Jornal Estado de Minas

Desejos de ano novo

Sonhos de moradia, emprego e igualdade reacendem esperança em 2022


Por ao menos três dias na semana, a diarista Érica Maria de Jesus, de 35 anos, se desloca em ônibus do Bairro Marajó, na zona Oeste de Belo Horizonte, onde mora, para ganhar o seu sustento em área nobre da capital. Ela batalha pelo maior sonho, de ter a casa própria. Como Érica, a população que ainda sofre duras consequências da recessão na economia, agravada pela pandemia de COVID-19, acumula uma série de desejos, lembrados com esperança neste começo de ano.




 
O Estado de Minas ouviu trabalhadores de diversas áreas sobre os seus desejos e desafios para 2022. Os sonhos passam pela redução da desigualdade social, a superação das dificuldades financeiras e das turbulências na economia, e por conseguir trabalho ou melhorar as condições na jornada diária. Parte das pessoas que conversaram com o EM acredita que alcançá-los também depende da mudança de presidente da República.
 
A expectativa para 2022 é de que os rumos do Brasil possam mudar, com mais união e oportunidade para todos. A diarista Érica de Jesus afirma que não está satisfeita com a situação do país. “Gostaria de mais saúde, livramento, amor, paz e dinheiro para todos nós. A falta de compreensão é algo que nos prejudica muito”, afirma. Apesar dos obstáculos que tem de enfrentar no dia a dia, ela mantém o sorriso no rosto. “Temos de ser felizes,  trabalhar e confiar que as coisas mudam”, brinca a belo-horizontina.
 
Por mais que o brasileiro seja conhecido pelo perfil de um povo alegre, descontraído e receptivo, isso está longe de representar felicidade do ponto de vida de qualidade de vida e do acesso aos direitos de cidadania. O ranking mundial da felicidade, organizado pelas Nações Unidas (ONU) em parceria com o Instituto Galupp, e divulgado em março último, posiciona o Brasil num modesto 41º lugar com base na apuração de 2020.




O Brasil perdeu 12 posições para a edição anterior. O estudo considera aspectos como a renda per capita nos países, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços), ações de apoio social, expectativa de vida, combate à corrupção e generosidade, entre outros fatores.
 
O sonho de Érica Maria da moradia própria é um desejo muito comum entre os brasileiros. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 18,3% dos 74 milhões de domicílios permanentes no país são alugados. Por outro lado, o total de domicílios próprios equivale a 66,4%. Há 0,2% de habitação precária, como cortiços ou cabeças de porco (moradias coletivas e insalubres).

Voos mais altos Diferentemente da diarista ouvida pelo EM, para a vendedora Aryadne Thamires, de 25, a felicidade, neste ano, será conquistar um emprego fixo na área do fisiculturismo, sua grande paixão e vocação, além da busca de alçar voos mais altos. “Sou atleta e meu principal desejo é pôr em prática meu sonho de me profissionalizar no ramo. É necessário muita persistência, até porque há prática de indicações nessa área. Mas tenho esperança que vou conseguir trabalhar nessa área”.




 
O ambulante Bruno Santos Ferreira, de 26, busca emprego fixo depois de ter ficado sem trabalho por longo tempo. Embora saiba das dificuldades no país, que tem taxa de desemprego de 12,1%, atingindo 12,9 milhões pessoas, segundo os dados do IBGE relativos ao trimestre encerrado em outubro, Bruno demonstra animação.  “Quero um novo trabalho ou mesmo abrir uma empresa no ramo de vendas, entrar para a faculdade de novo”, afirma.
 
Trabalho permanente se tornou desejo ainda mais almejado num país desafiado pela crise sanitária e econômica. De acordo com o IBGE, o número de empregados sem carteira de trabalho no setor privado cresceu 9,5% no trimestre até outubro, frente ao período anterior, chegando ao universo de 12 milhões de pessoas. A taxa de informalidade da população ocupada atingiu 40,7%, ou seja, 38,2 milhões trabalhando sem registro.

Sobe a pressão por trabalho e renda


Os anos de 2020 e 2021 foram perdidos para o país no que se refere ao mercado de trabalho e à renda, ressalta o pesquisador Daniel Duque, da área de Economia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Estamos ainda com um nível de ocupação consideravelmente abaixo do pré-pandemia, especialmente para mulheres, enquanto a renda média atualmente está caindo principalmente devido à alta da inflação”, explica.




Em termos de desigualdade social, trabalhadores qualificados que conseguem realizar suas atividades de casa ficaram protegidos, enquanto trabalhadores informais e das áreas de serviços foram duramente afetados”, destaca Daniel Duque. Com a tendência de crescimento do país em baixa, ele diz que o patamar da pobreza vai se elevar nos próximos anos.
 
“O PIB per capita brasileiro desacelerou consideravelmente nos últimos trimestres e todas as áreas foram afetadas negativamente. Há claramente problemas de apoio social, enquanto o combate à corrupção se tornou uma agenda escanteada pela sociedade”, acrescenta o pesquisador da FGV. A economia perdeu ritmo de outubro a dezembro levando o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a rever para baixo as suas projeções para o crescimento do país. A expansão da economia está estimada, agora, em 4,5% no ano passado, frente aos 4,8% esperados. Para este ano, os pesquisadores do instituto preveem taxa de 1,1%, ante 1,8% anteriormente.
 
Por sua vez, o professor de Economia do Centro Universitário Unihorizontes Paulo Vieira vê com certa preocupação o aumento da miséria e da fome em todo o país. “Temos problemas sérios em relação ao emprego e à renda. Temos 13 milhões sem trabalho e praticamente o dobro de subempregados. Os empregos que estão sendo criados, segundo as próprias agências governamentais, são de pior qualidade e que remuneram menos. Com isso, a renda do brasileiro vem caindo cada vez mais, o que representa maior empobrecimento”.




 
Segundo o economista, o cenário brasileiro neste ano é de desconfiança, tendo em vista a crise que se arrasta há quase oito anos. “Boa parte dos acordos de reajuste de salários não cobrem a inflação. Não vejo para 2022 boas perspectivas quanto à recuperação de posições. Temos um cenário complicado no Brasil, já que a confiança está abalada. Temos sérias questões econômicas e políticas, que nos levam a interrogações. A pandemia ainda não acabou, e ainda há reflexos de uma crise que começou em 2014”. (RD)

Érica Maria de Jesus, 35 anos, diarista 

“Não estou satisfeita com nosso país. Gostaria de mais saúde, livramento, amor, paz e dinheiro para todos nós. A falta de compreensão é algo que nos prejudica muito. Meu sonho em 2022 é ter minha casa própria. A partir disso, posso ter dinheiro para outros objetivos” 
Solteira, Érica de Jesus cursou o ensino médio e mora no Bairro Marajó.

Rogério Pardo, 25 anos, assistente jurídico

“Vivemos um momento complicado, mas tenho fé que vamos sair dessa. Hoje, falta muita humanidade às pessoas e isso prejudica nossa evolução. Quero muita saúde no próximo ano para superarmos toda essa fase complicada e buscarmos voos mais altos” 
Rogério Pardo frequentou o ensino superior. Ele é solteiro e mora no Bairro Floramar.





Aryadne Thamires, 25 anos, vendedora 

“É necessário que as pessoas tenham mais humanidade e simpatia com os demais. Deveriam pensar mais no próximo e, a partir disso, buscar um país mais justo e igual. Meu principal desejo é pôr em prática meu sonho de me profissionalizar no fisiculturismo. É necessário muita persistência, mas vou conseguir” 
Aryadne é solteira, cursou o ensino médio e mora no Bairro Etelvina Carneiro.

Gilcélio Gonçalves, 24 anos, atendente de lanchonete 

“A situação dos brasileiros é muito precária. Muitos não têm acesso à saúde, outros emprego. Vemos pessoas precisando de ajuda. Com muita oração, vamos superar. Quero melhor condição de trabalho para ajudar em casa, poder comprar uma moto nova ou mesmo uma moradia” 
Gilcélio não completou o ensino médio, é solteiro e morador da Vila Ideal, em Ibirité.

Isabela Oliveira, 25 anos, psicóloga

“Que em 2022 as pessoas estejam mais conscientes de seu papel no futuro do país. Espero uma mudança de presidente. Vivemos um período difícil, o que levou as pessoas a cuidarem da saúde mental. É muito importante dar atenção a isso. Meu sonho é continuar estudando e ver outras pessoas de baixa renda terem acesso à educação, o que é muito difícil” 
Isabela é solteira e mora no Bairro Barro Preto.





Rafaela Josiane, 16 anos, estudante

“Enxergamos hoje uma falta de interesse das pessoas e de solidariedade. Temos hoje o problema das enchentes na Bahia e em algumas cidades de Minas Gerais, mas as ajudas humanitárias são muito pequenas. Tudo isso é reflexo do nosso presidente, que não se preocupa com os problemas dos outros. Quero um trabalho de menor aprendiz para poder ajudar minha família” 
Rafaela está cursando o ensino médio, é solteira e mora no Bairro Nova Vista.

Luiz Braun, 63 anos, psicólogo 

“Estou muito esperançoso com o próximo ano. Temos a possibilidade da chegada do Lula para assumir novamente o país e colocar fim a uma série de problemas, sobretudo na economia, como a alta inflação e os juros elevadíssimos. Torço para que tenhamos uma melhor distribuição de renda, com menor disparidade entre ricos e pobres” 
Morador de Ipatinga, no Vale do Aço, Luiz Braun é casado.

Karine Fernandes, 31 anos, auxiliar de produção 

“Esperamos uma melhora na economia e no padrão de vida dos brasileiros e que tenhamos um ano tranquilo, com menos mortes pelo coronavírus. Que 2022 seja mais tranquilo. Quero uma vida profissional melhor. Para isso, espero me capacitar mais para crescer em meu emprego”
Karine é solteira, frequentou o ensino médio e mora no Bairro Santa Efigênia.




Lucas Gomes da Silva, 28 anos, gerente de vendas

“Vemos um país muito desigual, mas esperamos dias melhores, a começar por menos perdas pelo coronavírus. Tudo tende a melhorar daqui para a frente. Quero viajar para Porto Seguro mais à frente. Foi muito difícil, porque a pandemia adiou um pouco esse sonho. Mas vou realizá-lo em breve” 
Lucas Gomes não completou o ensino superior, é casado e mora no Bairro Boa Vista.

Bruno Santos Ferreira, 26 anos, vendedor 

“Provavelmente, teremos uma estagnada até possível troca de presidente. A intenção de todos os governos é melhorar e espero que isso ocorra de fato. Quero abrir uma empresa no ramo de vendas e entrar para a faculdade de novo. Tudo indica que devo me casar. Minha expectativa pessoal é bem bacana”
Bruno completou o ensino médio e mora no Bairro Industrial, em Contagem.


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