Um grupo de passageiros que estava no voo G3-1324 da Gol, de Guarulhos (SP) para Confins, pretendem entrar na Justiça contra a companhia aérea por problemas no atendimento após a aeronave ter que voltar a São Paulo por causa da chuva na Grande BH nessa segunda-feira (1º/11). Eles relatam que ficaram seis horas dentro do avião sem assistência. Ontem, o vídeo de um casal de passageiros quebrando o guichê da companhia viralizou nas redes sociais. Nesta quarta-feira (3/11), o Estado de Minas ouviu os relatos de outras pessoas que estavam na aeronave.
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Após horas no avião, os passageiros já estavam indignados com a situação e começaram a questionar os funcionários.
“Quando eram 23h, alguns passageiros, inclusive eu, falaram que iam descer de qualquer maneira porque havia pessoas com bebês de colo e não havia mais fraldas, não tinha alimentação nenhuma. Teve um senhor que passou mal durante o voo, ficou hipoglicêmico, precisava de alimentação e a Gol não tinha nem um alimento para nos dar. Esse voo foi dividido. As pessoas queriam descer e o comandante falava a todo momento que quem descesse do avião não retornaria e que ele levaria aquele voo para Belo Horizonte. Ele frisou isso várias vezes. Eu tenho isso gravado em um dos vídeos. Eu gostaria de ter descido, mas a minha esposa disse ‘vamos ficar porque eu não aguento mais’”, detalhou.
“Quando eram 23h, alguns passageiros, inclusive eu, falaram que iam descer de qualquer maneira porque havia pessoas com bebês de colo e não havia mais fraldas, não tinha alimentação nenhuma. Teve um senhor que passou mal durante o voo, ficou hipoglicêmico, precisava de alimentação e a Gol não tinha nem um alimento para nos dar. Esse voo foi dividido. As pessoas queriam descer e o comandante falava a todo momento que quem descesse do avião não retornaria e que ele levaria aquele voo para Belo Horizonte. Ele frisou isso várias vezes. Eu tenho isso gravado em um dos vídeos. Eu gostaria de ter descido, mas a minha esposa disse ‘vamos ficar porque eu não aguento mais’”, detalhou.
Em um dos vídeos, é possível ouvir a voz do piloto fazendo um comunicado aos passageiros em Guarulhos. “Será providenciada toda a estrutura para os senhores aqui (...). Com toda a sinceridade pessoal, eu não sou São Pedro para garantir que o campo vai estar aberto ou fechado”, disse, sob aplausos de alguns passageiros.
“Se por acaso tivermos que retornar para Guarulhos, a minha obrigação é trazer os senhores de volta com toda a segurança. Os passageiros que quiserem desembarcar, serão desembarcados, podem ficar tranquilos”, disse o comandante.
“Se por acaso tivermos que retornar para Guarulhos, a minha obrigação é trazer os senhores de volta com toda a segurança. Os passageiros que quiserem desembarcar, serão desembarcados, podem ficar tranquilos”, disse o comandante.
Segundo Lage, o casal que depredou o guichê estava no primeiro grupo que desembarcou do avião naquele horário. Eles aparecem em um dos vídeos registrados por ele no avião. Com o bebê no colo, eles conversam com tripulantes e outra passageira, que também estava com uma criança, perto da cabine. Eles pedem informações e a mãe diz que precisava trocar a fralda da criança.
“Quando deu meia-noite, que nós tínhamos seis horas dentro desse avião, eles nos fizeram descer da aeronave, direcionaram todo mundo para a sala de embarque novamente. Falaram que iam pagar um lanche, formou-se mais uma fila de mais de 100 pessoas para lanchar. Eu fiquei para trás nessa fila e no meu momento de lanchar não tinha mais nada para comer”, conta o agente.
“A Gol não me deu alimentação. Na hora de voltar para Belo Horizonte eles não me arrumaram um hotel para ficar em São Paulo. O hotel onde estavam recolocando as pessoas era a 50 minutos de Guarulhos e já tinha uma fila gigantesca. Já eram mais de 4h quando eles estavam tentando arrumar um hotel para as pessoas. E eu desisti do voo da Gol. Tive que comprar uma passagem de outra companhia que saía às 6h para conseguir chegar em Belo Horizonte.
“A Gol não me deu alimentação. Na hora de voltar para Belo Horizonte eles não me arrumaram um hotel para ficar em São Paulo. O hotel onde estavam recolocando as pessoas era a 50 minutos de Guarulhos e já tinha uma fila gigantesca. Já eram mais de 4h quando eles estavam tentando arrumar um hotel para as pessoas. E eu desisti do voo da Gol. Tive que comprar uma passagem de outra companhia que saía às 6h para conseguir chegar em Belo Horizonte.
André Lage diz que os passageiros se organizaram em um grupo para tomar providências em relação ao ocorrido. Há mais de 50 membros, segundo ele. “A intenção de todos nesse grupo é entrar na Justiça contra a Gol porque o desrespeito que eles fizeram conosco nesse voo foi uma coisa absurda, foi inexplicável. Eu embarquei nesse avião às 17h45 e fui sair de Guarulhos às 6h em uma outra companhia. Eu pernoitei dentro do aeroporto sem nenhuma assistência da Gol”, enfatiza.
Assista ao momento em que o casal quebra o guichê da companhia aérea:
Ainda sobre a ação do casal registrada em vídeo, Lage atribui a situação aos ânimos exaltados e diz que todos os passageiros estavam nervosos. “Eu não tiro a razão daquele casal. É claro que a gente quebrar as coisas não leva a lugar nenhum, mas a gente chamou a polícia, liguei para o 190, pedi que a Polícia Federal comparecesse. Nem a polícia do 190 e nem a Federal compareceram. A gente vê que na hora que aquele casal quebra o check-in da Gol eles queriam a polícia ali. Ele falou ‘Agora a polícia vai vir’. Eu cheguei a chamar um segurança do aeroporto e falei ‘Olha, você não vai chamar a polícia, eu vou começar quebrar tudo aqui, porque aí a polícia vai aparecer’. Só que a gente procura não fazer isso. A gente perde a razão quando tem esse tipo de atitude”, ponderou.
Danos morais
Uma das passageiras do voo G3-1324 era a mãe da advogada especialista em direito do consumidor e turismo, e blogueira do Estado de Minas, Luciana Atheniense. Ela conta que a mãe tem 80 anos e vinha a Belo Horizonte no Dia de Finados para prestar homenagem do marido, vítima da COVID-19.
Segundo a filha, o cansaço foi tanto que ela só conseguiu fazer a vista ao túmulo nesta quarta-feira (3/11). “A minha mãe de 80 anos não conseguiu dormir, passou a noite em um banco dentro do aeroporto”, comenta. Segundo ela, após algum tempo ela conseguiu hospedagem, mas em Barueri, a cerca de 50 quilômetros de Guarulhos.
Segundo a filha, o cansaço foi tanto que ela só conseguiu fazer a vista ao túmulo nesta quarta-feira (3/11). “A minha mãe de 80 anos não conseguiu dormir, passou a noite em um banco dentro do aeroporto”, comenta. Segundo ela, após algum tempo ela conseguiu hospedagem, mas em Barueri, a cerca de 50 quilômetros de Guarulhos.
“É inquestionável o impacto da pandemia para as companhias aéreas, mas essa alteração da malha aérea sem devida assistência ao consumidor é inadmissível. Mesmo nesse momento de pandemia, o consumidor continua sendo a parte mais fraca da relação, continua sendo vulnerável e hiposuficiente em relação as companhias aéreas. Uma situação meteorológica que é previsível, tudo bem, estava-se preservando a segurança do passageiro, isso é inquestionável. Nós estamos questionando o depois, como que se vai atender a essas dezenas de consumidores, como vai ser essa assistência. E isso a empresa aérea não está dando a devida assistência material, seja de informação, de alimentação, de hospedagem e translado. O que a gente repara é que está retornando a questão do transporte aéreo, principalmente voos domésticos, e as empresas não estão atendendo o consumidor de forma adequada. Demonstra um verdadeiro descaso com essa parte mais fraca que é o passageiro aéreo”, analisa a especialista.
A advogada orienta que, nesse tipo de situação, os passageiros devem reunir provas e manter a calma, evitando agressividade. “Eu acho que muitos já fizeram. É tirar fotos, tentar buscar a polícia para registrar, buscar os meios legais. A força não adianta, mas a gente não pode ver aquele vídeo só no contexto da força. A força perde o direito, mas temos que ver por que aconteceu isso. Em nenhum momento estamos estimulando a força e não estamos justificando, mas queremos a punição do descaso da empresa aérea em relação ao consumidor”, comenta Luciana Atheniense.
Para a advogada, o problema no voo pode acarretar em danos morais em favor dos passageiros. “Eu quero ouvir o jurídico da Gol antes de propor uma ação. Se eu ver que a resposta não for adequada eu vou propôr uma ação. Porque provas eu tenho do descaso, isso é inquestionável. Primeiro eu vou tentar ver se há uma possibilidade de fazer um acordo. Eu trabalho com isso há mais de 25 anos. Se a empresa aérea achar que foi tudo ok, é propor a ação. Danos morais com certeza, pelo descaso, pelo abandono e pelo desrespeito. E, pela minha mãe, falta de atendimento aos passageiros com prioridade, sendo uma idosa de 80 anos”, pontuou.
Resposta da Gol
Na manhã desta quarta-feira, o Estado de Minas voltou a entrar em contato com a companhia aérea com questões a respeito dos relatos acima, questionando por que os passageiros não puderam sair da aeronave quando chegaram, como foi o atendimento, fornecimento de informações, hospedagem, alimentação, entre outras.
A Gol, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que “não fornece informações sobre clientes”, e reiterou a nota divulgada ontem, que está na íntegra abaixo:
"A GOL informa que, após a decolagem, o voo G3 1324 (Guarulhos - Confins), na noite de segunda-feira (1º), precisou retornar ao Aeroporto de Guarulhos, por conta das condições meteorológicas adversas em Confins. A Companhia ressalta que ofereceu o suporte necessário a todos os Clientes e acomodou os passageiros para seguir viagem em voos programados para a terça-feira (2).”
A reportagem também perguntou se algum funcionário do guichê ficou ferido durante o quebra-quebra no terminal. “Nenhum funcionário ou cliente se feriu depois do incidente”, respondeu a assessoria”. “Reforçamos também que todos os procedimentos tomados foram para garantir a segurança de todos”, pontuou.
Segundo apuração do site AeroIn, especializado em aviação, já em Guarulhos, a tripulação atingiu o máximo de horas que poderia voar por dia e precisou ser trocada. Além disso, como muitas pessoas desistiram da viagem e precisaram desembarcar, foi necessário alterar a documentação do voo. Então, todos os passageiros tiveram que deixar a aeronave.
Segundo apuração do site AeroIn, especializado em aviação, já em Guarulhos, a tripulação atingiu o máximo de horas que poderia voar por dia e precisou ser trocada. Além disso, como muitas pessoas desistiram da viagem e precisaram desembarcar, foi necessário alterar a documentação do voo. Então, todos os passageiros tiveram que deixar a aeronave.
Casal foi levado para delegacia e liberado
Após a depredação do guichê, o casal foi encaminhado à Polícia Civil. Nesta manhã, procurada, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que o caso foi registrado e o casal foi liberado. Leia a nota:
“Um homem, de 47 anos, e uma mulher, de 39, se envolveram em uma confusão, na noite de segunda-feira (1º/11), por volta das 23h, no Aeroporto de Guarulhos.
Um agente operacional, de 43 anos, foi informado sobre o fato e, no local, encontrou os dois passageiros, que haviam quebrado três guichês de acrílico.
Uma impressora de uma companhia aérea também foi danificada na ação. Os dois foram levados à delegacia.
O caso foi registrado com a natureza não criminal pelo 3º Delegacia de Atendimento ao Turista (Deatur)”.
O Estado de Minas também procurou, por e-mail, a GRU Airport, concessionária responsável pelo Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, mas obteve resposta até o momento da publicação.