A baixa adesão à vacinação contra a covid-19 nas cidades que fazem fronteira com outros países é motivo de alerta de grupos de estudos científicos que acompanham a imunização no Brasil. O Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), detalhou, no relatório Monitora-Covid 19, que esses dados são piores no Norte do país.
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Brasil tem 65,27% da população com a vacinação completa contra o coronavírusBrasil registra 206 mortes pelo coronavírus nas últimas 24 horasBrasil tem 65,09% da população totalmente vacinada contra o coronavírusChristovam Barcellos, pesquisador titular do Laboratório de Informação em Saúde do Icict, que esteve à frente do estudo, disse provocar apreensão a vulnerabilidade nesses locais. De acordo com ele, a falta de fiscalização sobre a entrada e a saída de viajantes vacinados e à exigência do passaporte sanitário pode agravar a pandemia. "Muitas das falhas de vacinação estão acontecendo em áreas de fronteiras, o que é muito preocupante em relação à entrada de novas variantes ou surtos locais que podem se espalhar para o Brasil inteiro", explicou.
Segundo o site Amazônia Latitude, as cidades de Tabatinga (Brasil) e Letícia (Colômbia) somam 50 mil habitantes. O município brasileiro é "o principal centro de convergência de toda uma rede no interior da Amazônia", no entanto, não conta com um sistema de saúde capaz de suportar uma grande quantidade de casos graves de covid-19.
Isso resultaria num alto fluxo de pessoas se deslocando para a capital, Manaus. "Imagina se todo mundo que ficar doente for para Manaus? A capital tem uma taxa de vacinação bastante alta, recebe muitas pessoas não vacinadas e doentes graves vindos do interior. São potenciais para o surgimento de novas variantes", frisou Barcellos.
Questionada pela reportagem sobre a razão da baixa vacinação no interior, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM) explicou, em nota, que "os profissionais de saúde relatam dificuldades no processo (de imunização)". "Entre elas, está o receio de reação após a aplicação da dose da vacina e questões psicossociais'', acrescentou, sem detalhar quais seriam. Além disso, informou haver "dificuldade de conectividade à internet e inserção das informações no sistema oficial do Ministério da Saúde".
O apagão de dados da pasta, por sinal, é outro quesito citado por Barcellos como uma falha séria no Plano Nacional de Imunização (PNI), principalmente no interior do país. "Talvez, a gente não esteja recebendo os dados dessas cidades porque não há internet ou pessoal capacitado para digitar. A pessoa está conectada na internet, inserindo diretamente no sistema, de repente, a rede cai. Vai para o Excel. Aí, às vezes, isso exige nova digitação. Cada secretaria cria um sistema diferente do outro, com linguagens incompatíveis. Se acontece algo com um lote, por exemplo, o Ministério da Saúde precisa dessa informação de forma mais ágil. Atrapalha no balanço nacional", ressaltou.
O Ministério da Saúde reforçou que a parcela da população residente nas fronteiras é "parte importante da estratégia para combater a pandemia da covid-19". Em nota, argumentou que "a pasta presta apoio irrestrito a todos os entes federados no enfrentamento à covid-19, como o reforço na assistência à saúde pública". Porém, não detalhou como está fiscalizando a distribuição ou a diferença da aplicação de doses nas capitais e nos municípios, principalmente os de fronteira.