Nos últimos cinco dias, o jornalista Wahby Khalil, 42 anos, viveu uma inversão de papéis. O profissional acostumado a lidar com notícias, acabou, ele, sendo manchetes de noticiários locais e nacionais. Tudo porque, ao tentar resolver uma discordância no condomínio onde mora e é síndico, em Brasília, foi agredido por um morador — o personal Henrique Paulo Sampaio Campos, 49 anos. Ele desferiu um soco em Khalil, que foi ao chão e, com o impacto da queda, desenvolveu um quadro de hemorragia cerebral, que o manteve internado até essa terça-feira (22/3), quando, recebeu alta do Hospital Santa Lúcia.
Na saída da unidade de saúde, Khalil se emocionou e agradeceu à solidariedade recebida. "A única coisa que há dentro de mim é agradecimento: quero agradecer a Deus por ter me dado uma segunda chance, aos amigos do hospital, à imprensa na qual trabalho há 20 anos. A princípio, tenho que pensar na minha saúde: tive uma hemorragia cerebral, que ainda precisa de cuidados", afirmou.
A barbárie sofrida chegou a deixá-lo em estado grave, mas ele prefere focar na felicidade de ter superado o momento mais crítico. "Fizeram-me várias perguntas ao longo do dia, se eu saberia como seguirão os processos (em relação ao agressor), mas, no primeiro momento, não sei sobre nada, o que eu sei é que eu quero viver", falou Khalil às lágrimas.
Mesmo recebendo alta, ele precisará passar por tratamentos para se recuperar das sequelas. "Continuo o acompanhamento com os neurologistas, até porque o sangramento não estancou totalmente. Vou precisar de tomografia e ver como está o andamento da parte neurológica. Da parte bucal, eu passei por uma cirurgia, perdi um dente, e na parte superior dos dentes está com uma amarração, então, eu continuo fazendo esse tratamento, para não correr algum risco de infecção. Estou indo para a casa da minha mãe, porque eu preciso dessa recuperação, então, não tenho condições físicas de estar morando sozinho, então vou precisar da ajuda dos meus familiares", explicou.
Antecedentes
Ao Correio Braziliense, ele lembrou os momentos que antecederam a agressão. O problema, causado por um saco de pancadas para o condomínio, não era uma novidade. "A gente já tinha trocado um papo antes sobre isso. Ele disse que o saco estava ruim da maneira que estava instalado. Na verdade, o equipamento pertence ao condomínio, e na gestão anterior trocaram o saco de lugar. O Henrique estava insatisfeito com o pó que caía do gesso, e ele me cobrava uma solução para isso", explicou o síndico.
No último sábado, Khalil retomou a conversa. "Chamei ele para conversar. Uma das soluções era a retirada ou que ele ficasse suspenso numa barra de ferro, mas daquela maneira não teria condições de ficar. Na hora, ele começa a falar um pouco mais exaltado". O síndico conta que após o golpe, ele ficou desorientado e só retornou a si uns 10 minutos após receber atendimento.
A relação com Henrique antes e após o caso era marcada por tensões no condomínio. Sobre um áudio, onde o agressor supostamente relata ter sido provocado, o síndico rebateu: "Eu me pergunto onde, exatamente, ele teria sido provocado. Mas não cabe a mim levantar nenhum tipo de situação — é necessário deixar a situação acontecer e a justiça chegar a essa conclusão, se houve provocação ou não", afirma.
Punição
O subsíndico Marcos Laterza informou que, infelizmente, esperava uma reação extremada de Henrique: "Não é a primeira vez que ele agride alguém aqui, ano passado fui eu, e fiz questão de registrar um boletim de ocorrência. Em breve, vai estar disponível um abaixo-assinado on-line para os síndicos e moradores de Águas Claras pedirem a remoção desse indivíduo", afirmou.
Na esfera criminal, segundo o delegado Alexandre Gratão, da 21ª Delegacia de Polícia, responsável pelo caso, as investigações prosseguem. Henrique foi ouvido na segunda-feira e permaneceu em silêncio com a presença de seu advogado, sendo liberado na sequência.
O jornalista detalhou a revolta da família com o caso. "Sei que vou deixar muita gente com raiva, minha família está muito indignada: principalmente minha mãe. Mas, do fundo do meu coração, embora eu não tenha parado para pensar nisso, eu não carrego mágoa. Não carrego nenhuma dor em relação a essa situação. Pelo contrário: carrego, dentro de mim, a esperança de alguém que errou e que pode fazer o bem, que pode corrigir. Eu acredito muito nas pessoas, e aprendi isso a minha vida inteira", declarou.
*Estagiário sob a supervisão de Juliana Oliveira