Forças de segurança policiais e ambientais se articulam para coibir a exploração ilegal de ouro no Rio Madeira, no interior do Amazonas. Há cerca de 15 dias, o local foi invadido por garimpeiros após circular informações de que há abundância do minério na localidade, onde homens instalaram centenas de balsas equipadas com bombas d'água e casas flutuantes para limpar o fundo de rios. Todas enfileiradas, conforme mostram imagens e vídeos amplamente divulgados na internet. A região fica próxima ao município de Autazes, aproximadamente 120 quilômetros distante de Manaus, capital do Amazonas.
Leia Mais
Réveillon de capitais segue indefinidoPadre Robson admite crime organizado e diz que é 'chefe da quadrilha'Neurocirurgião ganha eleição para reitor da USP; escolha cabe a DoriaCOVID-19: o que esperar da nova variante detectada na ÁfricaBrasil corre risco de nova onda de COVID-19 como a Europa?Em comunicado oficial, a Polícia Federal diz que tem conhecimento das atividades ilícitas no rio Madeira, "e juntamente com outras instituições estabelecerá as melhores estratégias para o enfrentamento do problema e interrupção dos danos ambientais. A corporação, no entanto, afirma que a operação ocorre sob sigilo total.
Na quarta-feira (24/11), o Ministério Público Federal (MPF) recomendou medidas emergenciais para reprimir o garimpo ilegal em Autuazes. A pasta pede atuação integrada de órgãos e autarquias competentes no prazo de 30 dias.
Reação
Aproximadamente 300 embarcações estão no rio amazonense. Segundo informações do jornal Estadão, garimpeiros estão prontos para reagir caso sejam abordados pela polícia. Um dos interlocutores fala, por meio de áudios, em montar um "paredão" de balsas, com pessoas envolta das instalações, em represália a possíveis fiscalizações.
Nos últimos 15 dias, garimpeiros concentraram balsas após correrem informações de que haveria grande quantidade de ouro na região. No entanto, conforme decisão do MPF, a exploração sem autorização no local está proibida. Em agosto deste ano, a Justiça Federal condenou o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) a anular as licenças concedidas irregularmente para as atividades de extração de ouro no leito do rio Madeira, em uma área de mais de 37 mil hectares, na região sul do Amazonas. A sentença continua válida e reafirma uma decisão liminar de 2017 semelhante.
"Com isso, toda a atividade garimpeira antes amparada por essas licenças irregulares deve seguir paralisada. A ação que originou a sentença é do Ministério Público Federal (MPF) em ação civil pública. Atualmente, o processo está em fase de recurso", diz o MPF.
As balsas retiram o ouro por meio de longas mangueiras instaladas no fundo do rio, sugando a terra e tudo que encontrarem no leito, inclusive ouro. O material extraído é trazido pela mangueira até a balsa e passa por uma esteira, onde é filtrado e devolvido à água. O ouro encontrado fica retido na esteira.
Além de ilegal, o trabalho realizado pelas dragas polui e impacta diretamente o meio ambiente e as comunidades ribeirinhas e indígenas. Esse processo de garimpo acaba com todo tipo de alimento de centenas de espécies de peixes, comprometendo a qualidade da água e gerando assoreamento.
Região
O rio Madeira é um dos principais afluentes do rio Amazonas e tem cerca de 3.335 quilômetros de extensão. A bacia passa pelo Brasil, Peru e Bolívia, e tem importância vital na economia de regiões brasileiras, em especial pela pesca e transporte hidroviário.
"O Madeira é o rio com a maior biodiversidade no mundo. Abriga pelo menos 1.000 espécies de peixes já identificadas, e sua bacia contribui com 50% do total da carga de sedimentos suspensos transportados pelo rio Amazonas. Trata-se de um gigante que agoniza com hidrelétricas e uma epidemia de garimpo que nunca foi contida", explicou Danicley Aguiar, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.
O Greenpeace realizou uma operação de sobrevoo na terça-feira (23), e constatou que centenas de balsas estão, há cerca de duas semanas, localizadas sob o Rio Madeira para a extração ilegal de ouro.
"O que vimos no sobrevoo é o desenrolar de um crime ocorrendo à luz do dia, sem o menor constrangimento. Isso tudo, óbvio, é referendado pelo presidente Bolsonaro, que dá licença política e moral para que os garimpeiros ajam dessa maneira", declarou Danicley.
Confira o vídeo:
Mesmo com as denúncias feitas às autoridades e comoção do país acerca do tema, os garimpeiros da região criaram um grupo aberto no Facebook para divulgar vídeos de como extraem o minério do rio Madeira. Entre as postagens, existe até anúncio de compra de onças de ouro e venda de uma draga, pelo total de R$ 1.400.000.
*Estagiários sob a supervisão de Pedro Grigori