O surgimento de novas variantes do vírus SARS-CoV-2, o apagão de dados e a politização das medidas de enfrentamento da pandemia serão os desafios que o Brasil enfrentará em 2022 para controlar o avanço da COVID-19 no país, que é um dos epicentros da doença no mundo. A análise está no Boletim do Observatório COVID-19 Fiocruz, divulgado nesta quinta-feira (23/12) pela Fundação Oswaldo Cruz, que traz também um balanço da pandemia no ano de 2021. O Brasil termina o ano com mais de 22 milhões de casos e 616 mil mortos pela doença.
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“Com pequenas e importantes exceções, não estão sendo feitas campanhas pelo uso de máscaras e manutenção do distanciamento físico, o que pode levar à falsa ideia de que a pandemia esteja sob controle. Nas próximas semanas, serão realizadas festas familiares, comunitárias e mesmo alguns eventos de massa estão sendo programados”, diz o boletim.
Variantes
Uma das preocupações dos cientistas é o surgimento de variantes do novo coronavírus, como a Ômicron, identificada inicialmente na África do Sul e já presente no Brasil e em mais 90 países.
“É uma preocupação neste momento, por exemplo, que a propagação da variante Ômicron, combinada com a maior circulação de pessoas nas férias e festas de fim de ano, venha a potencializar o crescimento de casos, internações e óbitos, que podem terminar culminando em crises e colapso do sistema de saúde”, alerta o boletim.
Os cientistas destacam que o surgimento da variante Gama no fim do ano passado foi responsável pela segunda onda da COVID-19, pela qual o Brasil passou em março e abril últimos, quando o país chegou a registrar mais de 3 mil mortes por dia.
A variante Ômicron é responsável pelo recente aumento de casos de COVID-19 em países como Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos e Rússia, que estão no inverno e já preveem que a variante será a dominante em breve.
Informação
O boletim da Fiocruz aponta também a vulnerabilidade dos sistemas de informações em saúde como um desafio a ser superado para enfrentar a pandemia. “As falhas na divulgação de dados sobre a pandemia não são só decorrentes do ataque hacker sofrido pelos portais e sites do Ministério da Saúde, mas combinam vulnerabilidades e fragilidades em todo o processo, que se inicia com preenchimento dos formulários nos estabelecimentos de saúde e municípios.”
Segundo o relatório, ocorreram atrasos e interrupções na divulgação de dados, o que impede “a produção de informações que são vitais para tomadas de decisão baseadas em evidências, resultando em condições semelhantes a situações como dirigir no escuro e sem faróis, ou pilotar um avião sem instrumentos de navegação”.
Como exemplo, o documento aponta uma diferença incompatível com o desenrolar da pandemia registros das primeiras semanas de dezembro. “A queda observada do número de casos registrados (5% ao dia) é incompatível com a dinâmica de transmissão da doença. Isso se pode confirmar pelo aumento abrupto da taxa de letalidade, que saltou de 2,5% para 4,2%, o que indica queda no número de casos, não acompanhada pelo número de óbitos, o que é resultado da subnotificação de grande parte dos casos nas últimas semanas”.
Politização
Para os cientistas, o terceiro desafio diz respeito à politização das medidas de enfrentamento da pandemia, que são vitais para a proteção da saúde e da vida da população. “Esse processo tem combinado a desvalorização de medidas preventivas fundamentais de proteção - como distanciamento físico e social, uso de máscaras e higienização das mãos - com a propagação organizada de fake news e a criação de um clima de descrédito e desconfiança em relação às vacinas.”
O boletim menciona os “inaceitáveis” ataques à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), seus diretores e funcionários, depois da aprovação do uso da vacina contra a COVID-19 em crianças.
Outros cuidados
O boletim reitera a recomendação da Fiocruz para que as crianças sejam vacinadas com a máxima urgência, medida que os cientistas consideram fundamental para controlar a doença em todas as faixas etárias. “A vacinação contra a COVID-19 em crianças tem papel importante na cadeia de transmissão, já que a ampliação da cobertura vacinal, além de reduzir o número de casos graves, reduz a circulação do vírus. Essa circulação reduzida também leva a menor chance de surgimento de novas variantes”, diz a publicação.
O boletim do Observatório COVID-19 Fiocruz destaca ainda o padrão de transmissão da doença estável em patamares altos e que, portanto, é necessário manter todos os cuidados sanitários recomendados, como respeitar o distanciamento físico, higienizar bem as mãos e continuar usando máscaras de proteção.
"Neste cenário complexo e carregado de incertezas, insistimos na necessidade de manter cautela frente à pandemia, reafirmando o princípio da precaução”, reitera o boletim da Fiocruz.