Após ser acusado por violência obstétrica pela influenciadora Shantal Verdelho, que pediu abertura de inquérito para apurar o que ocorreu durante o parto de sua filha em setembro, o médico Renato Kalil foi denunciado por abuso sexual, que teria sido cometido em 1991 em mais de uma ocasião. A bancária Letícia Domingues, de 48 anos, prestou queixa nesta quarta-feira, 15, no 93° Distrito Policial, em São Paulo. Procurado pela reportagem, o obstetra 'nega veementemente' as acusações e diz que considera 'absurdas e fantasiosas as histórias', em nota.
Leia também: MPSP abre investigação contra Renato Kalil por denúncias de violência obstétrica
A bancária afirma que passou todos esses anos com medo de denunciá-lo, até ver as acusações feitas por Shantal e pela jornalista Samantha Pearson, que contou sua história ao jornal O Globo, na última semana. Foi o que a encorajou a falar publicamente e prestar queixa do abuso que teria sofrido ao fazer um procedimento ginecológico na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo em outubro de 1991.
"Isso é um assunto que ficou querendo gritar na minha garganta por mais de 30 anos. A minha vida nunca mais foi a mesma depois daquilo. O motivo de eu falar agora é para que outras pessoas falem também", desabafa em entrevista ao Estadão.
Na época em que foi internada, afirma ter sido atendida por uma equipe que não incluía Kalil. "Nos dias em que fiquei internada, acordei com ele me estuprando várias vezes. Todas as vezes ele estava em cima de mim, com uma perna na escadinha, outra em cima de mim, com o pênis na minha boca. Algumas vezes ele já tinha ejaculado, outras ele ainda terminava", conta. Relembra que a cama onde estava, numa enfermaria sozinha, ficava atrás da porta, então quem entrava, não conseguia vê-la. Ela acredita que foi sedada, pois estava acordada, mas não conseguia reagir.
Trecho do boletim de ocorrência
No boletim de ocorrência, um dos trechos aponta que 'com a mão esquerda o autor (Renato) segurava o pênis fazendo movimento de introdução parando somente quando ejaculava dentro da boca' de Letícia. Diz, ainda, que, após o ato, o médico 'limpava a boca dela com a própria camisola hospitalar e saía sem dizer nada'.
Ela conta que foi Renato o médico a lhe dar alta, mas afirmou que ela precisava retornar depois de alguns dias, desta vez em seu consultório particular. O pai a acompanhou, mas ficou do lado de fora da sala. "Ele (Renato) mandou eu tirar a roupa, deitei na cama do consultório. Ele colocou o pênis, duro, para fora da calça, quis mexer no meu peito, eu não deixei. Eu não deixei ele fazer nada, ele se masturbou sozinho e eu fui embora", relembra.
Letícia conta que topou ir ao consultório naquela consulta pelos pais, que achavam o médico 'muito bonzinho'. Por medo, ela não tinha conseguido contar a eles o que tinha ocorrido no hospital. Passaram anos até conseguir contar à sua família. Foi somente em 2019, ao ver Renato em uma reportagem na televisão, que decidiu falar sobre a história.
"Eu tive um ataque de pânico, comecei a sentir o cheiro, a vomitar, a gritar de chorar, aí contei tudo para a minha mãe, para a minha irmã", relata. Dez anos depois do ocorrido, chegou a tentar denunciá-lo no Conselho Regional de Medicina de São Paulo por uma ligação feita a partir de um telefone público a fim de não ser identificada. Quando soube que precisaria fazer a denúncia pessoalmente e por escrito, ficou intimidada e não seguiu em frente.
Ela conta que foi desincentivada a denunciar o médico, também, por um ginecologista que a atendia quando precisou passar por uma cirurgia. Ao relatar o caso, ele teria dito que ela não deveria repetir aquilo para mais ninguém pois Renato era 'uma pessoa muito importante' e 'muito maldoso', segundo relato de Letícia. Ela afirma ter desenvolvido transtornos de pânico, de imagem e de relacionamento. "Por muitos anos, eu recebia cartão de Natal do consultório dele, então aquilo era mais doloroso ainda", conta.
COM A PALAVRA, O MÉDICO RENATO KALIL
"O dr. Renato Kalil nega veementemente as acusações, considera absurdas e fantasiosas as histórias e estranha que sejam veiculadas agora, 30 anos depois."