O grupo busca, também, ajuda na garantia do estoque de Tamiflu, remédio essencial para atravessar o momento de subida no número de quadros gripais. Apesar das reivindicações, ainda não houve resposta do governo federal.
"É um prazo enorme. Um dia de atraso na chegada do antigripal é um dia a menos que tenho de êxito no tratamento de quem, eventualmente, está com a síndrome gripal. Um dia de atraso nos testes, é mais gente que não vou poder separar entre os que estão – ou não – com COVID. Então, o nível de contaminação continua alto", diz Nogueira, ao Estado de Minas.
Em Belo Horizonte, por exemplo, a taxa de transmissão da infecção está em 1,15, o que significa que 100 pessoas podem contaminar outras 115. O índice, que já ficou abaixo de 100, agora representa estado de atenção. O nível de incidência também subiu vertiginosamente e, agora, está em 110,4.
Para dar conta da demanda, a administração belo-horizontina retomou o expediente de consultas virtuais e abriu 66 novos leitos de enfermaria. Postos de saúde têm funcionado em horário estendido para dar conta da procura.
Entre os prefeitos, porém, a percepção é que o Ministério da Saúde precisa agir para assegurar, à rede assistencial, as ferramentas necessárias.
"Há uma variável que nós, prefeitos, não controlamos: a disponibilidade de insumos, que é de responsabilidade do Ministério da Saúde. Daí a razão do nosso contato, para que nos mandem o Tamiflu, antigripal, e os testes, para a gente poder, na ponta, no mundo real, onde as coisas acontecem, evitar o máximo possível de danos maiores à saúde das pessoas", explica Duarte Nogueira.
Aprendizado na dor
Depois do cenário de extrema dificuldade enfrentado no ano passado, a ideia é minimizar os impactos. "A curva de aprendizagem que a gente aprendeu na dor nos dá, agora, uma visão de planejamento, prudência e previdência muito maior", afirma o prefeito de Ribeirão Preto. "Essa curva nos dá, agora, um pouco mais de segurança para tomar as decisões corretas em função de tudo o que a gente passou", emenda.
Das três reivindicações feitas à pasta chefiada pelo médico Marcelo Queiroga, os exames de COVID-19 e o Tamiflu são considerados mais urgentes. Por causa da profusão de sintomas gripais, separar os portadores de síndrome respiratória dos contaminados pelo coronavírus é primordial.
A medicação antigripal também é vista como essencial. Há, também, preocupação sobre a data de validade das caixas de Tamiflu no estoque federal. "Passadas as 48 horas, não adianta mais. O Tamiflu não tem efeitos a longo prazo, depois que a doença se instalou", pontua Nogueira.
O Estado de Minas perguntou ao Ministério da Saúde se há prazo para dar resposta ao ofício do Consórcio Conectar, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Minas: em meio a nova cepa, cidades buscam desafogar sistema
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) já registrou 166 casos de COVID-19 provenientes da Ômicron, que circula em ao menos 22 municípios. Belo Horizonte contabiliza a maior proporção de casos da variante (76), seguida por Extrema (19), no Sul de Minas, e Pouso Alegre (17).
Minas afora, cidades dão passos atrás nas flexibilizações a fim de conter o vírus. Para além dos cancelamentos do carnaval, medida tomada inclusive na capital, há medidas como o cancelamento das aulas presenciais na Universidade Federal de Lavras (UFLA), no Sul de Minas. Perto dali, em Alfenas, o hospital de campanha vai ser reaberto. A região tem registrado aumento de 400% na média diária de casos.
Em Uberaba, no Triângulo, as visitas a internados nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) estão temporariamente vetadas. Patos de Minas, no Alto Paranaíba, por sua vez, vai aproveitar uma antiga casa de saúde para concentrar testes e desafogar outras unidades.
A Ômicron faz ser impossível, neste momento, prever a realização da folia momesca. Segundo o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, as aglomerações de Natal e ano-novo fazem com que haja tendência de aumento rápido de casos da cepa.
"Temos uma tendência de diminuição de óbitos em relação à COVID-19 e continuamos com menos paciente internados. No entanto, há uma tendência de aumento de casos novos por conta das aglomerações de final de ano e a expansão da variante Ômicron. Além disso, houve um relaxamento das medidas de proteção como distanciamento e uso de máscara, o que pode provocar um grande aumento no número de casos", afirmou, nesta quinta.
Ofício a Brasília diz que distanciamento geral é 'inviável'
O texto com as reivindicações do Consórcio Conectar leva a assinatura de Gean Loureiro (DEM), prefeito de Florianópolis (SC). No documento, endereçado a Rodrigo Cruz, secretário-executivo do Ministério da Saúde, o dirigente lembra que, em virtude do avanço da vacinação e do clamor popular por retorno à normalidade, é "inviável" adotar medidas como o isolamento horizontal e o distanciamento geral.
"Ainda que as cidades tenham continuado com a vigência de diferentes medidas de contenção do espalhamento do vírus, a testagem rápida da população é o caminho para identificarmos com a velocidade necessária os indivíduos que precisam ser isolados e acompanhados", pede o grupo.
Com informações de Roger Dias, Portal Gerais, Vinícius Lemos, Magson Gomes, Luiz Fernando Figliagi e Renato Manfrim