afetar positivamente o tratamento do câncer
Como muitos hospitais estão com restrições, o Itaci foi o primeiro parceiro da iniciativa. Em breve, a intenção é expandir o projeto, que é oferecido de forma gratuita pela SHP. Como requisitos, as instituições selecionadas para a parceria devem preencher alguns documentos necessários para receber os pôneis e passar por uma averiguação do local, realizada pela própria hípica.
"A gente quer mostrar para as pessoas o quanto o cavalo pode ser impactante no desenvolvimento de alguém, seja esportiva, recreativa ou até terapeuticamente", explica Lilian. Ela conta ter iniciado contato com hospitais como o Sírio-Libanês e o Albert Einstein, mas as tratativas foram adiadas para o ano que vem. Demais instituições de São Paulo que tenham interesse no projeto podem entrar em contato com a SHP enviando um e-mail para: lilian.chateau@shp.org.br.l
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.