Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

COVID-19: entenda como a Deltacron e surto na China podem impactar o Brasil

Nas últimas semanas, os números de casos da COVID-19 voltaram a subir em algumas regiões do planeta. Na Ásia e na Europa, o cenário da pandemia voltou a preocupar especialistas, que alertam para a importância das medidas de prevenção e a flexibilização com cautela. 





O número de casos positivos na Alemanha, Reino Unido e França somaram mais de 340 mil, segundo o último levantamento da na plataforma 'Our World in Data', ligada à Universidade de Oxford, publicado nessa terça-feira (15/3).

Na China, o avanço da doença motivou a decisão do governo em decretar, ontem, o confinamento obrigatório para 30 milhões de pessoas.

O Estado de Minas escutou dois especialistas em infectologia, que explicam os possíveis impactos do avanço do vírus na China e na Europa, assim como a nova cepa Deltacron. Para ambos, uma nova onda no país é algo ainda difícil de se prever. 





Deltacron: a nova variante mista da COVID-19

Dois casos da nova cepa, Deltacron, foram registrados no Brasil: um no Pará e um no Amapá. A informação foi confirmada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ontem. Até o momento, no entanto, nada indica que a variante possa causar impactos significativos no cenário da pandemia no país. 

“Essa nova variante, uma mistura da Ômicron com a Delta, tem uma prevalência muito pequena e isso sugere que ela não é muito transmissível. O fato de ter poucos casos identificados no mundo é que dá pra falarmos isso”, explica Geraldo Cunha, professor titular da faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e médico infectologista. 

No geral, segundo o especialista, acredita-se que ela é uma variante que não tem produzido formas graves da doença.

Até o momento, foram registrados 47 casos da cepa em todo o mundo, 36 deles só na França.



“Isso é uma questão que nos deixa um pouco mais tranquilos. Ela parece não apresentar grande risco nos rumos atuais da pandemia”, completa. 

Para Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e membro do Comitê de Combate a COVID-19 em Belo Horizonte, a chegada da Deltacron ao Brasil e o surto na China tampouco indicam uma possível nova onda ainda.

“O Brasil está com um cenário um pouco diferente porque ele tem um pouco mais de vacinados e adoecidos que a China”, analisa. 

Para Urbano, ainda é cedo para qualquer tipo de afirmação. “O que pode nos preocupar neste momento é se eventualmente esta nova variante possa suplementar a imunidade gerada por esse grande número de infecções que se confirmaram no início do ano no Brasil”, aponta.

“Ainda precisamos pesquisar e entender a tendência do espalhamento dessa cepa”. 

Medidas de restrição 

Ambos os especialistas acreditam que alguns estados estão se precipitando quanto à flexibilização completa do uso da máscara, acessório essencial na prevenção do contágio.



“Temos municípios completamente desnorteados, como o Rio de Janeiro, que liberou a máscara em todos os lugares. Isso é muito prematuro e muito arriscado”, defende Cunha. 

Para Urbano, a liberação das máscaras em locais abertos é seguro, mas ainda não é o momento de relaxar as medidas em locais fechados.

"O mais importante agora é liberar, se for o caso, somente em locais abertos. Todo o restante ainda é precipitado". 

Em Belo Horizonte, o uso do acessório em locais abertos já é permitido desde o último dia 4. Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), governador do estado, anunciou neste sábado (12/3) que o uso da máscara em locais abertos não é mais obrigatório. 


Europa: quais países registraram aumento no número de casos? 

O Reino Unido fechou o mês de fevereiro com uma média de 46 mil novos casos por dia. Nesta terça-feira (15/3), a média superou os 103 mil. Na Inglaterra, somente nas últimas duas semanas, 623 mil pessoas testaram positivo para a COVID-19. 





Na França, com mais de 800 mil novos casos desde o início do mês, os números também indicam estado de alerta. Além disso, Áustria, Holanda, Grécia, Suíça e Itália registraram aumento no número de casos desde o fim de fevereiro. 

Na Alemanha, o cenário é ainda mais preocupante. Em 15 dias, o país registrou mais de 2 milhões de novos casos. No último dia 28, a média foi de 158 mil diariamente. Ontem, a média de positivos para a doença chegou a 200 mil. 

“Na Europa, e no mundo em geral, as pessoas que não se vacinam estão sujeitas a ter formas graves da doença. O que a gente tem observado, onde você tem parcela da população em que o número de não vacinados é muito grande se torna recorrente estes repiques da doença”, justifica Cunha, ao analisar o cenário da pandemia no continente europeu.



“Esse número de casos tende a aumentar episodicamente, inclusive com casos graves, hospitalizações e mortes”. 

Quanto ao número de internações, o Reino Unido registrou 12 mil no último levantamento publicado pela 'Our World in Data', no dia 6 deste mês. Cerca de 2 mil casos a mais em comparação ao final de fevereiro. 

A Suíça, com 1.600 pessoas internadas, e a Irlanda, com 662, também tiveram alta no número de hospitalizações. Já na França e na Alemanha, apesar do aumento de casos positivos, o número de internações caiu desde o último dia 28.


Ásia: alta nos números preocupa governos 

Na Ásia, os números preocupam governantes, que têm tomado medidas severas para conter o avanço do vírus e impedir nova onda. 



Hong Kong registrou uma média de 21 mil novos casos por dia, um aumento de 28% em relação ao começo de março. 

Na China, 328 mil casos, no total, foram registrados entre 28 de fevereiro e 6 de março, um recorde para o país. O número, no entanto, ainda é menor do que a maioria dos países.

O surto fez com o que o governo chinês colocasse em confinamento cerca de 30 milhões de pessoas, em 13 províncias diferentes. A testagem em massa da população também foi usada como estratégia.